Brasília – O pastor Paulo Marcelo Schallenberger, de 46 anos, busca mostrar que dentro das igrejas há mais diversidade, incluindo aqueles dispostos a votar no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao Correio Braziliense/Estado de Minas, o líder da Assembleia de Deus do Ministério de Belém, denominação pentecostal, explicou que a escolha de um lado político dentro da igreja de uma maneira tão polarizada é uma novidade destes tempos. “O povo da igreja nunca foi manipulado da forma que foi. Antes eram apenas orientados à urna”, disse. Schallenberger também disse que antes, os pastores ensinavam que a política “era do diabo” e por isso os fiéis não se envolviam.
Conforme essa população crescia, as coisas foram mudando. Durante a eleição de 2014, o voto evangélico quase levou Marina Silva ao segundo turno e então a chave virou. “Se antes política era do diabo, agora é ‘se não tivermos um representante, nós seremos governados pelo diabo’. A igreja começou a querer esse poder para si e daí nasceu o bolsonarismo”, explicou. Em 2020, o Instituto Datafolha publicou que os evangélicos representariam 31% da população, o que à época equivalia a 65,4 milhões de pessoas.
Para o pastor, desmistificar e retirar a influência do presidente Jair Bolsonaro (PL) das igrejas é uma luta contra o discurso de ódio. Nesta missão, segundo ele, está Lula, que caminha ao centro e lá estão os eleitores com uma “Bíblia”. Neste centro delicado está o ex-governador Geraldo Alckmin, considerado por Schallenberger uma peça importante neste xadrez do voto da fé. “Como cristão, Alckmin é muito importante e mais, eu sou de São Paulo e ele, além de ter sido governador por quatro mandatos, ele tem uma abertura com as igrejas evangélicas incrível. Inclusive, ele se encontrou com o bispo Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus do Ministério de Madureira, há poucos dias. Ele está se alinhando para conversar com as lideranças evangélicas do estado de São Paulo”, explicou o papel do ex-governador dentro do mundo conservador por Lula.
O pastor disse que ser evangélico ao longo das décadas nunca foi perseguir pessoas que pensam ou vivem de forma diferente daquilo que é pregado. “A igreja era perseguida e agora persegue. Tornou-se massa de manobra e uma milícia digital.” A afirmação revela a influência de grupos de WhatsApp e Telegram dentro dessas instituições, onde os fiéis se informam e interagem.