A cientista política Ana Carolina Evangelista, diretora do Instituto de Estudos da Religião (Iser), apontou, ainda, outra forma de chamar a atenção desse eleitorado: o discurso de combate à corrupção. “Essa resposta antissistema, fora do sistema, me parece uma camada importante de acesso à população. Um pouco dessa descrença na política ainda é forte, então que seja um candidato que consiga minimamente se identificar como “eu sou fora desse sistema corrompido” tem uma responsabilidade importante”, acrescentou. Um candidato que se destaca nesse sentido é o terceiro colocado nas pesquisas, Sérgio Moro (Podemos), ex-juiz da Operação Lava Jato. Em seu discurso, como promessa da terceira via, ele tem buscado abocanhar o mesmo eleitorado – inclusive, evangélico – de Bolsonaro.
Para isso, tem mantido diálogo com lideranças religiosas para colher informações e incorporar elementos em um futuro programa de governo, que está em montagem. “Uma coisa importante já conversada é que a forma como ele (Moro), no papel de presidenciável vai lidar com os fiéis, em geral, não será como alguns candidatos fazem – a coisa do toma lá, dá cá, ir a um culto pra fazer de palanque eleitoral. Será um relacionamento onde as pautas e parte do programa do governo seja democrático e com vistas ao bem comum”, definiu Uziel Santana, ex-presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) e convidado para ser coordenador do núcleo evangélico da campanha do ex-jurista.
O histórico da Anajure acumula uma atuação forte em fazer com que os evangélicos participem não só do poder Executivo e Legislativo, mas também do Judiciário. Segundo Uziel, as conversas com lideranças religiosas seguem no sentido de aumentar o apoio e a colaboração entre o poder público e as igrejas nas questões sociais. “O segmento evangélico se encontra em boa parte órfão, porque todos nós depositamos muita expectativa no governo Bolsonaro. Primeiro pelo anti PT, depois pela pauta do combate à corrupção e pelo respeito às liberdades civis e fundamentais, incluindo as pautas morais. De repente, o governo abandona por completo a anticorrupção e promove todo o velho patrimonialismo e fisiologismo”, criticou Uziel.
Para o presidente da Anajure Moro por ser mais moderado e equilibrado é a possibilidade mais concreta para derrotar os outros doiscandidatos.. O advogado informou que a direção da campanha é no intuito de pautar as questões sociais e o movimento de liberdade religiosa no país. Para isso, se reuniu com congregações do grupo histórico, batistas, presbiterianas, adventistas, ligadas a Aliança Cristã Evangélica Brasileira, metodistas, congregações missionárias, como o Exército da Salvação e neopentecostais – esse último, de acordo com o coordenador, é o mais preocupado com a volta do PT. (TA)