O PT não pode eliminar a possibilidade de dar apoio ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), se ele decidir disputar o governo de Minas Gerais, na avaliação do deputado federal Odair Cunha (PT-MG). Contudo, a eventual aliança estará condicionada aos objetivos centrais dos petistas: vencer Jair Bolsonaro (PL) e, em Minas, derrotar o governador Romeu Zema (Novo), que vai tentar se reeleger.
Segundo Odair Cunha, é cedo para cravar se um apoio ao prefeito de BH tem mais probabilidade de ocorrer do que o lançamento de candidatura própria do PT ao governo de Minas. A decisão vai passar, também, pelo debate sobre a federação partidária que poderá ser formada com outras siglas, a exemplo do PSB. “O importante é mantermos o diálogo das forças populares em Minas”, observou, garantindo que o PT, ao tratar de alianças, vai levar à mesa de negociações os nomes de seus quadros com potencial eleitoral. O deputado federal Reginaldo Lopes, líder do partido na Câmara, é visto como alternativa para concorrer ao Senado, em que pese o fato de o PSD ter Alexandre Silveira em busca da reeleição.
Cunha não poupa críticas a Zema, chamado por ele de “miniatura de Bolsonaro”. Ao tratar de Lula, o petista defende a coalizão com representantes do centro e centro-direita, citando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o líder nacional pessedista Gilberto Kassab. Ao EM, Cunha rebateu as críticas dos colegas de partido à eventual aliança com Geraldo Alckmin e sustentou que o ex-tucano seria “bem-vindo” em uma frente contra retrocessos e, também, para garantir governabilidade.
Em Minas, neste momento, o principal oponente do governador Romeu Zema é o prefeito de BH, Alexandre Kalil, caso resolva se candidatar. O PT estará no palanque de Kalil ou há espaço para candidatura própria?
Minha compreensão é de que o PT deve somar esforços em torno de dois objetivos centrais: o primeiro deles é derrotar Bolsonaro e tudo o que ele significa do ponto de vista de problemas para o país. O segundo objetivo deve ser derrotar Zema e acabar com o engodo e a mentira que são o governo dele. Considerando os dois objetivos, temos que adotar a estratégia que for melhor. Esse é o debate que deve ocorrer no partido nos próximos dois meses.
O senhor, então, defende que o PT escolha apoiar o prefeito de BH se a candidatura dele se tornar mais viável para barrar a reeleição do governador?
Minha compreensão é que o partido não deve descartar a hipótese de apoiar o Kalil, desde que isso faça parte de uma estratégia nacional de enfrentamento aos desgovernos de Bolsonaro e Zema.
Dentro do PT, estão sendo discutidas condições para esse apoio? Elas passariam pela abertura do palanque do PSD ao ex-presidente Lula ou pela candidatura ao Senado, por exemplo?
O governo Zema é uma miniatura do governo Bolsonaro. É um Bolsonaro polido, mais ‘engomadinho’, porque não tem políticas de saúde e educação. Não há política séria de enfrentamento ao coronavírus e para a geração de emprego e renda. O que deve nortear nosso debate e a nossa decisão não é, necessariamente, qualquer tipo de acerto político de espaços ou algo que o valha. Em minha opinião, o que vai orientar a nossa decisão é, exatamente, a melhor estratégia para implementarmos e retomarmos um projeto democrático e popular no Brasil e em Minas. A possível candidatura do prefeito de BH reúne condições de fazer o enfrentamento à candidatura de Zema. Obviamente, o PT tem história, presença e nomes para contribuir na chapa. Vamos apresentar os nomes que o partido tem na hora em que esse debate for aberto. Mas tudo deve girar em torno da premissa de livrar o Brasil de Bolsonaro e Minas de Zema.
E quais são os nomes do PT que podem contribuir para fortalecer essa eventual chapa?
Temos discutido nomes internamente. O nome de Reginaldo Lopes, líder do PT na Câmara dos Deputados, é um que se coloca com viabilidade eleitoral e presença em todo o estado. Em qualquer mesa de negociação em torno das eleições deste ano, o nome de Reginaldo será lembrado. Ele tem se colocado à disposição e tem larga experiência legislativa. Tem demonstrado trabalho e presença em todas as regiões de Minas. As pesquisas apontam que Reginaldo tem viabilidade para o Senado. É um dos nomes que o PT vai considerar.
A decisão ainda depende das articulações em torno da candidatura de Lula?
A discussão nacional dos partidos em torno da candidatura de Lula e a discussão da federação têm muita incidência sobre as opções que o partido fará em Minas. O tempo, neste caso, precisa ser usado. Há prazo legal para que haja a formalização de alianças, e vamos usar esse prazo para manter o diálogo aberto.
O PSD, na sua avaliação, está disposto a abrir espaço a Lula em Minas Gerais?
A discussão com o PSD é nacional. A presidenta Gleisi [Gleisi Hoffmann, do PT] tem estabelecido um diálogo com o presidente Kassab [Gilberto Kassab, do PSD] em torno de um projeto que visa melhorar o Brasil, tirar o país da estagnação econômica e retomar o desenvolvimento, o que significa geração de emprego e renda para o povo. Em torno dessas premissas, há, sim, diálogo com o PSD nacionalmente. Havendo esse diálogo, ele implicará nos estados.
Para apoiar Kalil, o PDT reivindica apoio a Ciro Gomes. O senhor vislumbra cenário de alianças com o prefeito de BH candidato ao governo tendo um palanque misto em termos nacionais, dando espaço a Lula e Ciro?
Não vislumbro essa possibilidade, porque compreendo que o elemento central para nós, do Partido dos Trabalhadores, será a união nacional em torno de um projeto liderado pelo presidente Lula que vise à derrota do programa e do projeto de Bolsonaro. É uma questão definidora.
No fim de 2021, representantes de PT, PSB, PCdoB, PSOL e PV se reuniram para debater a construção de uma frente progressista em Minas. Neste momento, há chances de essa ideia sair do papel?
Essa frente popular está sendo discutida nacionalmente [com a federação partidária]. O diretório nacional do PT autorizou esse debate interno. Estamos fazendo [o debate] internamente e com esses partidos, porque entendemos que, neste momento, não devem prevalecer egos pessoais ou os interesses partidários. O que entendemos como central é que haja frente ampla e popular que retome o Brasil para os brasileiros, com direitos, respeito às diferenças, sem misoginia e racismo. O projeto da federação é algo que ganha corpo a cada dia, uma frente que defenda os interesses mais urgentes do povo: geração de emprego e renda, alimentação digna, acesso à saúde e educação de qualidade.
Como estão as conversas para que Geraldo Alckmin se torne vice de Lula?
Vivemos um retrocesso civilizatório no Brasil, com racismo, preconceitos, misoginia, intolerância e negacionismo da ciência. Contra esses males, é necessário haver uma aliança nacional. Com certeza, quadros políticos como o ex-governador Alckmin contribuem — e muito — nesse movimento nacional contra o fascismo, que ganhou força com o governo Bolsonaro. Não podemos estabelecer barreiras ideológicas ou de opinião pessoal em torno de um momento tão grave. Entendo que Alckmin sempre será bem-vindo nesse movimento nacional contra o fascismo.
O ex-governador é o nome mais provável para a chapa ou trata-se de uma construção que deve levar certo tempo?
Essa construção está em andamento. É um processo em aberto. O partido e suas lideranças estão em debate, inclusive com outras forças políticas que querem estar ao lado do presidente Lula.
Representantes do PT, como Rui Falcão, acreditam que aliança com Alckmin, tucano histórico, não é necessária para conferir viabilidade eleitoral a Lula. O que o senhor pensa de avaliações como essa?
Respeito muito a opinião do presidente Rui Falcão e de outras lideranças do PT, mas a minha compreensão é de que não se trata apenas de uma aliança eleitoral. Trata-se de uma aliança programática para viabilizar a implementação de um programa que ganhe as eleições e seja implementado depois. Para a implementação, não tenho dúvidas de que lideranças de centro e centro-direita serão importantes.
Que nomes citaria, considerando até onde Lula poderia ir para sinalizar à centro-direita?
O diálogo com o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e com o presidente Gilberto Kassab são importantes — e com essas bancadas na Câmara dos Deputados. E com outras forças que Alckmin e outras lideranças políticas podem agregar a esse projeto. Não só para ganhar as eleições, mas para governar depois.