A menos de um ano das eleições para o Palácio do Planalto, dois candidatos se somam à lista de opções da chamada terceira via, que busca um nome forte contra a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ontem, o PSD lançou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como candidato da legenda, embora ele ainda não tenha aceitado a indicação. Evento de filiação dele está previsto para esta quarta-feira. O ex-juiz da Operação Lava-Jato e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, por sua vez, se aproxima do Podemos, que deseja vê-lo na disputa em nome do partido e deve sacramentar sua filiação em 10 de novembro. Eles ampliam para 11 o leque de postulantes à presidência.
Além de Pacheco e Moro, compõe a ala dos concorrentes à terceira via, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB-RS), o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB-AM), Ciro Gomes (PDT-SP), o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), o jornalista e apresentador José Luiz Datena (PSL) e o cientista político e fundador do Centro de Liderança Pública (CLP) Luiz Felipe d’Avila (Novo).
No entanto, na visão do cientista político André Rosa, a quantidade de concorrentes não representa necessariamente um risco ao projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, por provocar a pulverização de candidaturas e a dificuldade de coalizão. Ele aponta que Pacheco ainda não é um nome consolidado nacionalmente e caso Moro decida concorrer, ainda enfrenta o maior representante da direita, fiel a Bolsonaro.
“Não acho que a terceira via seja uma ameaça neste momento. Nenhum dos candidatos está consolidado em relação a Lula e Bolsonaro. Pelo contrário, dá um pouco mais de combustível, pois divide os votos e dá tranquilidade para os dois seguirem na polarização.” André Rosa explica que a tendência dos partidos é lançar vários postulantes para servir como uma espécie de termômetro político eleitoral. No entanto, se houver uma convergência em torno de um nome, isso deverá ocorrer a partir de abril.
“Teremos uma visualização melhor desse quadro a partir do ano que vem. Mas se não se entenderem, melhor para Bolsonaro e Lula. Até lá, ainda está indefinido, mas a sociedade não tem conhecimento sobre Pacheco, que é conhecido regionalmente, em Minas Gerais. Mas essa movimentação vai servir como base de sustentação para ele decidir se tentará a reeleição no Senado ou escolherá voos maiores, como na presidência. É a construção de uma persona eleitoral”, observou. O especialista ressalta ainda que também não vê possibilidade para Moro no quadro atual. “Só se Bolsonaro saísse”, apontou.
Outra linha de ação contra Bolsonaro e Lula, a definição do pré-candidato do PSDB deve ser tomada em novembro nas prévias da agremiação. O PSDB é força fundamental que move o espectro de centro, composto por nove legendas. Difícil ainda contar com o PDT, uma vez que Ciro Gomes segue irredutível em sua campanha ao Palácio do Planalto. Em seu primeiro mandato como senador, Alessandro Vieira, do Cidadania, se tornou pré-candidato da sigla, com o destaque que conquistou na CPI da COVID. É também fervoroso crítico do presidente.
Indefinido
O Podemos prepara solenidade em Brasília, São Paulo e Curitiba para receber a filiação, em 10 de novembro, do ex-ministro da Justiçca Sergio Moro. Porém, a pretensão do ex-juiz da Operação Lava-Jato não está clara — não se sabe se ele é pré-candidato à Presidência da República, como vêm destacando as pesquisas de opinião, ou se tentará uma cadeira no Poder Legislativo.
O assunto ainda é tratado com reserva por Moro e pelo Podemos, pois o ex-ministro tem contrato de consultoria com o escritório Alvarez & Marsal, de gerenciamento e compliance de empresas, ainda em vigência. A relação profissional de Moro com a empresa termina no fim deste mês, o que significa que seu movimento político poderá ser explicitado.
O Podemos deseja que ele lidere o projeto eleitoral de terceira via contra o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas Moro também tem no radar a possibilidade de concorrer a uma vaga no Senado, caso não deseje entrar na disputa pelo Planalto. Nesse caso, ele poderia se candidatar pelo Paraná ou por São Paulo. (Colaboraram Cristiane Noberto e Luana Patriolino).
Base de apoio é questão complexa para as siglas
Na avaliação do cientista político Leonardo Queiroz Leite, doutor em administração pública e governo pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), o ex-ministro não se ajuda muito como candidato. “Moro tem dado sinais contraditórios sobre a sua candidatura. Não assume dizer que é candidato, mas também não nega”, observa, dando a entender que, caso decida entrar na corrida ao Planalto, o ex-juiz terá dificuldades em construir coligações.
“Quem se aliaria a Moro? Quem seria base de apoio?”, indaga. Para o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, apesar das dificuldades, Moro ainda tem simpatia de parte do eleitorado. “O nome dele ganhou uma projeção nacional, então, é natural que a candidatura seja forte. Mas tem alguns problemas: o primeiro é o eleitorado consolidado de Lula e de Bolsonaro. O segundo é que tem muitos nomes se colocando como alternativa, como o Ciro Gomes e Rodrigo Pacheco, sem falar da fusão do DEM com o PSL, no União Brasil”, explicou.
Pavimentação
Moro começou a pavimentar a candidatura a um cargo eletivo em setembro, quando veio ao Brasil para tratar da possibilidade de participar da disputa eleitoral. O primeiro contato foi com a cúpula do Podemos, em Curitiba, numa reunião na casa do senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), com a presença da presidente nacional do partido, a deputada federal Renata Abreu, e dos senadores Álvaro Dias e Flávio Arns. Em São Paulo, Moro também se encontrou com outros dois nomes da chamada terceira via. Num jantar, se reuniu com o governador de São Paulo, João Doria, e com o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
Na mais recente sondagem do IPeC Pesquisas, em 22 de setembro, Moro foi incluído apenas em um dos cenários, que tem mais nomes que correm também no campo da terceira via. Nessa faixa, ele aparece com 5%, atrás de Lula (45%, PT), Bolsonaro (22%, sem partido) e Ciro Gomes (6%, PDT), mas à frente de José Luiz Datena (3%, PSL) e Doria (2%, PSDB). Apesar do desgaste de Moro — foi declarado parcial pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento de Lula e acumula o ônus da passagem turbulenta pelo Ministério da Justiça —, para o Podemos ele pode se converter na melhor opção contra a polarização, pois está claramente em oposição a Bolsonaro e ao petista.