Os filiados ao PSDB se preparam para escolher, neste domingo (21/11), o pré-candidato do partido à Presidência da República. A disputa é polarizada por Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, e João Doria, governador de São Paulo. Corre por fora o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, com menos demonstrações públicas de apoio.
O diretório tucano em Minas Gerais “fechou questão” e resolveu apoiar Leite. Há, no entanto, quem demonstre descontentamento com a decisão. A avaliação é de que o PSDB mineiro pode ser o “fiel da balança” a favor do gaúcho em uma disputa que se mostrou acirrada desde o começo e teve elementos típicos de corridas eleitorais, como desentendimentos e troca de farpas.
A maior parte das bancadas federal e estadual deve acompanhar a decisão da direção mineira. O deputado federal Domingos Sávio, porém, tem a intenção de votar em Doria. Há a possibilidade de que, proporcionalmente, Leite receba mais votos em MG que em seu estado natal. Meses atrás, uma comitiva de parlamentares tucanos foi ao Rio Grande do Sul convidar o governador local para participar das prévias. No grupo estavam Paulo Abi-Ackel e Eduardo Barbosa, dois dos representantes de MG no Congresso Nacional.
Abi-Ackel é, justamente, o presidente do PSDB em MG. “Minas tem tendência muito forte a apoiar Eduardo. Não só as bancadas de deputados, como prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. E (também) os filiados que espontaneamente se apresentarão às prévias. Quero imaginar que Eduardo terá ampla, forte e consagradora maioria dos votos”, diz ele, ao Estado de Minas.
O governador do RS veio ao estado em outubro. A jornada foi acompanhada por um séquito de parlamentares mineiros. Antes, Doria esteve no estado. “Cada filiado ao PSDB de Minas Gerais tem a liberdade de votar em quem, dos três, achar melhor. Não tem o menor sentido dizer que o partido, em Minas, vai fechar com uma pessoa só. Isso não condiz com a boa política mineira”, explica Domingos Sávio, que esteve, ainda, com Leite e Virgílio.
Para tucanos experientes, o resultado da disputa vai passar, também, por São Paulo. Aliados de Leite creem que ele tem o maior número de apoios e, por isso, dispõe de alguma vantagem. Apesar disso, o grande volume de filiados na terra natal de Doria pode pesar em prol do governador paulista. “É ver, por um lado, o comparecimento, algo que conta a favor do Eduardo. E, por outro lado, que conta para o Doria, a taxa de rejeição que terá no estado dele”, analisa Abi-Ackel.
No pleito interno, os integrantes do PSDB são divididos em quatro grupos, conforme os cargos ocupados. Alguns eleitores poderão fazer sua opção por meio de um aplicativo. De Minas Gerais, sairão 2.445 votos. Na lista de cadastrados, está Pimenta da Veiga, ex-deputado federal, ex-prefeito de Belo Horizonte e postulante ao governo em 2014. “Os candidatos que disputam as prévias, pela legislação, falam para o partido, mas são ouvidos pela nação. Eles já podem ficar mais conhecidos e fazer a difusão de suas ideias”, assinala Pimenta, que não esconde o voto e vai escolher Leite.
Brasil afora, os apoios se dividem. Além de Minas e de seu reduto eleitoral, Eduardo Leite conseguiu manifestações oficiais das direções tucanas em SC, PR, BA, AL, AP, CE, MS e RO. Doria, por outro lado, arregimentou as Executivas de SP, PA, RN, AC e DF. A favor de Arthur Virgílio está o AM.
As manifestações oficiais, porém, não impedem decisões individuais. Yeda Crusius, presidente da ala feminina da legenda e ex-governadora gaúcha, declarou ser simpática a Doria. Em São Paulo, o vice-presidente estadual, Evandro Losacco, aderiu ao grupo de Leite. O senador licenciado José Serra (SP) está com Doria. Atuantes na CPI da COVID-19, Tasso Jereissati (CE) e Izalci Lucas tomaram rumos distintos: um é partidário de Leite; o outro, de Doria.
‘Terceira via’ O PSDB tenta se posicionar como “terceira via”, em alternativa ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mesmo definindo um pré-candidato, os tucanos não precisam lançá-lo oficialmente em 2022. Para Paulo Abi-Ackel, pesa a favor de Leite o fato de ele não colocar a sua participação na corrida ao Planalto como algo “incondicional” — podendo, portanto, conversar com outras legendas sobre composições. “O fato de ter construído uma imensa rede de apoio dentro do PSDB me dá a impressão de que terá condições de fazer o mesmo com as demais forças de centro Brasil afora”, opina.
“Acho que Eduardo Leite se sentará à mesa com os demais atores que estão disputando e buscará o consenso. Se conseguirmos isso, afirmo com muita convicção: este nome tem todas as condições de ganhar a eleição”, corrobora Pimenta da Veiga. Ao justificar a disposição de votar em Doria, Domingos Sávio, que diz ter se abstido de fazer campanha, cita a experiência do paulista. “O trabalho dele em SP é exemplar. O homem é uma máquina para trabalhar, forma uma boa equipe de valores morais e éticos muito rígidos. Não existe uma vírgula contra João Doria.”
“A meu ver, Eduardo Leite é quem tem as condições necessárias para fazer isso, além de significar uma renovação para o PSDB e para a política nacional. Já a eleição do governador de São Paulo nos levaria ao isolamento, que não faria bem nem ao partido nem ao Brasil”, pontua o deputado federal Aécio Neves.
"Eduardo Leite é o nosso nome. Sempre foi. O PSDB tem nele o momento de mostrar as virtudes e o que desejamos para o país”, sustenta Gustavo Valadares, secretário-geral do ninho tucano em Minas e líder do governo de Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa.
Paulo Brant, vice-governador, e Luisa Barreto, secretária de Estado de Planejamento e Gestão, filiados ao partido, também vão digitar o número de Leite.
Sávio, porém, crê que a rejeição a Doria no PSDB faz coro a argumentos de adversários de outros partidos. “Os defeitos que colocaram em Doria foram postos por petistas e bolsonaristas. Eu, como tucano, vou me basear na opinião deles para decidir meu voto nas prévias? Claro que não”, responde.
Desconfiança
A contenda interna foi marcada, até mesmo, por desconfianças em torno do aplicativo de votação. Memes e músicas de campanha surgiram. Em Minas Gerais, tucanos chegaram a acusar o tesoureiro da Executiva nacional, César Gontijo, de tentar cooptar prefeitos para apoiar Doria. O caso ocorreu ainda em agosto; à época, Gontijo chamou as suspeitas de “levianas”.
Houve, também, situação pitoresca envolvendo o prefeito de uma pequena cidade do interior mineiro. Durante um evento de Doria, ele acabou não recebendo, do governador, o prestígio considerado devido por pessoas ligadas ao PSDB. Dias depois, bateu ponto em um convescote de Leite e recebeu um afago pessoal do gaúcho.
“A gente queria união, mas não teve jeito (de acordo) com o grupo o Doria e as prévias se fizeram necessárias”, expõe André Merlo, prefeito de Governador Valadares. E, apesar dos problemas, quando passadas as prévias, os tucanos garantem mirar pacificação e convergência.
“Tem que ter maturidade muito grande e entender que treino é treino, e jogo é jogo. Estamos, realmente, em uma ‘pré’, como nos Estados Unidos”, compara Marcos Vinícius Bizarro, prefeito de Coronel Fabriciano.