A Prevent Senior cumpriu papel fundamental para propagandear o chamado “tratamento precoce” contra a COVID-19 no YouTube, concluem pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo o estudo "Ciência, política e desinformação no Brasil durante a pandemia da COVID-19: a difusão do 'tratamento precoce no YouTube", oito vídeos com citação direta à operadora de saúde, postados em abril de 2020, foram peça-chave para consolidar o termo “tratamento precoce” na sociedade.
Os vídeos repercutiam um estudo da Prevent Senior sobre a contribuição do consumo da hidroxicloroquina nos primeiros dias de sintomas da COVID-19, sobretudo no segundo dia.
Esses vídeos, juntos, somam 443 mil visualizações no YouTube.
Cinco dos oito vídeos foram postados em canais de veículos da imprensa profissional:
- dois da Rádio Bandeirantes (entrevistas com o CEO da Prevent Senior, Fernando Parrilo)
- um da TV Record (entrevista com a médica Nise Yamaguchi, integrante do gabinete paralelo)
- um do Uol (podcast com o médico Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da Prevent)
- um da TV GGN (entrevista com o pesquisador Rodrigo Esper, diretor da Prevent).
Outros dois vídeos fundamentais, elencados pelo estudo da UFRJ, são uma entrevista com os médicos Pedro Batista Júnior e Nise Yamaguchi no Canal Crítica Nacional; e outra gravação com Pedro e Nise no Canal Meire Yamaguchi.
Há, ainda, outro vídeo compartilhado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), hoje excluído pelo YouTube, mas ainda disponível no Facebook.
Resultados em números
No total, os pesquisadores localizaram 785 vídeos entre março de 2020 e maio de 2021 com o “tratamento precoce” como pauta. Eles os dividiram em três classificações: os favoráveis ao procedimento sem comprovação científica contra a COVID-19; os contrários; e os neutros.Entre aqueles com mais de 130 mil visualizações, portanto tiveram grande capilaridade no YouTube, estão 135 conteúdos: 91 a favor, 30 contra e 14 neutros.
Entre os 91 favoráveis a remédios como a cloroquina e a ivermectina no combate ao coronavírus, três passaram de 1 milhão de visualizações, portanto tiveram grande impacto nos usuários.
- Um da operadora de saúde Grupo Viver Bem
- Um do programa “Os Pingos nos Is”, da Rádio Jovem Pan
- Um do canal do jornal mineiro O Tempo, durante o programa Alerta Super, ancorado pelo apresentador Ricardo Sapia
“Dentre os vídeos com mais de 500 mil visualizações, 15 no total, destacam-se canais da imprensa profissional, clínicas médicas, convênios operadoras de saúde, o canal do Ministério da Saúde, canais de especialistas como o da Lucy Kerr”, informam os pesquisadores.
A pesquisa
O relatório faz parte do laboratório Conexões do Clima, vinculado ao Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.Criado em novembro de 2020 e composto de especialistas de diversas disciplinas da Universidade (Biologia, Comunicação, Filosofia, História, entre outras), o laboratório tem a proposta de “evidenciar questões que giram em torno dos debates sobre clima” e “discutir a relação entre ciência e sociedade, e, mais especificamente, a desinformação”.
Os cientistas Fernanda Bruno, Isabela Kalil e Tatiana Roque assinam o estudo. A empresa especializada Novelo Data os apoiou no download e pesquisa dos conteúdos.