Recém-filiado ao MDB, o senador Carlos Viana garante ter a "ousadia" como trunfo para se cacifar na disputa pelo governo mineiro. Pré-candidato ao Palácio Tiradentes, ele tem discurso distinto ao adotado por Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (PSD), que basearam suas vitórias em promessas pé no chão. "O eleitor só vai decidir o voto em junho ou julho, e espera ser surpreendido. Essa história de 'vou fazer o que é possível', o eleitor não aceita mais. Estamos precisando de ousadia e coragem", diz Viana, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas.
Na visão dele, aliás, o governador "tomou gosto pelo poder" e "está fazendo exatamente o que disse que não faria".
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Viana crê ser possível concretizar a candidatura mesmo ante os atritos que, tradicionalmente, marcam as relações internas no MDB mineiro. Ele confia, inclusive, que sua eventual campanha pode unir os quadros emedebistas. Embora seja vice-líder de Bolsonaro no Senado, o congressista sabe que dificilmente terá o apoio dele, por causa da proximidade entre o PL e a gestão Zema.
O que levou o senhor a deixar o PSD e se filiar ao MDB?
O PSD cresceu muito em Minas, e ajudei muito nesse trabalho. Fui presidente por quase dois anos. Praticamente dobramos o número de comissões no interior. É natural que exista disputa interna pelo espaço de poder. Kalil, como prefeito, teve ascensão muito grande com a vitória na capital e tem, do presidente Kassab, um compromisso de apoio à candidatura ao governo.
No meu caso, tinha duas opções: ou aceitava a negociação, ou buscava meu caminho. Foi o que fiz. Negociei e conversei com vários partidos. Decidi pelo MDB por conta, primeiro, da capilaridade em Minas. Tem o maior número de prefeitos, mulheres eleitas, tem tradição e, em Minas Gerais, a candidatura majoritária ajudaria – e muito –, como ajudou, a unir toda a bancada. Aceitei a proposta e resolvi caminhar com o MDB.
O senhor pode dizer os outros partidos com quem negociou?
Conversei muito com o PL e, também, com o Podemos. As duas legendas se propuseram a discutir minha filiação, mas não avançaram as conversas.
O senhor tem se colocado como pré-candidato. Zema já confirmou que disputará a reeleição; Kalil é posto como potencial candidato. O que sua eventual candidatura tem de diferente em relação à dupla que lidera as pesquisas?
Minas é quem ganha com a possibilidade de um debate mais amplo. Temos um governador que não veio da política, mas tomou gosto pelo poder e está fazendo exatamente o que disse que não faria: nomeando, para secretarias, os apadrinhados políticos, enviando as equipes ao interior usando todos os aviões e equipamentos do estado, fazendo promessas aos prefeitos que não serão cumpridas, porque não há orçamento para obras fora da educação, por exemplo.
O governo tem grande dinheiro disponível na área do Fundeb, mas em outras áreas, não há. Mas há promessas sendo levadas a todos os cantos em busca do apoio dos prefeitos. O governador está, naturalmente, agindo, como o grupo político dele incentiva, tentando recuperar o espaço político que não assumiu - e foi até contra, criticou muito, - no início. Daí o embate com a Assembleia. Mas é um governador que tem a máquina nas mãos e tem uma proposta para o estado que está de acordo com os empresários que bancaram a campanha dele.
O prefeito de BH tem boa experiência na capital, não há de se negar nunca, e pode, também, colaborar na discussão dos problemas.
Venho de fora da política, de um aprendizado no Senado, em um momento em que Minas retomou a importância que tinha no cenário político nacional, e ajudei muito sendo vice-líder do governo. Se, hoje, temos obras importantes avançando, como a concessão da BR-381 e R$ 2,8 bilhões para o metrô de BH, posso dizer, com muita humildade, que participei de todas as negociações desde o início. Assim como outras propostas, o asfaltamento da BR-367, em que o dinheiro está garantido, mas infelizmente foram descobertas irregularidades nas obras, e a retomada de todos os programas de convivência com a seca. Em todos esses projetos que, hoje, Minas começa a ter investimentos, trabalhei por eles. Agora, aparecem os pais; todo mundo quer tirar uma foto bonita com o metrô, falar da barragem de Jequitaí e do Jequitinhonha, mas em Brasília, quem trabalhou, efetivamente, fui eu. Isso, hoje, conta muito na política.
Não venho para falar de problemas; quero falar de soluções. Problemas, para mim, são desafios. Minas Gerais, hoje, precisa de ousadia, de quem tenha coragem para tomar decisões e enfrentar problemas com outras decisões. É muito fácil sentar na cadeira do governo e ficar dizendo que não tem dinheiro, que os problemas são muitos e da 'herança maldita do PT'. Mas e aí? Quem se candidata não sabe desses problemas? Por que não apresenta soluções como o estado precisa? Estou pronto para buscar as soluções em conjunto com o funcionalismo e a Assembleia, para fazer Minas avançar muito mais rapidamente.
O senhor falou que 'problemas são desafios' e pediu diálogo com setores de Minas. Neste momento, já traçou as bases do plano que pretende apresentar ao estado?
Sempre ouvimos falar da questão do desenvolvimento igual por regiões, equilíbrio regional. Isso foi discurso político repetido por décadas, mas completamente esquecido no atual governo. A visão somente para os problemas e somente de ajudar empresários que já são ricos retira a capacidade que a política tem de buscar soluções em todas as áreas. O que foi feito, efetivamente, para que o Jequitinhonha e o Mucuri voltassem a se desenvolver ou, pelo menos, tivessem projeto de crescimento? Nada. Foram três anos completamente perdidos. O que tivemos no Norte para que a região, de fato, pudesse crescer como fronteira agrícola na convivência com a seca? Nada. O que tem lá, hoje, em projetos, trouxemos do governo federal. Inclusive, a possibilidade de grandes asfaltamentos, no acordo com a Vale, nasceu na CPI de Brumadinho no Senado. Não nasceu no governo de Minas.
Quem quiser governar Minas terá de começar a pensar no desenvolvimento por igual das regiões. E, principalmente, em um plano futuro quando a mineração não for mais a primeira fonte de renda. Temos que começar a pensar no estado que queremos para daqui 15 ou 30 anos agora. Caso contrário, vamos perder o trem da história.
Graúdos do MDB, como Temer, vieram a BH e convidaram Kalil para se filiar; depois, Newton Cardoso Jr., presidente estadual, abriu as portas para Zema. Agora, veio a sua filiação. O senhor teme não ter sustentação para manter a candidatura ao governo? A candidatura foi 'cláusula pétrea' para se filiar?
Temer deixou claro que a visita foi de cortesia. Não houve planejamento para convidar o atual prefeito. O MDB não participou desse convite. Com relação ao Newton Cardoso Jr., é natural. Ele estava em um embate com o ex-presidente da Assembleia, Adalclever Lopes , e era preciso que o partido tivesse um rumo. As conversas iniciais de apoio a Zema eram naturais, porque o partido precisava tomar decisões.
Com a minha chegada e a proposta de filiação, feita pela Executiva nacional, o partido resolveu o dilema, que era estar unido em torno de uma candidatura majoritária. Tanto que os quatro deputados federais estão firmes com o partido. Ameaçavam deixar a legenda, mas não sairão mais. deputados estaduais, é natural que haja trocas na janela . Todos são muito importantes e serão muito bem-vindos, mas entendemos se um ou outro decidir tomar caminho que seja mais seguro. É natural da política.
A discussão sobre a candidatura terá que avançar à medida que o cenário político nacional for se definindo. Estou com meu nome como pré-candidato, e o partido está disposto. Vamos avançando até tomarmos uma decisão definitiva em junho.
O MDB mineiro enfrentou, em 2021, imbróglios internos por causa, por exemplo, da manutenção de Newton Jr. na presidência. Como pretende lidar com o histórico de atritos que persegue o partido em Minas?
Atritos não acontecem só no MDB. Estão acontecendo, também, no PSD. É uma questão de poder, espaço. É da política. Um partido sempre vai ter, internamente, as discussões de quem quer ou não, concorda ou não. Agora, quando se parte para uma eleição, é preciso que todos estejam unidos. Isso é o mais importante. Quando se juntou a Fernando Pimentel (PT), foi o MDB que tornou a campanha no interior muito forte em capilaridade. O partido pode voltar a fazer isso, hoje, com meu nome. Temos a maior parte dos prefeitos filiados ao MDB. O 15 é um número muito tradicional nas cidades do interior, onde os números são muito importantes. O 15 faz parte dessa tradição política.
Minha função agora no MDB é unificar o partido, ajudá-lo a caminhar unido para as eleições. Tanto com uma chapa proporcional para fazer mais deputados federais, o que é muito importante - e a candidatura majoritária é fundamental -, assim como disputar o governo de Minas em pé de igualdade. Tenho coragem, estou preparado e pronto para o debate.
O eleitor só vai decidir o voto em junho ou julho, e espera ser surpreendido. Essa história de 'eu vou fazer o que é possível' o eleitor não aceita mais. Estamos precisando de ousadia e coragem.
Ao mudar de partido, o senhor colocou à disposição o cargo de vice-líder do governo, mas foi mantido no posto. Em que pé isso está? O senhor pretende continuar no cargo?
O MDB é base do governo. Vamos esperar fevereiro para saber exatamente quais serão os passos do Palácio do Planalto na relação com o Congresso. Podemos ter mudanças. Fui sondado, por exemplo, sobre se aceitaria ser líder do governo. Pedi tempo para responder. Ainda não parei para pensar em profundidade sobre isso . Vai ser um ano muito difícil para o governo.
O presidente Bolsonaro bateu recordes de rejeição, chegando a 60%, segundo o Datafolha. Há, ainda, as polêmicas e declarações contrariando a ciência. O senhor não teme prejuízos por estar atrelado a ele?
Alguém já disse que você tortura os números e eles dizem o que você quer. Se observar bem as pesquisas, são pessoas que já decidiram em quem votar. Quando a gente observa os eleitores que não decidiram o voto, o número é muito grande. Supera 50%. O eleitor só vai se preocupar com política no segundo semestre. Aí, vai começar a observar.
O que vai pesar muito é a questão da economia. A questão sobre como se enfrentou a pandemia começa a diminuir o impacto, a não ser que tenhamos uma nova onda. O cenário ainda está totalmente em aberto, até para que pré-candidaturas já postas não se confirmem. Há possibilidade de que tenhamos novos players.
Mas o senhor considera a possibilidade de estar com Bolsonaro em um palanque em MG?
Essa possibilidade está afastada, porque o presidente se filiou ao PL, que está entregue ao governador. É parte da base do governo. Essa foi, inclusive, uma das dificuldades que impediram minha ida ao PL. Com minha pretensão de disputar o governo, a bancada estadual do PL já havia feito acordo com a secretaria de Governo. Tem, inclusive, benefícios: emendas e cargos no governos. Isso tudo pesa muito na decisão política.
O senhor falou que foi sondado pelo Podemos. Há chance de se unir a Moro?
A questão do Moro ainda precisa ter todos os movimentos aguardados. É uma candidatura que, a meu ver, tem muita chance de crescer, porque ele atrai o eleitor da direita em um sentimento anti-esquerda. Vai depender da forma como ele negociar e tomar decisões. Eleição nenhuma está ganha ou perdida antecipadamente. Tudo depende da movimentação que você faz no tabuleiro político.
O senhor participou das conversas para a liberação de verba federal ao metrô de BH e, também, para a concessão à iniciativa privada. Com esses movimentos, confia 100% na construção da tão falada segunda linha?
O primeiro passa para que o metrô de BH trate o usuário com mais respeito foi dado. Em maio, o leilão deve acontecer. Junto dele, um plano de investimentos, que poderia ser melhor, inclusive, mas foi o possível a ser feito. A linha 2, do Barreiro , a expectativa é que esteja operando em 2028. Já há uma exigência de que quem assumir o metrô terá a responsabilidade de, em 2028, tê-la funcionando plenamente. Outro ponto é a modernização dos trens, a questão dos horários e a manutenção.
Estou muito confiante de que a questão do metrô está resolvida sem promessas de furar buraco na Afonso Pena, enganar as pessoas com propostas de levar o metrô até shoppings ou ao outro lado da cidade, na Pampulha. O eleitor foi enganado com essas propostas. Trabalhamos com uma base realista.
E a BR-381? A tão falada duplicação sai?
Sai. Tenho total confiança de que, feito o leilão em fevereiro - acredito que de fevereiro não passe -. O motorista que trafega pela BR-381, já no segundo semestre vai começar a observar, pelo menos, sinalização e limpeza melhores na via. Que, pelo menos, há quem cuide da rodovia, porque hoje é de completo abandono. Fez-se de a duplicação de 65 quilômetros, aproximadamente - eram para ser 86 quilômetros, mas não foi possível terminar.
A rodovia está abandonada. É a sensação de quem viaja. A partir da concessão, vai-se observar uma melhora contínua. Tenho muita confiança que pelo menos a duplicação até Governador Valadares ainda veremos antes de 2030.
O senhor se posta como pré-candidato ao governo, mas precisa cumprir as atribuições do mandato. O que fazer para conciliar as duas frentes? Como garantir ao eleitor que a atividade parlamentar não ficará em segundo plano?
A votação semipresencial já facilitou muito. Todas as discussões têm sido feitas, também, por videoconferência, como as reuniões de liderança. Há, também, as discussões sobre análise de projetos. Tudo de forma remota. A presença em Brasília, hoje, é muito necessária na questão das autoridades e dos esforços concentrados. No meu caso, vice-líder do governo, nas negociações com as bancadas. Mas poder votar a distância vai facilitar muito cumprir o papel de senador e dar atenção às questões de Minas.
Kalil se filiou ao PSD a seu convite. Depois, parecem ter havido desgastes. No ano passado, por exemplo, o senhor disse que ele 'não falava pelo partido' após críticas sobre figuras do partido com ligações formais a Bolsonaro. Como está a relação?
Quem convidou Kalil para se filiar ao PSD fui eu. Primeiro, como forma de lealdade pelo apoio que recebi dele e seria muito bom tê-lo no partido. Posteriormente, Kassab assumiu a negociação e ele veio ao PSD. Apoiei Kalil para reeleição como forma, inclusive, de retribuir o apoio que tive para senador. Em uma conversa muito particular entre eu e o prefeito, deixamos claro que um não deve nada ao outro. Pelo contrário: somos amigos, temos ótimo relacionamento e tenho admiração muito grande pelo Kalil. Mas politicamente, agora, é hora de cada um ocupar seu espaço.
Recentemente, o senhor esteve com o ex-presidente Michel Temer. O que conversaram?
O ex-presidente Temer, em primeiro lugar, é um homem habilidoso, que sabe dialogar e a quem o Brasil deve muito. Ele, nos dois anos em que foi presidente, conseguiu reorganizar o país e entregar um governo federal muito mais organizado e em condições de crescimento e investimentos. A história ainda fará, a meu ver, o reconhecimento a ele, que dentro do MDB é muito respeitado.
Como estou me juntando ao partido agora, fui lá cumprimentá-lo, ouvi-lo e deixar a ele meu posicionamento e minha expectativa de ser pré-candidato ao governo de Minas Gerais - e ter o apoio dele. A palavra dele com o MDB nacional é fundamental para pensar em avanços. Por exemplo: discutir a dívida de Minas e o Regime de Recuperação Fiscal. Existem formas, politicamente, de adaptar para Minas Gerais. Isso vai passar por um consenso nacional, político.
É muito importante estar unido à Executiva nacional para levar as demandas do estado a uma rede nacional.