Um dia antes das prévias do Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB) para definir o candidato à presidência da República em 2022, os postulantes da disputa preferiram adotar a cordialidade. A trégua foi bem diferente do que se viu nas últimas duas semanas entre os debates oficiais e os das redes sociais. Nos bastidores, os três candidatos na corrida tucana - os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), além do ex-senador Arthur Virgíio (AM) - preferiram adotar o silêncio e se concentrar na adesão dos últimos votos para a votação de domingo (21). Em Brasília, a prévia ocorrerá em regime presencial, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, das 8h às 19h. Para os filiados do restante do país, a escolha poderá ser feita de forma remota, por meio do aplicativo Prévias PSDB, das 8h às 15h.
A poucas horas da decisão pelo voto, os três concorrentes buscam ampliar os apoios. O governador João Doria, por exemplo, chegará a Brasília hoje com uma programação que inclui atendimento à imprensa, jantar com prefeitos de todo o Brasil e encontro com o líder do partido no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF), em sua residência. O governador Eduardo Leite, por sua vez, participará de um evento com aproximadamente 400 apoiadores, em São Paulo. Por fim, Arthur Virgílio dará entrevista também na capital paulista, depois embarcará para a capital federal.
Com perfis diferentes na articulação de campanha e na disputa para angariar votos, os candidatos às prévias optaram por suspender as diferenças e respeitar o processo de votação. Doria prefere não contabilizar os votos, mas nos bastidores dá a vitória como certa. A assessoria do governador limitou-se a dizer que a expectativa é ótima e "está trabalhando com afinco cada voto na reta final, confiante na vitória. Cada voto importa muito".
A campanha de Leite fornece mais detalhes dos últimos movimentos da corrida eleitoral. A equipe do governador gaúcho contabiliza os estados que declararam apoio e destaca nomes importantes na legenda que aderiram à candidatura. Entre os estados que estariam com Leite figuram o Amapá, Alagoas, Bahia, Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Entre os apoiadores de Leite estão o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, juntamente com todo o seu diretório; o vice-governador do Maranhão, Carlos Brandão; e a prefeita de Caruaru (PE), Raquel Lira; além do senador Tasso Jereissati (CE).
Para o deputado Lucas Redecker (RS), Leite seria o melhor nome para representar o partido e a terceira via em uma eleição presidencial. "Não só pela sua história, mas pelos resultados dele como governador. Marca e consolida um dos melhores governos do Rio Grande do Sul, pois pegou o Estado com salários e repasse para saúde atrasados. Foi o governo que fez mais reformas no Brasil, que mais privatizou e tem os melhores índices em segurança pública. Tem poder de composição, de articulação com quem pensa diferente, mas sem perder a sua postura e ideologia", comentou.
Amazônia em pauta
Respeitado no partido e até por adversários políticos, Arthur Virgílio tem chances remotas de vencer as prévias. Durante a campanha, adotou um tom moderado. A equipe do ex-senador garante que ele não desistirá, mas não detalhou projeções de voto. Para ele, o objetivo é concorrer, e foi cumprido. Segundo a equipe de campanha, Virgílio almeja um novo rumo ao partido e defende as bandeiras da democracia e da união. "Ele viajou por 24 estados. Fez reunião com colegiado. Fez comitiva. Deu o recado da importância da democracia, valor que ninguém pode abrir mão", afirma a assessoria. Outro ponto importante, segundo a equipe de Virgílio, foi incluir a preservação da Amazônia na agenda do partido.
Apesar de algumas rusgas entre os candidatos, os tucanos sabem que a prévia é a menor das dificuldades à frente para 2022. Uma constatação parece unânime: após a decisão de amanhã, o partido terá de se unificar. Esse entendimento ficou evidente no discurso de Eduardo Leite, que disse não deixar a legenda se não ganhar a disputa. Na opinião do senador Izalci Lucas, nenhum dos três candidatos sairá do PSDB. "Todo mundo junto depois, não creio em retaliação. São Paulo já teve prévias, e as pessoas se uniram novamente. Em campanha todo mundo fala e defende, o próprio Eduardo (Leite) já se manifestou que, independentemente de qualquer coisa, não sairá. O Arthur não sairá, nem Eduardo. Aliás, muitos partidos gostariam de ter esse problema, de ter muitos candidatos bons para concorrer à candidatura presidencial", concluiu o senador pelo Distrito Federal.
Eleição híbrida
A votação das prévias tucanas será dividida entre presencial e online. Apenas autoridades do grupo 4 - governadores, vice-governadores, ex-presidentes, senadores, deputados federais e o presidente da comissão executiva nacional do partido - estarão presentes no evento, em Brasília. O período para recolhimento dos votos será das 8h às 15h, e o resultado está previsto para ser anunciado às 17h, em três etapas. Com os votos contabilizados, primeiro os tucanos saberão o percentual geral de votos de cada candidato. Depois o percentual de votos de cada candidato por grupo. E, por fim, o resultado total de votos absolutos.
"A maneira como foi composta a votação valoriza quem faz e quem vive o dia a dia do partido. Foi uma composição muito bem feita, que acabou ponderando as diferenças territoriais e demográficas do Brasil. Por exemplo, se o grupo fosse baseado apenas nos filiados, um candidato como o Arthur, do Amazonas, não teria chance de concorrer com São Paulo, porque SP tem maior número de filiados", explicou Lucas Redecker.