Jornal Estado de Minas

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É falso que apresentador americano riu de pesquisa eleitoral do Brasil

Segundo o site TVSpy, a transmissão havia sido feita no mesmo dia em que o âncora publicou o vídeo no YouTube (foto: Reprodução)

É falso que um âncora da CNN nos Estados Unidos tenha rido dos resultados das pesquisas de intenção de voto para presidência da República no Brasil neste ano. O vídeo que viralizou é uma edição feita a partir de uma gravação de 2015 de uma emissora ligada à Fox na Califórnia, e a reportagem falava sobre um crime local, não sobre a política brasileira. A pesquisa que foi inserida na tela durante a edição também é antiga.





Conteúdo verificado: Um vídeo com um apresentador que parece ter um ataque de riso ao comentar uma notícia, sendo possível notar o título do noticiário de uma emissora estadunidense. Ao lado, um recorte com uma imagem de pesquisa de intenção de voto para presidente no Brasil.

É falso que o resultado das pesquisas de intenção de voto na eleição brasileira deste ano tenha provocado uma crise de riso em um âncora da CNN nos Estados Unidos, como sugere um vídeo que viralizou no TikTok e no WhatsApp. O conteúdo investigado pelo Comprova, na verdade, é uma edição a partir de uma gravação feita em fevereiro de 2015 por uma emissora afiliada da Fox em Bakersfield, na Califórnia. A reportagem original tratava de um crime local envolvendo duas pessoas de 60 anos. Uma legenda falsa em português também foi incluída no vídeo, mas os termos não correspondem ao que o apresentador fala em inglês em nenhum momento.


A pesquisa que foi inserida na tela durante a montagem também não é recente. Ela foi feita pela Genial/Quaest em novembro do ano passado e divulgada pela CNN Brasil, de onde a arte incluída falsamente no vídeo pode ter sido retirada. O mesmo instituto voltou a divulgar resultados sobre a corrida presidencial brasileira em dezembro de 2021 e em janeiro e fevereiro de 2022.





O Comprova não conseguiu enviar mensagem pelo TikTok para o perfil @marcosbr371, que divulgou o conteúdo na plataforma.

O vídeo foi considerado falso por conter conteúdo editado para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Como verificamos?

O Comprova identificou alguns termos no próprio vídeo, usando-os para uma busca inicial que pudesse nos levar ao conteúdo original. No canto da imagem é possível observar o nome do noticiário, "Eyewitness News" e a emissora em que é exibido, "KBFX".

A partir de um recorte do vídeo original, o Comprova buscou as páginas do canal e do apresentador, Aaron Perlman, a fim de verificar se havia alguma menção ao episódio.

Com a transcrição do áudio em inglês, foi possível notar que não havia correspondência com as legendas.





Procuramos um contato do usuário da conta, na rede social TikTok, onde o vídeo com manipulação nas legendas havia sido publicado. Observamos a existência de outros conteúdos semelhantes, notando que a postagem de recortes de noticiários estrangeiros com legendas distorcidas, em tom de humor, sobre os futuros candidatos à presidência, em especial Jair Bolsonaro e Lula, é recorrente na referida conta.

Também a partir do vídeo que viralizou, fizemos uma busca por uma pesquisa da Genial/Quaest com os números apresentados e descobrimos que ela era de novembro do ano passado. Buscamos ainda por outros levantamentos feitos pelo mesmo instituto desde então.

Verificação

Vídeo é de sete anos atrás
O vídeo em questão foi publicado em 26 de fevereiro de 2015 no canal do YouTube do apresentador Aaron Perlman e compartilhado em sua conta do Twitter.





Trata-se de um episódio do noticiário matinal Eyewitness News, do jornal Bakersfield Now, ligado à KBAK-CBS e à Fox (daí a sigla "KB-FX") - e não da CNN americana - na cidade de Bakersfield, Califórnia. A conta oficial do Bakersfield Now no Twitter também compartilhou o vídeo na ocasião.

Antes de a câmera mostrar Perlman, a tela exibe a notícia da investigação de um caso de esfaqueamento de um senhor de 60 anos por outro com a mesma idade. Perlman, repentinamente, começa a rir enquanto o outro âncora está falando do caso.

A conversa que ocorre é bastante diferente da legenda. O apresentador apenas diz: "... Well, I'm not laughing at this story, because this story is serious... But... Man, I apologize... I can't deal... it's... There's a... good morning" (em tradução livre: "... Bem, eu não estou rindo dessa história, porque essa história é séria... Mas... Cara, eu peço desculpas... Eu não consigo lidar... É... Tem um... Bom dia").





A imagem exibida enquanto Perlman ri é uma montagem com a entrada de Bakersfield e o Fox Theatre, localizado na cidade, com os dizeres "NEW THIS MORNING", conforme é possível verificar na captura de tela do vídeo compartilhado pelo próprio apresentador em 2015.

Em seguida, é projetada a ilustração do mapa dos Estados Unidos, com a legenda "acidente mortal", e Perlman segue narrando a história de um acidente automobilístico.

Em nenhum momento o âncora fala em Brasil ou em "cadeia", como sugerido na legenda do vídeo compartilhado.

Segundo o site TVSpy, a transmissão havia sido feita no mesmo dia em que o âncora publicou o vídeo no YouTube. O apresentador trabalha na emissora há cerca de dez anos.

Pesquisa não é nova

Na arte incluída no vídeo que viralizou é possível ler que a pesquisa era da Genial/Quaest. Com essa informação e os números, fizemos uma busca por levantamentos desse instituto que tivessem os mesmos resultados. Descobrimos que a pesquisa foi feita em novembro de 2021. No site da CNN Brasil, o gráfico usado para divulgar os resultados é idêntico ao que aparece no conteúdo investigado.





Desde então, o mesmo instituto já fez pesquisas em dezembro de 2021, janeiro e fevereiro de 2022. Os números mais recentes são do último dia 9 e mostram o ex-presidente Lula (PT) com 45%; o presidente Jair Bolsonaro (PL) com 23%; o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos) e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) com 7% cada. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o deputado federal André Janones (Avante) têm 2% cada um; e a senadora Simone Tebet (MDB) aparece com 1%. Brancos, nulos e não vão votar somam 8%. Indecisos são 5%.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre as eleições brasileiras de 2022, a pandemia de covid-19 e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. O vídeo em questão teve mais de 37 mil interações no TikTok, além de ter sido sugerido por leitores do Comprova após circular no WhatsApp. Sugestões como esta podem ser encaminhadas pelo número (11) 97045-4984, ou clicando neste link.

Verificações sobre conteúdos relacionados a eleição são importantes porque informações verdadeiras são necessárias para a decisão de voto dos cidadãos. A desinformação também pode levar à perda de credibilidade do processo eleitoral, o que é danoso para a democracia. Conteúdos que começam como sátira também podem enganar.





A Agência Lupa verificou o mesmo conteúdo e o classificou como falso.

Recentemente, o Comprova mostrou que um boato usava pesquisa falsa para dizer que o presidente Jair Bolsonaro lidera em todos os estados. Também mostrou ser enganoso que o TSE descumpriu prazos para responder às Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas e ser falso que o eleitor não poderia votar neste ano sem a biometria.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Esta verificação foi feita por jornalistas que participam do Programa de Residência no Comprova.