Após anunciar a filiação ao Podemos, o ex-juiz Sergio Moro está em intensa articulação de alianças com outros partidos. Nessas conversas há espaço para ex-aliados do presidente Jair Bolsonaro. Só nesta semana, Moro se encontrou com deputados do PSL e com Ovasco Resende e Eurípides Junior, presidentes do Patriotas e do Pros, respectivamente.
Para o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), que se encontrou esta semana com Moro em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro abdicou dos compromissos eleitorais de 2018. "A baixa popularidade [do presidente] é um estrato das políticas públicas a que ele sucumbiu. São compromissos caros às nossas convicções. O Moro tem se apresentado com as pautas de anticorrupção e a gente tem essa sinergia e por isso estamos próximos", conta o parlamentar.
O deputado conta que, nos últimos 50 dias, vem mantendo diálogos com o ex-ministro. De acordo com o parlamentar, Moro teria pedido a ele que acompanhasse os movimentos do MBL na intenção de "avaliar quem são os nossos, para que possa buscar a unidade lá na frente". Bozzela também avalia que o nome do ex-ministro é o que tem mais chances de deslanchar na terceira via.
O colega de legenda, Delegado Waldir (GO), afirma que, ainda que tenha admiração por Jair Bolsonaro, a identificação com Sergio Moro é maior. "Eu tenho um grande carinho e respeito por Bolsonaro, estivemos juntos em 2018. Mas antes do Bolsonaro, eu sou muito fã do Moro. Me identifico com as pautas", conta. "O doutor Sergio Moro é que é para nós um mito, uma pessoa diferenciada e que conseguiu colocar na cadeia condenados por corrupção. Ele está começando a construir um bom projeto", elogia.
O deputado afirma que não rompeu com Bolsonaro. Quando as candidaturas estiverem firmadas, apoiará qualquer um dos candidatos. "Fui eu que trouxe o Bolsonaro para Goiás e convidei o Moro para vir lançar seu livro em Goiânia. Vamos ver o que vai para frente, mas com certeza um dos dois será meu presidente", adianta Delegado Waldir.
Na avaliação de Carlos Pereira, professor da FGV EBAPE, o ex-juiz assimilou o jogo político. "Moro entende que o sistema político brasileiro é multipartidário e que muito dificilmente o presidente [Bolsonaro] terá cadeiras no Parlamento", comenta. "O fato de Moro, logo após sua filiação, começar a conversar com esses partidos, é sinal de maturidade e compreensão. Mostra que ele é competitivo ao ponto de ex-aliados ou pessoas próximas ao presidente já o considerarem como presidenciável", acrescenta.
De acordo com Cristiano Noronha, cientista político da Arko Advice, Moro tem feito movimentos para conquistar o eleitorado que está descontente com o presidente e faz alguns gestos ao eleitorado de centro. "Moro sabe que, para ele crescer nas pesquisas, tem que conquistar grupos importantes do eleitorado. Ao mesmo tempo que acena para essas pessoas, sabe que precisa mandar sinalização forte para o mercado, por isso revelou Affonso Celso Pastore [ex-presidente do Banco Central]. Em seu discurso, Moro passeia por diversos tipos de eleitorado. Mostra que vai ter que falar de outra coisa que não seja apenas de corrupção e Lava-Jato. Adota uma estratégia correta nesse momento, mas não sei se será suficiente", analisa.