Representantes de cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) não escondem a frustração com a postura do governador Romeu Zema (Novo) diante do enfrentamento às chuvas que assolam Minas Gerais neste início de ano. No início da semana, o chefe do poder Executivo recebeu, na Cidade Administrativa, prefeitos e emissários de municípios da Grande BH. A reunião, no entanto, foi considerada pouco produtiva por alguns, que lamentaram a ausência de debate sobre ações concretas para combater o efeito dos temporais.
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Chuvas: cidades de MG terão de preencher formulário para receber ajudaZema pede R$ 935,6 milhões a Bolsonaro para conter efeitos das chuvas em MGMinas tem 136 pontos de interdição em estradas na noite desta quarta (12/1)"Passamos muito tempo ouvindo explanações, tanto de representantes do governo quanto de prefeitos contando a situação de seus municípios, mas não houve nenhuma apresentação concreta do que será feito, como será feito, e como o estado vai poder auxiliar os municípios", diz Décio Junior, secretário de Comunicação de Brumadinho, que participou do encontro em nome do prefeito Avimar Barcelos (PV).
Durante o encontro, Zema saiu e deixou os trabalhos sob o comando de Igor Eto, secretário de Estado de Governo. Horas após a conversa, a gestão estadual anunciou o envio de R$ 40 milhões aos municípios atingidos pelas chuvas.
O valor foi considerado pequeno e rendeu críticas de Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte. "Na reunião que os prefeitos da Grande Belo Horizonte tiveram, em que o governador ficou presente por cinco minutos, foi oferecida a bagatela, para todas as cidades da Região Metropolitana, de R$ 40 milhões. É falta de noção absoluta da necessidade e de dinheiro", afirmou, hoje, em entrevista à "Rádio Bandeirantes".
Para Décio Junior, de Brumadinho, o bate-papo foi meramente "burocrático". "O governador fez uma fala e saiu durante a reunião, para atender a imprensa. Ficamos, prefeitos e representantes dos municípios, reunidos com a equipe ".
Representantes de outras duas cidades, em anonimato, também demonstraram descontentamento. Um deles, prefeito, afirmou ter saído insatisfeito da conversa.
Outro, emissário de um chefe do poder Executivo municipal, criticou a ausência de compromissos para envio de recursos financeiros. Por outro lado, teceu elogios à postura das forças de segurança, como o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil, que se mostraram prontos para reforçar os trabalhos nos locais atingidos por enchentes, deslizamentos e outras ocorrências.
Vittorio Medioli (sem partido), prefeito de Betim, outra cidade "submersa" após as chuvas, também não poupa críticas. "Nunca vimos tanta água. Milhares e milhares de casas atingidas. E não tem um plano, não sabem como enfrentar essa situação", afirma. Segundo ele, muitos prefeitos não tiveram "coragem de comentar", durante a reunião, a decepção com a postura do governo mineiro.
Cidades pedem apoio para reconstrução imediata
A meteorologia aponta que as águas do céu devem dar uma trégua a Minas Gerais a partir desta quinta-feira (12/1). Agora, enquanto lidam com os destroços das casas atingidas e o luto pelas vidas perdidas, os municípios já começam a pensar no processo de reconstrução.
Em Brumadinho, há quase três anos, houve o desastre do rompimento da mina do Córrego do Feijão. Em 2021, as chuvas impuseram novos obstáculos. Para acelerar a reconstrução da cidade nos próximos dias, Décio Júnior classifica apoios vindos das esfera estadual e federal como essenciais.
"O que esperamos, agora que as chuvas pararam e as águas estão abaixando, é que o governo possa apresentar uma proposta concreta, não só para Brumadinho, mas a todos os municípios, para que as cidades se recuperem".
Kalil, que não conseguiu participar do encontro de segunda-feira por questões de agenda, também lista a ajuda vinda do presidente Jair Bolsonaro (PL) como ponto fulcral. "A situação aqui é muito difícil. Acho muito importante que o governo federal olhe para Minas Gerais - não estou falando para Belo Horizonte. Ele é muito amigo do governador. Agora, tem que mostrar que é amigo de verdade e enviar recursos para Minas Gerais".
Vittorio Medioli, porém, mostra descrença. "O estado não vai dar nada. Na maior calamidade, não tem previsto nenhuma despesa extraordinária para enfrentar, que poderia vir de verba de remanejamento", assinala.
Esperança dá o tom em Sabará
Outro a bater ponto na assembleia entre prefeitos e integrantes da alta cúpula do governo Zema, Wander Borges (PSB), prefeito de Sabará, diz que o encontro serviu para que os representantes locais expusessem seus dilemas. Ele confia que, dados os diagnósticos, o poder público estadual vai agir para auxiliar os municípios.
"Neste momento, há uma necessidade urgente de solução dos problemas, com ações imediatas, mas sabemos que é preciso também ter cautela. Precisamos tratar todos os planos, uma vez que há sistemas e legislações que regem esse processo até que o recurso de auxílio chegue ao município", pondera o socialista.
Ele crê que o momento pede coesão e afasta as dissonâncias. "Temos que fazer uma força-tarefa, com o sentimento de coletividade, na busca de soluções para atendimento prioritário à população. Não é hora de divisão; é hora de união em torno do que estamos vivendo".
Governador pede apoio federal para socorrer desabrigados
Antes de formalizar, nesta quarta, o pedido de verba bilionária federal, Zema se reuniu com os ministros João Roma, da Cidadania, e Joaquim Alvaro Pereira Leite, do Meio Ambiente. Uma das ideias do governador é captar R$ 238,7 milhões para financiar, por três meses, pagamentos de R$ 400 a famílias em situação de extrema pobreza.
Com outros R$ 45 milhões, a administração estadual pensa em tirar do papel repasse trimestral de R$ 600 a pessoas que perderam móveis e eletrodomésticos. A estruturação de linha especial do Casa Verde e Amarela, programa federal de habitação, também está nos planos. Para a recuperação de vias, pontes e estradas, Zema solicitou R$ 45 milhões.