A partir do consenso sobre a necessidade de se opor a Zema, há duas possibilidades sobre a mesa: a primeira é a construção, dentro do grupo formado por petistas, comunistas, pessebistas e verdes, de uma candidatura própria. Outra hipótese é apresentar, a um postulante de fora da federação, as propostas da coalizão. Líderes do PT, por exemplo, defendem que o partido não descarte apoiar o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD).
Os partidos ainda não discutem nomes, mas sabem que a estratégia em Minas precisa passar por garantir palanque e espaço a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato da aliança à federação. Durante as conversas desta segunda, o líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, Reginaldo Lopes, reiterou a disposição de disputar assento no Senado Federal (Leia mais ainda neste texto).
"Há a compreensão de que, em Minas Gerais, é possível que esses partidos estejam juntos. A federação seria uma forma de formalizar a parceria, mas independentemente disso, temos muita identidade na proposta para Minas", disse, ao Estado de Minas, o deputado estadual Cristiano Silveira, presidente do PT mineiro.
"Consolidada a federação, entendemos que temos todas as condições de apresentar uma candidatura ao governo do estado e ao senado, que seriam palanque para Lula. Sem que, com isso, a gente descarte a possibilidade de diálogo com outras forças que estejam no campo progressista e, especialmente, alinhadas com o projeto Lula presidente", projetou o dirigente, mencionando também que o nome escolhido pelo grupo precisará marcar posição contrária ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
A reunião desta segunda-feira ocorreu na sede do PSB mineiro, na Região Centro-Sul de BH. Um dos mais simpáticos à ideia da federação partidária é o deputado federal Vilson da Fetaemg, presidente pessebista no estado.
"Precisamos de um nome para disputar, combater e derrotar o governo Zema. É preciso ter uma alternativa, mas temos que construir isso através do diálogo", afirmou.
Osvander Valadão, presidente do PV em Minas Gerais, diz que o grupo tem procurado, primeiro, entender os impactos locais da federação nacional. Depois, nomes eleitorais passarão a dar o tom das conversas.
"Isso [a federação] avançando a gente pode construir, dentro de um projeto, a possibilidade de receber uma candidatura que vocalize as propostas desse campo. Se isso não for possível, a gente deve, e já é consensual entre os partidos, construir uma candidatura ao governo dentro da federação".
Embora reiterem não discutir nomes, os partidos sabem que, no PT, há quem encampe a pré-candidatura de Daniel Sucupira, prefeito de Teófilo Otoni, no Vale do Jequitinhonha.
Partidos já têm novo encontro agendado
PT, PSB e PCdoB já se programaram para enviar emissários à sede do PV no próximo dia 21, para nova reunião a respeito do arranjo partidário. No fim do mês passado, petistas e pessebistas pediram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a prorrogação do prazo para a oficialização da federação, que venceria em 1° de março.
A expectativa é que, até a próxima reunião, a corte eleitoral já tenha se manifestado sobre isso. Até lá, os dirigentes mineiros esperam que haja consenso para superar entraves em outros estados. PT e PSB precisam aparar arestas para viabilizar a federação. Em São Paulo, o "13" quer emplacar Fernando Haddad na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, mas o "40" tem Márcio França.
Independentemente do desfecho nacional, os mineiros se fiam na boa relação entre os partidos. "Talvez Minas Gerais seja o estado em que esses partidos têm o melhor nível de interlocução e conversas, já há mais de dois anos", analisou o ex-deputado federal Wadson Ribeiro, presidente do PCdoB.
Reginaldo Lopes reitera disposição de disputar o Senado
Aos presentes, Reginaldo Lopes se disse disponível para representar o grupo na disputa pela vaga de senador em jogo neste ano. Apesar disso, destacou que a candidatura precisa ser construída coletivamente. "É para um amplo debate, levando em consideração todo o cenário nacional", falou.
Segundo o deputado, o ponto central, neste momento, é dar forma à agenda do grupo para o estado. Ele é um dos defensores da união a partidos fora do espectro da federação.
"Tenho simpatia por uma aliança mais ampla em Minas Gerais, mas isso tem o seu tempo para ser debatido. Primeiro, temos que consolidar a federação. Depois, o PT deve, junto com os futuros federados, discutir a posição de cada partido para termos uma posição unitária sobre a candidatura ao governo do estado e ao Senado."
Entenda a federação
Desde 2017, partidos não podem se unir para montar chapas conjuntas de candidatos às Câmaras Municipais, às Assembleias Legislativas e à Câmara Federal. A federação de legendas "resgata" a possibilidade de alianças do tipo, mas com a obrigatoriedade de manutenção da aliança por, no mínimo, quatro anos - diferentemente das coligações, onde a união era, via de regra, meramente eleitoral.Se a federação à esquerda sair do papel, as siglas precisarão redigir um estatuto único. O grupo vai precisar atuar como um só partido - tendo, inclusive, uma direção central, com representantes de todas as agremiações incorporadas ao bloco.
Na Câmara e no Senado, por exemplo, os eleitos pela coalizão terão de formar uma bancada única.
A possibilidade de instituição das federações foi regulamentada no ano passado, quando o Congresso Nacional aprovou uma espécie de minirreforma política.