Jornal Estado de Minas

ministério público

Lira adia votação de PEC que muda composição do MP por falta de consenso


Brasília – O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 5/21, que muda a composição do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), se aprovada, pode representar ''o fim da impunidade em um órgão muito forte''. Alvo de protestos de promotores e procuradores, o texto, entre outras mudanças, amplia de 14 para 15 o número de integrantes do colegiado e aumenta de duas para quatro as indicações que Câmara e Senado podem fazer para o órgão. O Ministério Público perde uma.



Lira afirmou que a PEC  será votada na próxima terça-feira. A discussão do texto da PEC 5/21 foi concluída ontem à tarde e, em seguida, a sessão deliberativa virtual do plenário foi encerrada. ''Esta presidência informa que nós hoje terminaríamos a discussão da matéria e marcaríamos a votação para a terça-feira, um dia mais adequado, com o plenário mais completo para facilitar a discussão, tornando-a mais democrática”, disse.

Havia expectativa de que o texto fosse votado no plenário ontem, o que não se confirmou em razão da falta de consenso entre os deputados. A análise da matéria já havia sido adiada na semana passada. Como se trata de uma PEC, precisa ser discutida e votada em dois turnos em cada Casa do Congresso e será aprovada se obtiver, na Câmara e no Senado, três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49).

A proposta foi apresentada pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Uma comissão especial da Câmara aprovou, na semana passada, parecer favorável do relator, Paulo Magalhães (PSD-BA), que ampliou as mudanças na composição e no funcionamento do CNMP, órgão responsável por fiscalizar a conduta de promotores e procuradores.



Lira saiu em defesa da PEC ontem, mesmo dia em que promotores e procuradores iniciaram, em 18 estados, uma série de atos de repúdio à proposta. A categoria considera que o texto enfraquece o MP e fere a independência funcional de seus membros, com sérios prejuízos às investigações. Entre outros pontos controversos, a PEC dá ao Congresso o poder de escolher o vice-presidente do CNMP, que passaria a acumular a função de corregedor nacional do MP — autoridade responsável pela condução de processos disciplinares contra promotores e procuradores. Atualmente, o vice-presidente do CNMP é o vice-procurador-geral da República, e o corregedor é eleito pelos conselheiros.

A PEC também dá ao conselho o poder de rever e mudar decisões de integrantes do MP, inclusive em investigações. Conforme o texto, isso ocorrerá quando for comprovada a utilização do cargo para fins de interferência na ordem pública e política, na organização interna e na independência das instituições e dos órgãos constitucionais. Para promotores e procuradores, o dispositivo representa uma interferência na atuação dos integrantes do MP.

Para Lira, há muitas versões sobre a PEC criadas por integrantes do Ministério Público. O deputado disse que um dos objetivos da proposta é fazer com que a sociedade civil consiga maior participação no CNMP, pois, segundo ele, o órgão não tem funcionado para punir seus membros.




''São questões que serão decididas com transparência, mas pode ser a PEC do fim da impunidade de um órgão muito forte. Hoje, nenhum membro do MP responde por improbidade. É importante um conselho forte, com presença, para que tenhamos transparência'', disse Lira à rádio CNN.

REJEIÇÃO Além de protestos, promotores e procuradores têm recorrido a deputados na tentativa de convencê-los a não aprovar as mudanças. Também discutem a possibilidade de judicialização no STF, para reverter eventual desequilíbrio no CNMP pela maior interferência do Congresso. Um dos argumentos é o da paridade entre o CNMP e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ambos criados em 2004 pela mesma legislação.

Em outra frente de pressão, a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), a Associação Nacional dos Procuradores e das Procuradoras do Trabalho (ANPT), a Associação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (AMPDFT) e a Associação Nacional do Ministério Público Militar (ANMPM) emitiram nota conjunta para ''manifestar a irresignação com os pontos que consideram mais graves, seja pela indesejável interferência nas atividades finalísticas, seja pela afronta à autonomia institucional e à independência funcional de seus integrantes''.



Além disso, quase 3 mil integrantes do MP assinaram nota em que pedem a rejeição integral da PEC. O documento não está vinculado a nenhuma entidade de classe e partiu de promotores de São Paulo. 

No texto, eles afirmam que a proposta altera a espinha dorsal do modelo constitucional do MP, sem a qual a instituição não pode atuar como defensora do Estado constitucional de direito.
Também por nota, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) manifestou ''profunda preocupação'' com a PEC. A instituição destacou que “ataques ou tentativas de controle indevidas” no Ministério Público “devem ser repelidas de imediato e com veemência pela sociedade”. (Com agências)

MUDANÇAS NO mp

A proposta afeta a composição do colegiado e a própria função do órgão

Aumento de assentos no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) reservados a indicações alternadas da Câmara e do Senado, que passam de dois para quatro, ampliando a influência externa no Ministério Público

Membro indicado pelo Congresso passa a ser, também, o vice-presidente do CNMP

CNMP ganha poder de rever atos privativos de membros da instituição, podendo, inclusive, anular portarias para instauração de investigações

Congelamento de prazos prescricionais de infrações até a decisão final sobre a conduta do procurador ou promotor

Corregedor nacional não precisará mais ser eleito entre os membros do Ministério Público

CNMP deverá criar um Código Nacional de Ética e Disciplina para guiar a conduta de membros da instituição no prazo de 120 dias após aprovação da reforma

Conselhos superiores dos ministérios públicos estaduais, que hoje são eleitos pela classe, passam a ser compostos por integrantes indicados diretamente pelo procurador-geral de Justiça do estado

audima