Brasília – De olho nas eleições presidenciais, o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) planeja um evento com evangélicos em Fortaleza. O evento está previsto para 7 de fevereiro e a expectativa é de que o presidenciável divulgue uma carta-compromisso para esse público. Além disso, espera-se que Moro encontre lideranças evangélicas no interior de São Paulo, na próxima semana. O aceno de Moro a essa ala é uma tentativa de atrair a confiança de um setor que está dividido entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Levantamento feito pelo Instituto Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) mostra que 34% do grupo religioso disse ter intenção de votar no petista, enquanto 33% afirmaram que optarão por Bolsonaro. Já o ex-ministro tem apenas 7% de intenção de votos dos evangélicos. Outro relatório divulgado em janeiro também mostrou a divisão entre esse grupo.
Dados divulgados pela Quaest (Consultoria e Pesquisa) apontaram que evangélicos de todos os níveis de escolaridade se dividem entre Lula e Bolsonaro. Das intenções de voto das pessoas que cursaram até o ensino fundamental, em torno de 40% é no ex-presidente Lula, enquanto 30% é em Bolsonaro. Já as pessoas com ensino médio completo, 30% têm a intenção de votar em Lula e cerca de 40% em Bolsonaro. Por fim, pessoas com ensino superior completo ou mais votariam ou em Lula ou em Bolsonaro, ambos com um pouco mais de 30% de intenção de voto desse público.
“Moro vai tentar entrar em uma faixa que já está muito bem ocupada, tanto pelo Bolsonaro, quanto pelo Lula. Ele vai ter que ter uma estratégia muito inteligente para conquistar esse público”, observa o cientista político André César, sócio da Hold Assessoria Legislativa.
Vale lembrar que a Igreja Universal, de Edir Macedo, publicou, no último domingo, um texto em seu site oficial em que “um cristão de verdade não pode e nem deve compactuar com ideias esquerdistas”. A postagem complementa que “a esquerda prega contra o casamento convencional” e destrói “a rede de apoio familiar para ‘salvar’ o povo usando um assistencialismo manipulador”.
O sócio e head de análise política da Favetti Sociedade Advogados, Rafael Favetti, explica que os presidenciáveis devem estar atentos a esse grupo social, porque o número de evangélicos no Brasil aumenta cada vez mais, e, consequentemente, o número de eleitores evangélicos também. Além disso, ele salienta que os evangélicos não são um "campo homogêneo eleitoralmente falando”, por isso a tendência é que os candidatos foquem nesse público.
Complementar a isso, na avaliação do cientista político André César, a influência de grandes líderes evangélicos como Edir Macedo deve ser determinante para que candidatos consigam o apoio dessa parcela do eleitorado. “Eles são os grandes formadores de opinião. Esses líderes têm muitos instrumentos para isso. Até a própria retórica deles acaba influenciando bastante a decisão de voto do seu rebanho.”
CAMPANHA ACIRRADA
Segundo César, a tendência é que essa disputa do voto evangélico vá se acirrar ainda mais com o decorrer do ano, o que pode levar a coligações com representantes desses grupos. “Há uma possibilidade de o Bolsonaro escolher um vice evangélico, seja Damares ou algum membro do Republicanos, que é ligado à Universal. Esses movimentos agora são importantes para que os candidatos tentem ter um diferencial nessa disputa.”
Ontem, Moro assinou um termo de compromisso com o movimento Vem Pra Rua para que, caso seja eleito, defenda as pautas do grupo. Ao lado dos líderes do movimento, Moro gravou vídeo em que assina o documento que defende o fim da reeleição e do foro privilegiado, prisão após segunda instância, reformas econômicas e a erradicação da pobreza. "Recebi o apoio do Vem Pra Rua e assinei com o movimento o termo de compromisso", escreveu Moro nas redes sociais. Já o Vem pra Rua postou: “Sergio Moro, pré-candidato à Presidência da República, se reuniu com o movimento para conversar sobre seu projeto de governo e assinou um termo de compromisso com as pautas defendidas pelo Vem Pra Rua”.