Ainda sem anunciar sua pré-candidatura, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro deve ter sua filiação ao Podemos sacramentada no dia 10 de novembro. O Podemos já prepara a solenidade que deverá acontecer em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, e deve se repetir em mais duas capitais posteriormente: São Paulo e Curitiba.
Oficialmente, o assunto ainda é tratado com reserva por Moro e pelo partido, já que o ex-juiz tem seu contrato de consultor com Alvarez & Marsal ainda em vigência. Com seu término, no fim de outubro, o movimento político de Moro poderá ser deflagrado e oficializado.
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Kassab 'anuncia', mas Pacheco diz que 2022 será pauta 'no momento certo'Kalil festeja ida de Pacheco ao PSD: 'Seria grande nome para a presidência'Em seu artigo semanal publicado na revista Crusoé, Moro já adotou um tom de preocupação com a crise econômica e com as manobras do governo para driblar o teto fiscal e bancar o Auxílio Brasil.
"Em meu artigo na Crusoé, destaco a relação entre os retrocessos no combate à corrupção e a disparada da inflação. Com uma agenda pública focada em interesses pessoais e não no bem comum, é impossível conciliar estabilidade econômica com avanços sociais", disse Moro hoje nas suas redes sociais.
No artigo, o ex-ministro fala claramente sobre sua preocupação com a ameaça à política fiscal que vem sendo feita pelo governo Bolsonaro.
"Se a política fiscal perde a credibilidade, a consequência imediata é o aumento dos juros e a elevação da inflação, medidas que afetam a todos indistintamente, mas que inegavelmente atingem mais fortemente as camadas mais pobres da população, que não têm mecanismos de proteção contra juros e inflação elevadas. O governo dá com uma mão, que é normalmente ineficiente, e tira com a outra, essa implacavelmente eficaz. O que se demanda é diminuir os desperdícios, realocar despesas e focar políticas sociais no que é prioritário, além de torná-las eficientes. Controlar a inflação, como se fez com o Plano Real, assim como prevenir e combater a corrupção, como seções durante a Lava Jato, são conquistas civilizatórias", escreveu.
No fim de setembro, Moro veio ao Brasil justamente para ter "conversas políticas" e tratar da possibilidade de participar da disputa eleitoral. A primeira conversa foi justamente com a cúpula do Podemos, em Curitiba, numa reunião feita na casa do senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), com a presença da presidente nacional do partido, a deputada federal Renata Abreu, e os senadores Álvaro Dias e Flávio Arns. Moro escutou da cúpula do Podemos que a legenda estava de portas abertas para acolher qualquer projeto político do qual ele quisesse participar.
Em São Paulo, Moro também se encontrou com outros dois nomes do campo da chamada terceira via. Num jantar, se reuniu com o governador de São Paulo, João Doria, e com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Bastante próximos desde que começou a costura de um projeto político de oposição a Bolsonaro e Lula, os três conversaram sobre o cenário político nacional e deixaram aberta a possibilidade de trabalharem juntos por esse projeto. Apesar disso, entre os aliados de Doria existe a dúvida se Moro está realmente disposto a concorrer ao Planalto ou se prefere ocupar um espaço político diferente, com menos desgastes, concorrendo a uma vaga para o Senado.
Desde sua ida para os Estados Unidos, no ano passado, Moro diminuiu um pouco sua exposição. Também sofreu um forte desgaste depois que o Supremo Tribunal Federal considerou sua atuação no julgamento de Lula foi parcial. Apesar desse desgaste - que foi reforçado também pela passagem turbulenta pelo ministério de Bolsonaro - Moro é visto pelo Podemos com grande potencial de crescimento eleitoral nas pesquisas. Para o partido, ele pode se transformar na melhor opção contra a polarização já que está claramente em oposição aos dois políticos.
Na mais recente pesquisa feita pelo IPEC, em 22 de setembro, Moro foi incluído apenas em um dos cenários, que tem mais nomes que correm também no campo da terceira via. Neste cenário, ele aparece com 5%, atrás de Lula (45%), Bolsonaro (22%), e Ciro Gomes (6%), mas a frente de José Luiz Datena (3%) e Doria (2%).