Na reta final de seu mandato, o ano de 2022 promete ser um ano difícil para o presidente Jair Bolsonaro (PL). A economia será o principal tema das eleições, tendo como pano de fundo a desigualdade social, a inflação e a onda de desconfiança por parte de grupos importantes no ramo, como empresários.
O chefe do Executivo deverá mostrar que merece a confiança do eleitor para se reeleger e precisará reverter ainda a queda da popularidade, tendo em vista postulantes competitivos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-juiz Sergio Moro (Podemos). Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, Bolsonaro subirá ainda mais o tom contra seus principais antagonistas e, como estratégia, acenará cada vez mais ao eleitorado raiz.
O chefe do Executivo deverá mostrar que merece a confiança do eleitor para se reeleger e precisará reverter ainda a queda da popularidade, tendo em vista postulantes competitivos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-juiz Sergio Moro (Podemos). Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, Bolsonaro subirá ainda mais o tom contra seus principais antagonistas e, como estratégia, acenará cada vez mais ao eleitorado raiz.
Essa é a aposta do cientista social e político do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Distrito Federal (Ibmec- DF), Ricardo Caichiolo. “Eu vislumbro um cenário de acirramento das posturas, declarações e narrativas que fizeram e fazem de Bolsonaro a figura política que conhecemos, com características que encontraram eco em grande parte do eleitorado em 2018”, antevê Caichiolo, referindo-se à ainda fiel base eleitoral bolsonarista.
O grupo será essencial para uma performance minimamente razoável do presidente na sua tentativa de reeleição, visto que os índices de descontentamento com o governo, levantados recentemente, apontam recordes. Uma pesquisa divulgada no último dia 14 pelo Instituto de Pesquisas Cananeia (Ipec) mostra que a rejeição ao governo Bolsonaro atingiu 55%. Trata-se do maior percentual desde o início do mandato, em 2019. No levantamento anterior, em setembro, a reprovação foi de 53%. Já a aprovação ficou em 22%. O levantamento mostra que o ex-presidente Lula (PT) tem 48% das intenções de voto para a Presidência da República em 2022, enquanto Bolsonaro representa 21%.
Diante da alta dos números, o presidente ainda corre o risco de ser abandonado pela base composta pelo Centrão caso não apresente uma melhor performance. É o que acredita o deputado federal Marcelo Freixo (PSB - RJ). O parlamentar definiu o Centrão como “pragmático” em relação aos apoios prestados. “Acho que qualquer possibilidade mais real, que mostre inviabilidade eleitoral do Bolsonaro, não tenho a menor dúvida de que o Centrão migraria para outra campanha, provavelmente a do Lula, já que a do Moro é uma candidatura muito semelhante”, analisa.
O cientista político André Rosa destaca que o cenário político envolvendo o chefe do Executivo é um dos mais difíceis desde o período da redemocratização. “Até mesmo a reeleição de Dilma Rousseff ilustra uma turbulência menor, mesmo envolta em denúncias do petrolão. Portanto, mesmo com o poder da máquina pública e com a viabilidade do Auxílio Brasil, algumas candidaturas já o fazem ficar um pouco mais fragilizado na disputa.” Ele observa que assim como o “antipetismo” levou Bolsonaro à cadeira palaciana em 2018, fato semelhante pode ocorrer, como o “antibolsonarismo”.
“É importante frisar que o mesmo eleitor que votou no Bolsonaro por não querer o PT está votando no Moro e até mesmo no Lula por não ter a possibilidade de haver um novo bolsonarismo em 2023”, diz. Rosa completa ainda que o foco de Bolsonaro deverá ser menor em Lula no primeiro turno e mais direcionado à candidatura de Sérgio Moro e que o presidente deverá atuar em duas frentes: na desconstrução do ex-juiz e em programas sociais na tentativa de reverter a queda na popularidade. “Ao que tudo indica, Bolsonaro não tem uma estratégia definida para conter a debandada do setor empresarial, a única estrutura que ainda o sustenta é a figura já fragilizada de Paulo Guedes”.
Crise
Freixo destaca o discurso antigoverno utilizado por Bolsonaro como estratégia nas eleições de 2018, e analisa que ainda hoje, em busca da reeleição, o presidente tenta acenos nesse sentido. “Ele não pode ser candidato negando o governo que teve, se comportando como inovação sobre um governo que é dele mesmo, o que é estapafúrdio. O grande problema é que ele não consegue apresentar resultados. Há uma crise muito profunda, os números não são bons e a perspectiva não é boa”, opina o parlamentar.
Além disso, o deputado chama a atenção para a postura inadequada de Bolsonaro, tanto enquanto ocupante da cadeira no Planalto quanto candidato à reeleição. “O episódio em que ele visita o Sul da Bahia numa situação de tragédia, e não consegue ter uma ação concreta de ajuda local, fazendo dali um palco político, mostra um despreparo muito grande.” Freixo destaca, ainda, que o presidente deve subir o tom nos discursos nos próximos meses. “Ele vai tentar levar a campanha mais uma vez para temas fora da política, tensionando o processo eleitoral com fake news, com ataques. Mas acho que isso não terá o mesmo efeito. Em 2018, não se tinha uma figura forte como Lula”.