Considerada crucial para o controle das mudanças climáticas, a COP-26, Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, que começa no fim de outubro, em Glasgow, Reino Unido, será uma chance para o Brasil tentar reverter a imagem negativa em termos ambientais frisada desde o início do governo Bolsonaro. Para especialistas, se o Brasil quer ter chances de sair bem-sucedido precisa dar demonstrações concretas de que está comprometido com a preservação ambiental.
Na conferência em 2019, o Brasil, representado pelo então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, ficou marcado como um dos países que se opuseram a metas mais ambiciosas e foi visto, por membros da sociedade civil, até como um dos vilões da COP-25. Agora, diante de um planeta cada vez mais quente, tanto o Brasil como outras nações precisam agir e são cobrados pelas ações adiadas contra o aquecimento global, que ficaram para 2020.
Desde então, o país trocou de ministro do Meio Ambiente e agora, comandado por Joaquim Leite, tem o desafio de levar à COP-26 ações concretas para enfrentar um novo teste de relações internacionais. O novo ministro promete que o país terá “posição de destaque” e “trabalhará para promover o crescimento verde”. Entre os preparativos estão reuniões com diversos embaixadores para promover o que Leite chama de “Brasil real”. “Será uma grande oportunidade para mostrarmos o Brasil real, que é o Brasil que cuida de suas florestas ao mesmo tempo em que promove o emprego verde”, defendeu.
No entanto, a realidade ambiental do país, que sofre com recordes de queimadas e desmatamento, e as políticas públicas não dão sustentação ao discurso da comitiva brasileira que irá a Glasgow. Para reverter, é preciso ações práticas e metas contundentes. Para o diretor do Instituto Escolhas, Sérgio Leitão, se o Brasil quer ter chances de ser bem-sucedido na conferência, ou “ele dá passos e demonstrações concretas ou ele vai ficar apenas fazendo um papel feio de ficar dizendo que a culpa do que acontece no Brasil não é de quem desmata a floresta, e sim de quem nem sequer mora no país”.
“O Brasil se comprometeu a ter uma redução de 43% nas emissões de carbono, de 2005 a 2030, porém essa meta é considerada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) insuficiente para que o Brasil faça a diferença. Ou seja, além de não estarmos fazendo nada dentro daquilo que assumimos como compromisso, que seriam os 43% de redução, se quisermos, realmente, fazer a diferença, de acordo com o IPCC, o Brasil precisa aumentar sua meta para 50% de redução e fazê-lo em termos de redução absoluta, porque o Brasil tirou do documento que vai ser levado para a Escócia exatamente a previsão de que essa redução se faça em caráter absoluto”, finalizou Leitão.
Para o diretor-executivo do Instituto Global Attitude, representante da sociedade civil na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, Rodrigo Reis, a postura do Brasil na COP-26 será ainda um teste no cenário diplomático. “A presença do Brasil na COP-26 não vai ser somente relacionada a clima. Eu acredito que será, de certa maneira, um teste de relações internacionais para ver como o Brasil vai se posicionar, neste momento, num palco multilateral”, concluiu. (Com Gabriela Chabalgoity)