Do juiz reservado até político em ascensão. Sérgio Moro se filiou nesta quarta-feira (10/11) ao Podemos e deixou no ar a possibilidade de se tornar candidato nas eleições presidenciais de 2022. Mas afinal, como o juiz que jurava que nunca seria político, se tornou um possível presidenciável?
Moro ficou conhecido por comandar, entre março de 2014 a novembro de 2018, em primeira instância, os processos relacionados aos crimes identificados na Operação Lava-Jato, envolvendo grande número de políticos, empreiteiros e empresas.
Com o passar do tempo e a popularidade da força-tarefa, o então juiz acabou se tornando rosto da onda nacional anticorrupção e anti-petista. Milhares de pessoas saíram às ruas vestidas com camisetas com o seu rosto pedindo reformas políticas e o fim da corrupção no Brasil.
Esses foram os primeiros passos para a retomada do nacionalismo no país, que elegeu posteriormente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Vestidas de verde e amarelo, simpatizantes do juiz e do novo presidente marchavam nas ruas contra o governo petista.
Em meio a tanta popularidade, Moro jurava que nunca seria candidato a cargos políticos. Reservado, evitava dar entrevistas e aparecer na frente dos holofotes. Sua primeira entrevista foi apenas em 2016, quando ele defendeu a limitação do foro privilegiado aos presidentes dos três poderes.
Em 2017, Moro condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), decisão posteriormente anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento de um habeas corpus, em 23 de março de 2021. A Segunda Turma da Corte considerou que Moro atuou com parcialidade em relação ao ex-presidente Lula.
Relação com Bolsonaro
O petista acusava o então juiz de perseguição. Com os ataques de ambos os lados, o Brasil se deparou com uma polarização política que se arrasta até hoje. De um lado, Lula dizia ser inocente de todas as acusações apontadas pela Lava-Jato e de outro, Moro levantava a bandeira anticorrupção.
Como o ex-juiz não pensava em ser candidato, a população que concordava com os pensamentos de Moro procurava um líder. Escondido nos interiores da Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro acabou ganhando popularidade por defender as ações da Lava-Jato e ser contra os governos de esquerda.
Em 2018, a campanha presidencial de Bolsonaro teve como uma das bandeiras o combate à corrupção. Muito se especulava na época, caso fosse eleito, Bolsonaro convidaria Moro para integrar seu governo, o que de fato acabou ocorrendo.
Seis meses antes de se tornar ministro da Justiça e da Segurança Pública, Moro foi um dos responsáveis por prender Lula, um dos maiores rivais de Bolsonaro na campanha presidencial, mesmo sem o petista ser o candidato do PT.
Bolsonaro foi eleito em segundo turno com 55,13% dos votos contra 44,8% de Fernando Haddad (PT), substituto do líder petista nas eleições.
Bolsonaro foi eleito em segundo turno com 55,13% dos votos contra 44,8% de Fernando Haddad (PT), substituto do líder petista nas eleições.
Já eleito, Bolsonaro anunciou em outubro de 2018 convidaria Sérgio Moro para ser o futuro ministro da Justiça ou então o indicaria para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Moro aceitou o cargo e compôs a bancada “de ouro” prometida por Bolsonaro na campanha eleitoral.
Briga e saída do governo
Moro era disparadamente o ministro mais popular do governo de Jair Bolsonaro. De acordo com Datafolha, entre regular, bom e ótimo, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública atingiu a marca de 76%. Bolsonaro ficou atrás, com 62% nos mesmos parâmetros.
A avaliação positiva transformou Moro em uma verdadeira “galinha de ovos dourados”. Tendo o ministro ao seu lado, Bolsonaro conseguia o apoio da população.
Apesar de tanta popularidade, nos bastidores, a relação do presidente com seu ministro da Justiça era distante. Por ser considerado "intocável", Moro acabava não discutindo muito com o presidente. Até o dia que se sentiu pressionado.
A briga começou quando o ex-juiz percebeu uma possível interferência de Bolsonaro na Polícia Federal (PF). Se sentiu pressionado pelo presidente para trocar o comando da corporação no Rio de Janeiro, onde o filho 01, o senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), era investigado por suposto esquema de “rachadinhas”.
Rumores de uma demissão de Moro começaram a surgir após o ministro se negar a demitir o superintendente da PF no estado. O ex-juiz, porém, se antecipou e desembarcou do governo.
Moro saiu acusando Bolsonaro e detonando uma verdadeira briga ministerial. O presidente chegou a convocar uma coletiva para negar todas as acusações.
Ida para os Estados Unidos
Com a saída do governo, o agora ex-ministro da Justiça deixou o país. Em meio aos embates com Bolsonaro, ele também se viu alvo de um julgamento no STF, que o considerou parcial nos julgamentos do ex-presidente Lula.
Para fugir novamente dos holofotes, o ex-ministro foi morar nos Estados Unidos. Moro tornou-se sócio-diretor da empresa norte-americana de consultoria Alvarez & Marsal.
Filiação ao Podemos e a terceira via
Agora de volta ao Brasil, Sérgio Moro surge como possível candidato à Presidência do país. Seu ingresso no Podemos, nesta quarta-feira, se dá a pouco menos de um ano das eleições de 2022.
O ex-juiz ainda não anunciou qual cargo vai disputar no ano que vem, mas o evento do partido o anunciou como "futuro presidente da República".
Com um discurso de candidato, Moro sem citar o ex-presidente Lula nem o presidente Bolsonaro, recheou a sua fala de indiretas aos dois políticos.
"Chega de mensalão, petrolão, rachadinha e orçamento", disse ele se referindo aos escândalos de corrupção nos governo do pedista e doa tual presidente.
Disse também que colocou seu nome à disposição para disputar a eleição no ano que vem. "Por um Brasil justo para todos."