Brasília – O presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou ontem o aplicativo "Bolsonaro TV", cuja logomarca traz o rosto do presidente de perfil com a inicial "B". Segundo a plataforma, trata-se de um local "único onde se pode visualizar todas as redes sociais da família Bolsonaro". A medida é mais uma tentativa que visa à unificação da base eleitoral do presidente, a menos de 10 meses das eleições. O aplicativo foi anunciado ontem pelo chefe do Executivo no Twitter e no Facebook.
Apesar do anúncio feito pelo presidente apenas este ano, o aplicativo já conta com avaliações desde julho do ano passado que se dividem entre elogios e críticas ao canal. "Presidente, continue firme no seu propósito de colocar este país nos trilhos. Siga firme com Deus, pois o povo Brasileiro de BEM está com o senhor. Brasil acima de tudo! Deus acima de todos!", escreveu um internauta.
"Não é um app, é um aglomerador de mentiras. Esses 4 patetas só mentem e manipulam pessoas simples que não têm nenhum conhecimento político e/ou social. Mentem diariamente. 602 mil mortos e nenhuma visita a hospitais, nenhuma palavra de conforto pras famílias #NuncaEsqueceremos", escreveu outro.
Por enquanto, o canal reúne apenas publicações do presidente nas plataformas Telegram, Instagram, YouTube e Twitter. Ao clicar em uma das notícias, o internauta tem a opção de abrir a respectiva rede social e ter acesso a mais detalhes ou ainda de compartilhamento da publicação.
O Correio Braziliense/Estado de Minas pediu ao Planalto informações sobre o financiamento do aplicativo e se houve uso de dinheiro público, mas não obteve resposta. Entre os dados disponíveis, o aplicativo informa que o dono é Rogerio Cupti de Medeiros Junior, advogado e atual assistente do gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
A plataforma informa ainda "não garantir que o aplicativo esteja livre de perda, interrupção, ataque, vírus, interferência, pirataria ou outra invasão de segurança e isenta-se de qualquer responsabilidade em relação a essas questões".
"Você é responsável pelo backup do seu próprio dispositivo. Em hipótese alguma a Bolsonaro TV, bem como seus diretores, executivos, funcionários, afiliadas, agentes, contratados ou licenciadores responsabilizar-se-ão por perdas ou danos causados pelo uso do aplicativo", informa outro trecho.
TELEGRAM
Outro canal muito utilizado pelo presidente é o Telegram. Com mais de 1 milhão de inscritos, Bolsonaro é bastante assíduo na rede e compartilha diariamente vídeos e pronunciamentos. À frente dos adversários, ele se tornou o pré-candidato à Presidência da República mais influente da plataforma. Filhos do chefe do Executivo também são usuários. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tem 92 mil inscritos; o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), pouco mais de 69 mil; e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), 52 mil.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, tenta contato há mais um de um ano com representantes do Telegram e avalia a possibilidade de banimento da plataforma pelo Congresso Nacional. Em 16 de dezembro, o magistrado enviou ofício a Pavel Durov, CEO do Telegram, por meio eletrônico, solicitando uma reunião para discutir possíveis meios de cooperação entre o aplicativo e a corte no combate à desinformação e fake news.
No documento, o TSE apontou fazer esforços significativos para neutralizar a desinformação relacionada com os procedimentos eleitorais para garantir eleições livres e justas no país, e apontou que, por meio do canal, circulam teorias da conspiração e informações falsas sobre o sistema eleitoral.
"O Telegram é um aplicativo de mensagens em rápido crescimento no Brasil, estando presente em 53% de todos os smartphones ativos disponíveis no país. Através do Telegram, teorias da conspiração e informações falsas sobre o sistema eleitoral são atualmente divulgadas no Brasil", segundo o TSE. O tribunal lembrou ainda que a empresa não tem representante no Brasil, o que dificulta o diálogo em meio ao ano eleitoral. Na volta do recesso parlamentar, o tema deve ser pautado na corte.
VIAGEM CANCELADA
Bolsonaro desistiu ontem de participar da reunião de presidentes do Fórum para o Progresso da América do Sul (Prosul). O encontro ocorreria amanhã e depois em Cartagena, na Colômbia. Em seu lugar, o chefe do Executivo escalou o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB). Interlocutores do general informaram que há o fato de a missa de sétimo dia da morte da mãe do presidente, dona Olinda, coincidir com a cúpula.
A agenda de ontem do presidente também foi cancelada. Pela manhã, estava apenas “sem compromisso oficial”. Na versão anterior, o chefe do Executivo participaria no começo da tarde de reunião com o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. Até as 16h, Bolsonaro ainda se encontraria com o subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência, Pedro Cesar Sousa, e com o ministro de Estado chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos.
No final da tarde, o presidente participaria do evento de lançamento do Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário, que ocorreria no Palácio do Planalto e foi remarcado para a próxima sexta-feira. Questionado a respeito, o Planalto não retornou.