Nesta sexta-feira (11/2), Passanezi disse a deputados estaduais da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) responsável por investigar a gestão da empresa energética que no fim de 2019 passou por uma sabatina com João Amoêdo, então presidente do partido do governador Romeu Zema.
Ele afirmou, ainda, que em uma entrevista conduzida por Zema estava presente Evandro Negrão de Lima Júnior, secretário de Assuntos Institucionais do Novo em Minas.
Passanezi esteve presente à Assembleia Legislativa para prestar depoimento aos parlamentares. A participação de figuras do Novo no processo de contratação dele vai ao encontro da suspeita de integrantes da CPI sobre possível influência do partido político na administração da Cemig.
"Fica muito claro o que desconfiamos desde o início: a ingerência por parte do Novo, inclusive do partido fora de Minas Gerais, em decisões internas da Cemig. Não só no processo de escolha do presidente, mas também em contratações que são questionáveis e, no nosso entendimento, fora do processo legal", assinalou Professor Cleiton (PSB), vice-presidente e sub-relator da CPI.
O atual presidente da Cemig, no cargo desde janeiro de 2020, foi sondado para assumir o cargo pela Exec, empresa especializada em captar, no mercado de executivos, pessoas aptas a ocupar cargos estratégicos. Depois de mostrar, via currículo, suas credenciais, Passanezi foi a São Paulo (SP) conversar com Amoêdo e Márcio Utsch, presidente do Conselho de Administração da estatal.
"A Exec me recomendou algumas entrevistas para que eu fizesse meu processo de seleção. Segui essas entrevistas", explicou o executivo aos parlamentares.
Depois, houve uma conversa com Zema. "Fiz uma entrevista em Belo Horizonte com o governador Romeu Zema. Nela, estavam presentes Cássio Azevedo, à época secretário de Desenvolvimento Econômico, e o senhor Evandro. Ao final dessas entrevistas, a Exec me comunicou que eu seria indicado para ser diretor-presidente da Cemig", continuou.
Evandro Negrão, o outro dirigente do Novo citado por Passanezi, é apontado como o responsável por ter recebido a primeira proposta enviada pela Exec – quando a Cemig ainda buscava uma empresa para conduzir a escolha de seu novo diretor-presidente. O serviço custou R$ 170 mil.
O relator da CPI, Sávio Souza Cruz (MDB), contou ter informações de que a Exec foi avisada de que havia recrutadores de executivos oferecendo o serviço a preço menor. Segundo ele, a empresa, que participou da escolha de secretários do atual governo estadual, foi orientada a baixar o valor do orçamento.
Presidente se defende e governista minimiza participação do Novo
Em outubro último, o antigo presidente da Cemig Cledorvino Belini chegou a dizer aos deputados que só soube do acordo com a Exec quando Evandro repassou a ele a fatura de R$ 170 mil. O contrato entre a Cemig e a Exec só foi oficializado sete dias após Passanezi assumir a presidência.
O documento que sugere a contratação tem, inclusive, a assinatura do próprio Passanezi. Não houve licitação.
O aval retroativo ao acordo, chamado de convalidação, é defendido pela empresa em virtude da necessidade de sigilo na busca por um novo presidente. O executivo defende os termos do acordo.
"Consigo entender as justificativas da lei para um processo de inexigibilidade [de licitação] e convalidação em função do sigilo", pontuou, em menção à necessidade de não transparecer, ao mercado financeiro, que a Cemig estava em processo de mudanças na direção.
A estatal tem ações nas bolsas de valores de São Paulo e Nova York (EUA). O deputado Zé Guilherme (PP), integrante da base aliada a Zema, falou que encara com naturalidade a participação de pessoas do Novo no processo que levou à escolha de Reynaldo Passanezi, tido por ele como "homem superqualificado" quando o assunto é eletricidade.
"Ouvir alguém do partido Novo, um conselho, é mais do que natural. Não vejo o mínimo problema nisso acontecer. O governador poderia ter colocado quem quisesse na presidência, mas procurou, de forma diferente, ir ao mercado", defendeu.
Citado no depoimento, Evandro Negrão optou por não comentar a participação dele na conversa de Zema com Passanezi. Candidato à presidência da República em 2018, João Amoêdo foi procurado pelo Estado de Minas e confirmou a participação em sabatinas a dois postulantes à presidência da Cemig — um deles, Passanzei.
"Atendendo a um pedido do próprio governador Romeu Zema, Joao Amoêdo entrevistou dois indicados pela empresa de headhunter para presidente da Cemig. Foi uma maneira de contribuir com o processo diante da experiência que tem como executivo e gestor de pessoas. É importante enfatizar que ambos entrevistados receberam recomendação positiva de Amoêdo para o governador", lê-se em comunicado enviado pela equipe do político do Novo.
Alta cúpula da estatal segue na mira
Durante o depoimento, Passanezi foi questionado sobre a contratação de pessoas externas à companhia para exercer cargos de liderança. Deputados têm falado em uma espécie de "paulistanização" da empresa, com a designação de pessoas que deram expediente naquele estado para trabalhar na estatal mineira.Houve, inclusive, questionamentos sobre a escolha de um sócio de Passanezi em um investimento privado para assumir um cargo diretivo.
O executivo garantiu que a regra para esse tipo de contratação é buscar profissionais que possam contribuir positivamente para a atuação da companhia.
"Temos algo como 8% ou 9% dos cargos de liderança preenchidos por não oriundos da Cemig, a despeito de haver um limite de 40%. Em dois terços, não fizemos mudanças. Apenas em um terço houve alterações. Delas, 75% foram promoções".
Professor Cleiton, no entanto, levantou dúvidas sobre o papel de Passanezi na engrenagem da Cemig. "Pelo menos em meu entendimento, o presidente da Cemig não preside. Ele simplesmente está ali como uma figura que tem de atender a interesses do mercado."