Um grupo de deputados do PSOL e do PDT apresentou ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira, 25, uma notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro em razão da live em que o chefe do Executivo espalhou desinformação ao dizer que pessoas que tomaram duas doses da vacina contra o novo coronavírus no Reino Unido estão desenvolvendo Aids. A afirmação mentirosa foi desmentida por cientistas de todo o mundo. O vídeo foi retirado do ar pelo Facebook e pelo Instagram.
Os parlamentares imputam a Bolsonaro supostos crimes de infração de medida sanitária preventiva e expor a vida ou a saúde de outra pessoa a perigo direto e iminente. Além disso, acusam o presidente de violar o princípio da moralidade, previsto na Constituição Federal, e incorrer em improbidade administrativa e crime de responsabilidade.
Leia Mais
CPI deve incluir em relatório fala de Bolsonaro associando vacina e AIDSGoverno Bolsonaro: TVs católicas e evangélicas recebem 40% das licençasYouTube apaga live de Bolsonaro dos canais de Carlos e de programa de rádioMaduro chama Bolsonaro de 'imbecil' e ' palhaço' por associar vacina à AidsLive de Bolsonaro com mentira sobre vacina é removida pelo YouTubeNa avaliação dos deputados, a insinuação de Bolsonaro 'é falsa e faz parte de uma articulação sistemática do presidente e seus aliados para propagação de fake news', sendo apenas 'mais um caso, entre tantos dos ataques do presidente contra as normas internacionais de proteção contra a COVID'.
A notícia-crime é assinada por Talíria Petrone, Fernanda Melchionna, Ivan Valente, Viviane da Costa Reis, Áurea Carolina de Freitas e Silva, David Michael dos Santos Miranda, Luiza Erundida, Glauber de Medeiros Braga, Sâmia Bomfim e Túlio Gadêlha.
"Sem amparo em medidas científicas e contrariando autoridades sanitárias nacionais e internacionais, a postura irresponsável, mentirosa e criminosa do Presidente da República tem colocado a população brasileira cada vez mais em risco. Todos esses fatos trazidos à baila deixam claro que há em curso um amplo e sistemático modelo de disseminação de fake news que, aliado ao recrudescimento autoritário, tem graves consequências para a democracia brasileira e que coloca em risco a vida da população", sustentam.
A peça de desinformação sobre a vacina contra a COVID-19 e a Aids foi reproduzida por Bolsonaro um dia depois da leitura do relatório final da CPI da COVID no Senado. O documento pede o indiciamento do presidente em função de sua condução durante a pandemia de COVID-19.
Como mostrou o Estadão, a 'fake news' que relaciona vacinas com o desenvolvimento da doença já era conhecida a ponto de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter reforçado a importância de portadores de HIV serem imunizados contra a COVID-19. Mas propagação da mentira no momento em que o Brasil atinge mais da metade de sua população com a vacinação completa gerou revolta e críticas entre cientistas nas redes sociais.
Por meio de nota, o Comitê de HIV/aids da Sociedade Brasileira de Infectologia afirmou que não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a COVID-19 e o desenvolvimento de síndrome da imunodeficiência adquirida, e repudiou "toda e qualquer notícia falsa que circule e faça menção a esta associação inexistente".