Jornal Estado de Minas

INVESTIGAÇÃO

Alvo de CPI, Cemig contratou empresa de gestão de crise por R$ 420 mil

Investigada pela Assembleia Legislativa (ALMG) em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) contratou, por R$ 420 mil, uma empresa de comunicação corporativa e gestão de crise. O acordo com a Giusti, sediada em São Paulo (SP), despertou dúvidas em deputados que compõem o comitê de investigação.



Agora, há quem queira entender se a estatal firmou o acordo para preparar os funcionários que têm dado depoimentos aos parlamentares para tratar de possíveis irregularidades na gestão da companhia.

O contrato com a Giusti tem duração de seis meses. Assinado em 23 de setembro deste ano, o acordo consta na edição do último sábado (1/10) do Diário Oficial do estado. Segundo o documento, conferido pelo Estado de Minas, a consultoria foi chamada para "serviços de assessoria especializada em comunicação corporativa e prevenção/gestão de crise".

A justificativa, porém, não satisfez o vice-presidente e subrelator da CPI, Professor Cleiton (PSB). Ele pretende propor aos colegas a convocação do dono da Giusti para depor aos deputados.

"Esse acordo trouxe a suspeita dos deputados de que houve a contratação de uma empresa de media training para preparar os depoentes que estão indo à CPI", diz ele.

Durante as sessões, Cleiton tem questionado alguns depoentes sobre o contato com profissionais que dão treinamentos para entrevistas e outros tipos de falas em público.

Em agosto, ainda antes do trato com a Giusti e quando a CPI dava os primeiros passos, Rômulo Provetti, gerente de Provimento e Desenvolvimento Pessoal da Cemig, foi perguntado sobre a hipotética utilização de media training. "Não posso falar isso", respondeu ele.



Procurada pela reportagem, a Cemig negou que a Giusti tenha sido contratada para preparar os depoentes. Segundo a empresa, a empresa atua no "assessoramento de gestão de imagem". Além da CPI, investigações do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) sobre ilicitudes no setor de compras e suprimentos da empresa motivaram o acordo. A crise hídrica vivida pelo país também influenciou na contratação.

A Giusti também refutou a hipótese de fornecer serviços de media training.

Leia os posicionamentos das empresas ao fim deste texto
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Entenda a CPI


Desde o início do governo de Romeu Zema (Novo), a Cemig está no centro da apuração dos deputados. Eles buscam entender uma série de questões, como a assinatura de contratos sem licitação e a venda de subsidiárias da empresa. Uma suposta interferência do partido de Zema na Cemig também é investigada pelos parlamentares.

A CPI está prevista para terminar em novembro mas, conforme apurou o EM, deputados pensam em estendê-la até o fim do ano. Para isso, a maioria simples dos 77 parlamentares estaduais precisa estar de acordo. A avaliação é que a comissão ainda trabalha em questões ligadas à fase inicial das atividades, examinando contratos firmados sem concorrência.



Depois, vai ser discutida a contratação de empreiteiras terceirizadas. A já citada venda das subsidiárias compõe a terceira etapa.

O que diz a Cemig sobre a contratação da Giusti:


A Cemig contratou a Giusti Comunicação para o assessoramento de gestão de imagem em função da crise hídrica e das investigações no Ministério Público de Minas Gerais e na Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais.

O processo de comunicação e a prevenção e gestão de crises têm como objetivo preservar a reputação dos negócios da Cemig e exigem um acompanhamento permanente, a sugestão de ações e a elaboração de um Plano de Comunicação para preservar a imagem da companhia.

O escopo do contrato prevê apenas a "prestação de serviços de assessoria especializada em comunicação corporativa e prevenção/gestão de crise", referindo-se a eventuais riscos de crise de imagem gerada pelos episódios citados. No escopo do contrato não está incluso media training.

O que diz a Giusti sobre os serviços feitos à Cemig:


A Giusti Comunicação foi contratada pela Cemig Distribuição S/A para o acompanhamento da gestão da crise energética, de crises de imagem e a elaboração de um Plano de Comunicação para seus enfrentamentos.

No escopo do contrato não há qualquer previsão de trabalho de media training, somente a prestação de "serviços de assessoria especializada em comunicação corporativa e prevenção/gestão de crise".