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Estado de Minas Eleições 2022

Soluções para dramas do desemprego e miséria devem guiar voto do eleitor

Grave retração enfrentada pelos brasileiros, combinada à inflação alta, leva ao centro das campanhas deste ano as medidas de política econômica


03/01/2022 04:00 - atualizado 02/01/2022 22:52

Outra meta do governo, com medidas propostas pela equipe do ministro da Economia é tentar reverter a baixa de popularidade do presidente Jair Bolsonaro
Propostas propagadas pelo ministro Paulo Guedes, como as privatizações, são aposta para reverter crise (foto: Marcos Correa/PR - 9/6/20)

Brasília – Diante de um cenário fragilizado da economia brasileira, com altas taxas de desemprego, inflação elevada, aumento da pobreza e da fome, a condução da política econômica estará no centro das atenções dos eleitores, este ano, na hora de depositar o voto nas urnas. Pesquisas de opinião têm apontando que esses problemas devem estabelecer o tom das campanhas de 2022. Na avaliação de especialistas ouvidos pela reportagem, soluções para conter a evolução do custo de vida, a desocupação no país e reverter a queda dos rendimentos do trabalho tendem a dominar os debates que os candidatos vão travar.
 
Além das dificuldades no mercado de trabalho, a renda em queda afeta os trabalhadores
Bênção de carteiras de trabalho em missa na Grande BH: analistas veem motivações ligadas à deterioração da economia com influência decisiva nas urnas (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 1/5/18)
Diferentemente da última eleição, em 2018, na qual se destacavam demandas como combate à corrupção, segurança pública e busca pela “nova política”, em contraposição a uma forma antiga de posicionamento dos políticos, agora, o foco dos eleitores será constituído de questões ligadas à economia. “As pesquisas que lidam com as aflições dos brasileiros vêm demostrando é que a pobreza e o emprego se tornaram as principais preocupações e isso vai guiar a escolha do eleitor”, constata o professor de economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) Fábio Terra.
 
O economista e professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin concorda. Ele acredita que, em 2022, o impacto da situação econômica sobre a intenção de voto se dará, especialmente, em função do momento difícil que os brasileiros estão enfrentando. “Ano passado, o PIB desabou, o mercado de trabalho derreteu, a taxa de desemprego subiu mais de 15% e, como se isso não bastasse, a inflação ultrapassa os 10%. Esse quadro dramático é o motivo pelo qual a economia ganha destaque no momento das eleições”, explica Rochlin.
 
Fábio Terra pontua que a pandemia da COVID-19 contribuiu para a formação do cenário dramático na economia. Contudo, observa que algumas questões, como a falta de emprego, já estavam latentes no país há algum tempo. “Enquanto a questão da fome volta a ser uma preocupação, o desemprego é algo que já vem há algum tempo e que a pandemia agudizou. Já estava ruim e, com a pandemia, piorou. Isso entrará fortemente no radar do eleitor”, pondera o professor.
 
Além da questão do desemprego, o economista Mauro Rochlin acredita que a inflação também será foco de atenção dos eleitores. “Mesmo que, em geral, seja leiga em economia, a população sente no bolso a alta de preços. O bolso é a parte mais sensível do ser humano. Então, mesmo que o eleitor não saiba exatamente qual é a taxa de inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor, o índice oficial do custo de vida no país), no mês de dezembro, ou no ano de 2021, ele sente no bolso o que está acontecendo em termos de preço”, salienta.
 
Terra afirma que, para poder perceber os temas econômicos que vão se sobressair nos debates eleitorais é preciso olhar para os três atores envolvidos nessa equação: os eleitores, o mercado financeiro e os candidatos. “Os eleitores estarão basicamente pedindo ajuda para escapar da pobreza. Logo, pedirão emprego, que traz renda, que traz segurança contra a pobreza e a fome. O mercado estará fazendo as demandas que sempre faz, como consolidação fiscal e reformas. E os candidatos, nesse meio termo, tentando costurar um agrado ao mercado e um agrado a quem vota. A pauta da próxima eleição se dá nessa triangulação”, analisa.

Discurso de mudança No entanto, o discurso que cada candidato vai adotar pode mudar até lá, já que o cenário econômico dos meses que antecedem o pleito vai influenciar bastante na postura adotada pelos presidenciáveis. O cientista político e vice-presidente da consultoria Arko Advice, empresa de análise política com sede em Brasília, Cristiano Noronha, indica que os eleitores costumam se apegar a como a economia está no momento próximo das eleições para definir o voto.
 
“Por isso, o governo atual aposta em ações em 2022, como privatizações e concessões, e acredita que a economia pode responder positivamente para que eventualmente o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha uma recuperação da popularidade”, afirma. O programa de privatizações e concessões do governo tem sido prioritário no discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, assim como reafirmado pelo ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. O economista Mauro Rochlin acredita que os níveis de inflação nos meses de campanha eleitoral também vão ser fundamentais para determinar as intenções de voto.
 
“Não adianta dizer que hoje a inflação está em 10%, que a população está revoltada e, por isso, o Bolsonaro não conseguiria se reeleger. Acho que é um pouco cedo para dizer isso. A gente precisa olhar o cenário da véspera da eleição”, alega. Ele explica que se a inflação estiver controlada em agosto e setembro, isso ajudará o discurso do governo, mas se isso não ocorrer quem se fortalece é o discurso da oposição.
 
Petróleo e dólar Rochlin aponta que a perspectiva é de queda da inflação até o período da votação, em outubro. Segundo ele, três fatores explicam essa previsão. O primeiro deles é uma estabilidade no preço das chamadas commodities, produtos agrícolas e minerais cotados no mercado internacional, como petróleo, minério de ferro, milho e trigo. O segundo ponto é a estabilidade do dólar.
 
“Por mais que a gente saiba que o dólar está caro, é o mesmo valor que estava a um ano atrás. Então, o preço do produto importado não deve aumentar, deve ficar com preço estável”, avalia. “O último fator que podemos citar é a alta da taxa de juros. A taxa Selic foi muito aumentada e essa taxa de juros mais alta inibe o consumo”, completa.

Plano Real foi exemplo de recado pelas urnas


FHC comandou equipe que implementou plano de estabilização bem-sucedido em 1994
Ministro da Fazenda na implementação do Real, FHC se beneficiou dele na eleição à Presidência (foto: Henrique Barreto/Futura Press/Estadão - 11/6/18)
 
A atenção dos eleitores voltada para o tratamento dos temas da economia nas eleições deste ano não são novidade. Segundo analistas, historicamente, o assunto foi fator preponderante para a definição de candidatos. “Podemos citar como exemplos o sucesso do Plano Real, que projetou Fernando Henrique Cardoso (ministro da Fazenda quando da criação do programa bem-sucedido de estabilização da economia) para a presidência em 1994; o bem-sucedido primeiro governo do ex-presidente Lula, com a melhoria da condição econômica de grande parte da população, e que foi responsável por sua reeleição em 2006”, destaca o doutor em Ciência Política e professor da escola de negócios Ibmec Ricardo Caichiolo.
 
O cientista político e vice-presidente da Arko Advice, empresa de análise política com sede em Brasília, Cristiano Noronha, concorda com o colega e lembra que Fernando Henrique Cardoso também foi reeleito em razão de questões ligadas à economia. “Em 1998, Fernando Henrique Cardoso também acabou sendo reeleito por essa questão econômica. Naquele ano, os eleitores viam o ex-presidente como a pessoa capaz para enfrentar toda aquela questão de forte turbulência na economia internacional, já que ele demonstrou uma grande capacidade no enfrentamento da inflação em 94”, relembra.
 
Para que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tente se reeleger com base na pauta econômica, Caichiolo acredita que ele tentará explorar a implementação do novo Auxilio Brasil, programa substituto do Bolsa-Família. “Além disso, tentará capitalizar outras ações adotadas ao longo de seu governo para o combate à pandemia, ainda que boa parte delas tenham sido decididas exclusivamente no âmbito do Parlamento, como a PEC do 'Orçamento de Guerra', de maio de 2020, e a 'PEC Emergencial', de março de 2021”, pontua.
 
Para o professor de economia Fábio Terra, o chefe do Executivo terá dificuldades para adotar um bom discurso centrado nos temas da economia. “O discurso que o elegeu em 2018 não tinha nada de economia no fundo e ao longo do governo não teve nada realizado efetivamente daquilo que se propôs lá atrás. Quem permanecer (com seu voto) em Bolsonaro entre 2018 e 2022 permanecerá não por razões econômicas”, analisa. O ex-presidente Lula deve apostar no combate à pobreza e enfocar os resultados que seu governo obteve nessa área. “Ele (Lula) vai fazer um discurso de conciliação como ele já vem fazendo e já fez em 2002, quando foi eleito”, lembra Terra.
 
Com tantas promessas e discursos feitos, em geral, pelos candidatos em ano de eleições, os especialistas alertam sobre o cuidado que os eleitores devem ter com as “promessas milagrosas”. “Não há soluções fáceis para uma melhora da economia brasileira no curto prazo. A análise de quem são os componentes das equipes econômicas dos candidatos pode ser um balizador interessante para o eleitor, mas certamente não há de longe qualquer garantia de que uma eventual gestão por parte deles será bem-sucedida, em caso de vitória”, ensina Ricardo Caichiolo. (MEC)

Enquanto isso...Pacote de ‘bondades’

O presidente Jair Bolsonaro (PL) promulgou o texto que permite a criação de um plano de saúde para integrantes da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), beneficiando, ainda, parentes e dependentes dos usuários. Trata-se de mais um aceno do presidente aos policiais com vistas a obter deles apoio para a campanha à reeleição, em outubro.  No entanto, a medida somente será implementada se o governo do Distrito Federal tiver disponibilidade orçamentária. Bolsonaro vem editando seguidos benefícios aos policiais. No fim de 2021, ele concedeu reajuste salarial aos policiais federais, com verba reservada no Orçamento de 2022, e abriu uma crise com as demais categorias do funcionalismo federal. Sancionou também o projeto que prorroga a desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia por dois anos. A sanção ocorreu sem a previsão de medida para compensar a perda de receita dos cofres públicos, estimada em R$ 9 bilhões.


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