O principal problema do Brasil, na visão da população mineira, é a corrupção. O desvio de recursos financeiros foi eleito o grande vilão do país por 22% dos participantes de pesquisa feita pelo Instituto Opus em parceria com o Estado de Minas. Na segunda posição, está a dificuldade para a geração de empregos, citada por 15%. Em nível estadual, as barreiras para a entrada no mercado de trabalho foram, justamente, os obstáculos mais mencionados, correspondendo a 17% das respostas. Questões relacionadas à saúde pública estiveram na “ponta da língua” de outros 15%. (Veja os índices completos nos quadros ao lado)
Apesar de liderar a pesquisa que trata dos problemas nacionais, a corrupção ocupa o quarto lugar no levantamento que trata das dificuldades de Minas Gerais, com 7%, empatada com inflação e custo de vida. À frente, estão desigualdade, pobreza e fome, compiladas em tópico único (8%). Em termos nacionais, além dos casos de corrupção e do desemprego, as primeiras posições estão com políticos e administração pública (13%), desigualdade e pobreza (12%) e saúde (9%).
Dona da maior fatia das menções, a corrupção “assombra” o debate dos brasileiros há muito tempo. O tema ganhou força com escândalos como o “Mensalão” e o “Petrolão”. Jair Bolsonaro (sem partido) foi eleito presidente sob a promessa de extirpar ilicitudes, mas seu governo está no centro de investigações sobre irregularidades na compra de vacinas antiCOVID-19. O suposto desvio de verbas dos gabinetes de alguns de seus filhos também é alvo das autoridades.
“Existe, na cabeça e na opinião dos eleitores mineiros, (a percepção) de que ainda há alto grau de corrupção e coisas erradas sendo feitas pela administração pública no Brasil. Em Minas Gerais, não tivemos esse número de escândalos que acometeram as administrações federais nos últimos dez anos. Hoje, aqui, os problemas não passam tanto por escândalos”, diz Matheus Dias, diretor do Instituto Opus.
Em solo mineiro, o problema da geração de empregos vai ao encontro das dificuldades econômicas relatadas pelos entrevistados. Prova disso é que 74% dos participantes relataram diminuição no consumo de carne vermelha — 84% dos que precisam ingerir menos alimentos do tipo ganham até dois salários mínimos — fixado em R$ 1,1 mil — ao mês. A queda na renda familiar atingiu 61% das pessoas e o aumento dos combustíveis fez 66% deixarem os veículos na garagem por mais tempo.
Segundo Matheus Dias, os cortes no consumo de carne e nos salários, somados ao crescimento do custo da gasolina, são decisivos para colocar os problemas econômicos no topo da dificuldade em nível estadual. “Tudo isso reflete na percepção dos mineiros sobre a própria capacidade financeira, a geração de empregos e outras questões (econômicas)”.
Contas públicas
Na lista dos problemas de Minas Gerais, educação (7%) e políticos (6%) aparecem com destaque. Quem também ganhou cartaz foi o déficit das contas públicas, mencionado por 5% dos entrevistados. A crise fiscal do estado impediu que os salários do funcionalismo fossem pagos em dia entre janeiro de 2016 e julho deste ano. Agosto representou a volta do pagamento de todos os vencimentos na data correta, sem parcelamento.
O número de alusões aos problemas financeiros vividos por mineiros foi destacado pelo diretor do Instituto Opus. “O tema contas públicas não faz parte da rotina diária da grande maioria dos mineiros. Cinco por cento dos entrevistados falarem isso de maneira espontânea mostra que existe amadurecimento desse debate, pelo menos no nível de administração estadual, e que as pessoas entendem a importância disso”.
O governo de Romeu Zema (Novo) busca alternativas para minimizar a crise fiscal. No ano passado, conseguiu aprovar, na Assembleia Legislativa, uma reforma previdenciária. O texto, muito criticado por servidores e parlamentares de oposição pela retirada de direitos, previa, segundo cálculos apresentados à época da apresentação da proposta, que a economia poderia ultrapassar R$ 32 bilhões em 10 anos.
Agora, o poder Executivo busca a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) do governo federal. A entrada no programa também depende de aval do Legislativo. Enquanto o Palácio Tiradentes aposta no tema para resolver a dívida com a União, que ultrapassa R$ 130 bilhões, deputados antagônicos a Zema temem o RRF pelas contrapartidas que podem “travar” políticas públicas para áreas como saúde e educação.
Rejeição ao STF
Embora o brasileiro tenha testemunhado, nos últimos tempos, uma série de ataques de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Corte foi apontada como o problema máximo do país por apenas 1% dos entrevistados. O Judiciário foi menos citado que tópicos a pandemia (3%) e o comportamento dos brasileiros (2%).
O levantamento foi feito de forma espontânea, e os participantes puderam opinar livremente, sem opções preestabelecidas pelos pesquisadores. A pesquisa Opus/EM entrevistou mil eleitores via ligação telefônica, espalhados por 273 cidades do estado. O levantamento foi feito entre 27 e 30 de setembro. A margem de erro é de 3,2%, e o intervalo de confiança é de 95%.