O secretário de Assuntos Institucionais do partido Novo em Minas Gerais, Evandro Veiga Negrão de Lima Júnior, é sócio do esposo da gerente de Compras de Materiais e Serviços da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Ivna de Sá Machado de Araújo. Eles têm, juntos, participações em uma usina de energia fotovoltaica. Evandro era esperado para depor nesta quinta-feira (9/2) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura possíveis irregularidades na gestão da estatal. Por estar em viagem, no entanto, ele não compareceu.
Deputados suspeitam que ele tenha interferido nos rumos da companhia. Evandro foi quem recebeu a primeira proposta financeira da Exec, empresa contratada em 2019 pela Cemig para conduzir a escolha do novo presidente da companhia. À época, Reynaldo Passanezi foi selecionado para o posto. O Novo é a legenda que abriga o governador Romeu Zema. (Leia mais ainda neste texto).
Ivna Araújo falou aos parlamentares e negou conhecer Evandro, que, ao lado do marido, é sócio-administrador de um empreendimento nomeado TRZS Energia Participações, cujo capital social apresentado à Receita Federal é de R$ 840 mil.
Segundo ela, o setor de compliance da Cemig, responsável por zelar pelo cumprimento de boas práticas administrativas, não viu problemas na continuidade dela na empresa mesmo ante a relação entre ele e seu marido, Carlos Alberto Campos.
No ano passado, uma investigação no setor de Compras e Suprimentos da estatal mineira gerou o afastamento de funcionários do departamento. A CPI buscará saber se ela recebeu algum tipo de proteção ou se há conflito de interesses no caso. A Cemig, por seu turno, afirma que não houve irregularidade porque "não há relação comercial" entre a companhia mineira e a usina. (Veja todo o posicionamento da estatal ao fim da matéria).
"Tudo o que está na oitiva de hoje será encaminhado às autoridades competentes e constará no relatório da CPI. Fica, mais uma vez, muito clara a influência de Evandro Negrão em tudo o que se faz no interior da Cemig, escolhendo cargos, o próprio presidente, e determinando empresas contratadas, como ouvimos em outros depoimentos", disse, ao Estado de Minas, o sub-relator da CPI, Professor Cleiton (PSB).
Ivna se defendeu e garantiu ter contado à Cemig da relação entre Evandro e o companheiro tão logo a descobriu. "Da mesma forma que meu marido não conhece todas as pessoas com quem me relaciono profissionalmente, eu não conheço todas as pessoas com quem ele se relaciona profissionalmente", assegurou.
Em contato com a reportagem, o dirigente do Novo afirmou não conhecer a esposa de seu sócio. "A TRZS Energia é uma usina fotovoltaica como outras centenas no estado. Nem eu nem o Carlos e muito menos a Ivna (que eu nunca vi e nunca conversei na vida) atuamos diretamente nela".
Evandro explicou ser investidor da usina, que, de acordo com ele, está sem funcionar por atraso da Cemig na aprovação da cabine de medição da estrutura. "Minha empresa e a empresa do Carlos [o marido de Ivna] já possuíam sociedades anteriores em outros empreendimentos imobiliários e fomos convidados a participar dela por outras pessoas que já atuavam na área", falou.
A CPI agendou outras duas reuniões nesta semana (amanhã e sexta-feira). Em tese, Evandro poderia ser ouvido em um dos dois encontros, mas ele afirmou ao EM que estará à disposição do comitê investigativo a partir de segunda-feira (14).
"Essa viagem já estava pré-agendada. Eu havia avisado antes", salientou.
Para Professor Cleiton, as informações dadas por Ivna nesta quinta tornam a oitiva do dirigente do Novo ainda mais importante. "É alguém que tem muito a nos responder. Principalmente após o depoimento de hoje".
Segundo o pessebista, não houve espanto pela ausência dele. "É a segunda reunião que os advogados aparecem justificando que ele está viajando. A CPI aguarda que ele apresente uma data [para depor], já que, se não fizer por iniciativa própria, automaticamente entrará no relatório como indiciado".
Ivna Araújo já havia prestado depoimento à CPI da Cemig no ano passado. O governista Zé Guilherme (PP) crê que a reunião desta quinta não trouxe novos elementos imprescindíveis à investigação. Ele garante que Evandro terá condições de mostrar aos deputados que não tenta interferir na gestão da estatal.
"Hora nenhuma ele vai se negar a comparecer à CPI, mas como não havia sido comunicado [do depoimento], saiu de férias com a família. Tão logo ele retorne, certamente irá à CPI. E não irá deixar de responder a nenhuma pergunta, tenho certeza".
A empresa foi a mesma que auxiliou no preenchimento de secretarias do atual governo estadual. Aos deputados estaduais, em outubro, o ex-presidente da estatal Cledorvino Belini disse que só soube do contrato com a Exec para escolha do seu sucessor quando Evandro Negrão enviou a ele a fatura cobrando os R$ 170 mil acordados.
"É um agente partidário, do Novo, que no entendimento de alguns deputados, é quem administra a companhia", assinalou Professor Cleiton.
Zé Guilherme, no entanto, discorda da percepção do colega. "Em toda a história de Minas Gerais, quem indica o presidente da companhia é o governador do estado. Zema foi eleito por 70% dos mineiros. E, ao contrário dos outros, não fez uma escolha política, mas procurou alguém do mercado, porque a Cemig estava um caos".
Reynaldo Passanezi, o escolhido pela Exec, prestará depoimento à CPI nesta sexta-feira (11).
O contrato entre a Cemig e a Exec só foi oficializado em janeiro de 2020, sete dias após Passanezi assumir a presidência. O documento que sugere a contratação tem, inclusive, a assinatura do próprio Passanezi. Não houve licitação.
O aval retroativa do acordo é chamado de convalidação. Zé Guilherme defende a prática. "Uma empresa do porte da Cemig, que tem ações na bolsa de Nova York e de São Paulo, não pode anunciar que vai trocar o presidente".
Em oportunidades anteriores, a Cemig explicou que a contratação dispensada de licitação é permitida pela Lei das Estatais, desde que haja a comprovação de notória especialização da firma escolhida. A companhia garante, ainda, que o contrato só foi oficializado após a escolha de um novo executivo por causa do "sigilo".
Nesta quinta, a reportagem procurou a Cemig para tomar esclarecimentos a respeito do depoimento de Ivna Araújo. A empresa reiterou que não há conflito de interesses pela participação do marido em uma empresa energética privada.
A Cemig esclarece ainda que, em 2021, afastou os então gestores da área de Suprimentos após ter sido solicitada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) a prestar informações sobre denúncias relacionadas à conduta desses gestores em supostos casos de corrupção. Esses gestores foram afastados (sem prejuízo dos vencimentos) para apuração das denúncias. A investigação do MPMG encontra-se sob sigilo. Naquele momento, a Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo não ocupava cargo gerencial na área de Suprimentos.
O título desta matéria foi trocado às 14h36 de 14/2. A palavra 'acusado' foi substituída por 'suspeito' a fim de conferir precisão jornalística.
Deputados suspeitam que ele tenha interferido nos rumos da companhia. Evandro foi quem recebeu a primeira proposta financeira da Exec, empresa contratada em 2019 pela Cemig para conduzir a escolha do novo presidente da companhia. À época, Reynaldo Passanezi foi selecionado para o posto. O Novo é a legenda que abriga o governador Romeu Zema. (Leia mais ainda neste texto).
Ivna Araújo falou aos parlamentares e negou conhecer Evandro, que, ao lado do marido, é sócio-administrador de um empreendimento nomeado TRZS Energia Participações, cujo capital social apresentado à Receita Federal é de R$ 840 mil.
Segundo ela, o setor de compliance da Cemig, responsável por zelar pelo cumprimento de boas práticas administrativas, não viu problemas na continuidade dela na empresa mesmo ante a relação entre ele e seu marido, Carlos Alberto Campos.
No ano passado, uma investigação no setor de Compras e Suprimentos da estatal mineira gerou o afastamento de funcionários do departamento. A CPI buscará saber se ela recebeu algum tipo de proteção ou se há conflito de interesses no caso. A Cemig, por seu turno, afirma que não houve irregularidade porque "não há relação comercial" entre a companhia mineira e a usina. (Veja todo o posicionamento da estatal ao fim da matéria).
"Tudo o que está na oitiva de hoje será encaminhado às autoridades competentes e constará no relatório da CPI. Fica, mais uma vez, muito clara a influência de Evandro Negrão em tudo o que se faz no interior da Cemig, escolhendo cargos, o próprio presidente, e determinando empresas contratadas, como ouvimos em outros depoimentos", disse, ao Estado de Minas, o sub-relator da CPI, Professor Cleiton (PSB).
Ivna se defendeu e garantiu ter contado à Cemig da relação entre Evandro e o companheiro tão logo a descobriu. "Da mesma forma que meu marido não conhece todas as pessoas com quem me relaciono profissionalmente, eu não conheço todas as pessoas com quem ele se relaciona profissionalmente", assegurou.
Em contato com a reportagem, o dirigente do Novo afirmou não conhecer a esposa de seu sócio. "A TRZS Energia é uma usina fotovoltaica como outras centenas no estado. Nem eu nem o Carlos e muito menos a Ivna (que eu nunca vi e nunca conversei na vida) atuamos diretamente nela".
Evandro explicou ser investidor da usina, que, de acordo com ele, está sem funcionar por atraso da Cemig na aprovação da cabine de medição da estrutura. "Minha empresa e a empresa do Carlos [o marido de Ivna] já possuíam sociedades anteriores em outros empreendimentos imobiliários e fomos convidados a participar dela por outras pessoas que já atuavam na área", falou.
Dirigente do Novo garante que prestará depoimento
A CPI agendou outras duas reuniões nesta semana (amanhã e sexta-feira). Em tese, Evandro poderia ser ouvido em um dos dois encontros, mas ele afirmou ao EM que estará à disposição do comitê investigativo a partir de segunda-feira (14).
"Essa viagem já estava pré-agendada. Eu havia avisado antes", salientou.
Para Professor Cleiton, as informações dadas por Ivna nesta quinta tornam a oitiva do dirigente do Novo ainda mais importante. "É alguém que tem muito a nos responder. Principalmente após o depoimento de hoje".
Segundo o pessebista, não houve espanto pela ausência dele. "É a segunda reunião que os advogados aparecem justificando que ele está viajando. A CPI aguarda que ele apresente uma data [para depor], já que, se não fizer por iniciativa própria, automaticamente entrará no relatório como indiciado".
Ivna Araújo já havia prestado depoimento à CPI da Cemig no ano passado. O governista Zé Guilherme (PP) crê que a reunião desta quinta não trouxe novos elementos imprescindíveis à investigação. Ele garante que Evandro terá condições de mostrar aos deputados que não tenta interferir na gestão da estatal.
"Hora nenhuma ele vai se negar a comparecer à CPI, mas como não havia sido comunicado [do depoimento], saiu de férias com a família. Tão logo ele retorne, certamente irá à CPI. E não irá deixar de responder a nenhuma pergunta, tenho certeza".
Suspeitas nasceram por causa de seleção de presidente para a Cemig
O nome de Evandro passou a ser tópico constante durante as sessões da CPI da Cemig pelo fato de ter sido ele o responsável a receber a primeira proposta da Exec, que cobrou R$ 170 mil para buscar, no mercado de executivos, um novo presidente para a companhia de luz.A empresa foi a mesma que auxiliou no preenchimento de secretarias do atual governo estadual. Aos deputados estaduais, em outubro, o ex-presidente da estatal Cledorvino Belini disse que só soube do contrato com a Exec para escolha do seu sucessor quando Evandro Negrão enviou a ele a fatura cobrando os R$ 170 mil acordados.
"É um agente partidário, do Novo, que no entendimento de alguns deputados, é quem administra a companhia", assinalou Professor Cleiton.
Zé Guilherme, no entanto, discorda da percepção do colega. "Em toda a história de Minas Gerais, quem indica o presidente da companhia é o governador do estado. Zema foi eleito por 70% dos mineiros. E, ao contrário dos outros, não fez uma escolha política, mas procurou alguém do mercado, porque a Cemig estava um caos".
Reynaldo Passanezi, o escolhido pela Exec, prestará depoimento à CPI nesta sexta-feira (11).
O contrato entre a Cemig e a Exec só foi oficializado em janeiro de 2020, sete dias após Passanezi assumir a presidência. O documento que sugere a contratação tem, inclusive, a assinatura do próprio Passanezi. Não houve licitação.
O aval retroativa do acordo é chamado de convalidação. Zé Guilherme defende a prática. "Uma empresa do porte da Cemig, que tem ações na bolsa de Nova York e de São Paulo, não pode anunciar que vai trocar o presidente".
Em oportunidades anteriores, a Cemig explicou que a contratação dispensada de licitação é permitida pela Lei das Estatais, desde que haja a comprovação de notória especialização da firma escolhida. A companhia garante, ainda, que o contrato só foi oficializado após a escolha de um novo executivo por causa do "sigilo".
Nesta quinta, a reportagem procurou a Cemig para tomar esclarecimentos a respeito do depoimento de Ivna Araújo. A empresa reiterou que não há conflito de interesses pela participação do marido em uma empresa energética privada.
Nota da Cemig a respeito do depoimento desta quarta-feira
A Cemig esclarece que sua gerente de Compras de Materiais e Serviços, Ivna de Sá Machado de Araújo, não incorreu em situação de conflito de interesses. Em setembro de 2021, após ser acionado pela Comissão de Ética da companhia, o setor de Compliance da Cemig analisou o caso de Ivna, cujo marido é sócio da empresa TRZS Energia Participações. Após atestar que a referida empresa não tem e nunca teve qualquer relação comercial com a Cemig, o Compliance concluiu a análise indicando que não há conflito de interesses. A posição foi referendada pela Comissão de Ética da Cemig.A Cemig esclarece ainda que, em 2021, afastou os então gestores da área de Suprimentos após ter sido solicitada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) a prestar informações sobre denúncias relacionadas à conduta desses gestores em supostos casos de corrupção. Esses gestores foram afastados (sem prejuízo dos vencimentos) para apuração das denúncias. A investigação do MPMG encontra-se sob sigilo. Naquele momento, a Sra. Ivna de Sá Machado de Araújo não ocupava cargo gerencial na área de Suprimentos.
O título desta matéria foi trocado às 14h36 de 14/2. A palavra 'acusado' foi substituída por 'suspeito' a fim de conferir precisão jornalística.