“Nunca desejei dar reajuste apenas aos oficiais, não porque não merecessem, mas porque sabia de antemão que a corporação inteira esperaria por um aumento equânime para todos os escalões. Naturalmente, tal medida demandaria tempo para tramitar na Assembleia, além de gerar repercussão em todo o funcionalismo, bem como grande aumento do custo da folha de pagamento pessoal. Entretanto, no dia seguinte, os dirigentes da PMMG, inclusive o chefe do Estado-Maior, coronel Hebert Magalhães, voltaram ao meu gabinete. Lembraram uma greve de oficiais que acontecera no governo Newton Cardoso e propuseram que o reajuste de 11% aos coronéis fosse estendido aos oficiais, mediante gratificação, que não precisava ser aprovada pela Assembleia. Como acabei de observar, ponderei que seríamos levados a estender o reajuste também aos praças, aos detetives e aos agentes penitenciários, o que exigira tempo, discussão e aprovação dos deputados estaduais. Recebi, então, a informação de que aquela era a melhor alternativa, segundo a Secretaria de Administração, e que tudo seria comunicado à tropa.”
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Norte de Minas sofre com enchentes mesmo após trégua nos temporaisProtesto: forças de segurança desocupam MG-010 e liberam fluxo de carrosPolícia penal promete barrar visitas e banho de sol em presídios no sábadoEx-governador de Minas Eduardo Azeredo lança hoje livro de memóriasDeepfakes com Lula, Moro e Dilma alertam para risco nas eleiçõesEliziane Gama: 'A candidatura que fure a polarização sairá vitoriosa'Integra a autobiografia “O ‘x’ no lugar certo – Desafios e memórias da vida pública”, escrita durante os 18 meses – maio de 2018 a novembro de 2019 – em que esteve detido na sede do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros. Vinte e três anos após a denúncia de caixa 2 em sua campanha à reeleição ao governo de Minas de 1998, Azeredo foi condenado pela Justiça comum.
Essa decisão foi suspensa em junho de 2021 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por erros processuais, já que a competência para julgar ação do gênero seria da Justiça Eleitoral. No contexto do lavajatismo, Azeredo afirma ter sido vítima de lawfare e dá a sua versão da história, apelidada pela imprensa de “Mensalão Tucano”, porque estava envolvido no caso o publicitário Marcos Valério, mesma personagem do chamado “Mensalão do PT”.
Editado pelo Instituto Amilcar Martins pela Coleção Memórias de Minas, o livro, organizado pelo jornalista Francisco Brant, será lançado em 7 de março, segunda-feira, às 19h, na Academia Mineira de Letras. A venda de exemplares a R$ 45 será revertida para a Cidade dos Meninos.
Na Livraria Leitura o livro custará R$ 55. “A ideia inicial para escrever minhas memórias foi de Carlos Mário Velloso (ministro aposentado do STF). Comecei lá no Corpo de Bombeiros, a mão, em folhas avulsas porque achei importante deixar o registro de minha vida pública, principalmente, à frente da Prefeitura de Belo Horizonte (abril de 1990 – 1º janeiro de 1993) e do governo do estado (1º janeiro 1995 – 1º janeiro 1999)”, conta.
Na Livraria Leitura o livro custará R$ 55. “A ideia inicial para escrever minhas memórias foi de Carlos Mário Velloso (ministro aposentado do STF). Comecei lá no Corpo de Bombeiros, a mão, em folhas avulsas porque achei importante deixar o registro de minha vida pública, principalmente, à frente da Prefeitura de Belo Horizonte (abril de 1990 – 1º janeiro de 1993) e do governo do estado (1º janeiro 1995 – 1º janeiro 1999)”, conta.
SEM APOIO
Em suas memórias, Azeredo evita expor ex-aliados, mas fica subentendido em sua narrativa que nos momentos mais difíceis, em que procurava se defender das acusações, não recebeu apoio do PSDB, legenda que ajudou a fundar e da qual se desfiliou em maio de 2019. Azeredo conta que, em 2014, o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) fez chegar ao seu advogado a sugestão de que renunciasse ao mandato parlamentar.
“Entendi que Sampaio falava em nome do PSDB”, escreve. Com a renúncia ao mandato de deputado federal, o caso, que seria julgado no Supremo Tribunal Federal (STF), foi enviado à primeira instância.
“Entendi que Sampaio falava em nome do PSDB”, escreve. Com a renúncia ao mandato de deputado federal, o caso, que seria julgado no Supremo Tribunal Federal (STF), foi enviado à primeira instância.
Em prestação de contas, o livro aborda as crises enfrentadas. Apresenta a sua narrativa da greve da Polícia Militar de 1997, contextualizando a origem do movimento, que teve ampla repercussão nacional, uma vez que, em efeito dominó, espalhou-se por todos os estados. Ao discutir as políticas implementadas, entre as ações que considera positivas Azeredo menciona a implantação do Programa Saúde da Família, com 762 equipes em todo o estado, a instalação de 70 consórcios intermunicipais de saúde.
À frente da PBH, ele cita investimentos de 32% das receitas em educação – que afirma terem sido ampliados para 45% quando governador. E afirma ainda que, depois do governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, “o metrô da nossa capital não recebeu um palmo sequer de trilhos, mesmos nos governos simultâneos do PT na prefeitura, no estado e na Presidência da República”.
Reiterando apoio às urnas eletrônicas, Azeredo discorre, como técnico da IBM e mais tarde como especialista em informática, sobre a sua participação no processo de informatização da Justiça Eleitoral.
Reiterando apoio às urnas eletrônicas, Azeredo discorre, como técnico da IBM e mais tarde como especialista em informática, sobre a sua participação no processo de informatização da Justiça Eleitoral.
Última eleição em que PT e PSDB estiveram juntos no segundo turno – os dois partidos passariam a polarizar as disputas nacionais pelos próximos 20 anos –, Azeredo dedica boas páginas de suas memórias para reviver o pleito de 1994. Ele concorreu ao governo de Minas ao lado de Walfrido Mares Guia, vice na chapa.
Ao mesmo tempo em que detalha a atuação do ex-governador Hélio Garcia em sua campanha; relembra a dramática virada eleitoral sobre o então adversário Hélio Costa, favorito para vencer no primeiro turno. Pela estreita margem de 1,7 ponto percentual, Hélio Costa não venceu no primeiro turno. Como a apuração dos resultados era manual, as incertezas em relação à disputa seguiram por quase 10 dias, até o fim da contagem dos votos.
Ao mesmo tempo em que detalha a atuação do ex-governador Hélio Garcia em sua campanha; relembra a dramática virada eleitoral sobre o então adversário Hélio Costa, favorito para vencer no primeiro turno. Pela estreita margem de 1,7 ponto percentual, Hélio Costa não venceu no primeiro turno. Como a apuração dos resultados era manual, as incertezas em relação à disputa seguiram por quase 10 dias, até o fim da contagem dos votos.
No segundo turno das eleições de 1994, não apenas Hélio Garcia entrou de forma assertiva na campanha de Eduardo Azeredo, como o então tucano – que nas eleições 1992 à Prefeitura de Belo Horizonte havia apoiado, no segundo turno, o candidato do PT, Patrus Ananias – teve a retribuição da legenda.
Há farto material fotográfico no livro, inclusive registros da campanha de segundo turno, em que Patrus Ananias (então prefeito de BH), Chico Ferramenta (ex-prefeito de Ipatinga), Jô Moraes (ex-deputada federal), Walfrido Mares Guia e Eduardo Azeredo panfletam na madrugada, à porta da Fiat, em Betim. Azeredo também teve a adesão naquele segundo turno de José Alencar Gomes da Silva, que no primeiro turno fora candidato pelo então PMDB.
Depois de eleito e empossado, Azeredo recebeu visita de cortesia de Lula no Palácio da Liberdade, que lhe entregou o relatório de sua Caravana pelo Jequitinhonha. Lula havia sido derrotado por Fernando Henrique Cardoso naquele pleito. Acreditando que Hélio Costa venceria a eleição no primeiro turno, FHC hesitou em apoiar a campanha de Azeredo.
Quatro perguntas para...
Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas
Qual foi a motivação para o livro e quando foi escrito?
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que nunca fui escritor, cheguei até a editar a coletânea “Janelas de Minas”, de fotografias, um outro de entrevistas quando fui governador, outro que foram edições de discursos que fiz no Congresso Nacional. A ideia do livro foi preencher uma lacuna, que eu realmente não tinha feito um registro de minha vida de governo, principalmente à frente da Prefeitura de Belo Horizonte (abril de 1990 – 1º janeiro de 1993) e de governo do estado (1º janeiro 1995 – 1º janeiro 1999). No Congresso Nacional, foi uma época em que divulguei um pouco mais as separatas (textos, artigos e trabalhos publicados em edições legislativas). Então, aproveitei para registrar esse período. Assim, procurei abordar também e discutir uma certa injustiça que se faz aos políticos, pois quanta coisa que fazemos, quanto esforço, as pessoas esquecem. Eu precisava também apontar os equívocos que aconteceram no processo judicial contra mim, que a cada dia ficam mais claros.
A Justiça foi usada no Brasil para perseguir pessoas?
Sim, não tenho dificuldade para dizer que sim. A legislação foi desvirtuada e interpretada ao prazer do momento, alguns dos juízes chegaram a dizer que decidiram sob o calor da imprensa como um todo. E aí tem uma frase do Bonifácio Andrada que reproduzi no livro. Ele diz: “No passado, os juízes tinham muito receio de condenar, com medo de errar. Hoje eles têm receio de absolver”. Não posso garantir, mas tenho informações de que o Rodrigo Janot (então procurador-geral da República) fez isso para fazer o contraponto ao momento em que o PT vivia. Mas digo, foi algo incentivado por umas poucas pessoas do PT, pois tenho um episódio, registro no livro, também, que a bancada do PT no Senado, de 11 senadores, se reuniu para decidir se pedia a minha cassação, quando surgiram os rumores. Dez me apoiaram, só um votou a favor.
Como foi a permanência no Corpo Bombeiros, que reintegrou grevistas da PM da greve de 1997 expulsos da corporação por motim?
A solução que o Itamar Franco arrumou foi mandá-los para o Bombeiros. Ele readmitiu contra a vontade do Comando da Polícia Militar. Mas como ele tinha prometido eleitoralmente que daria anistia, esse contingente processado foi absorvido no Corpo de Bombeiros. E deram independência ao Corpo de Bombeiros, que antes era um batalhão da PM. Agora, ali é Academia de Bombeiros, então eu não tinha maior contato com os integrantes.
Qual é a sua opinião hoje sobre movimentos grevistas de policiais militares?
Eu continuo com a mesma opinião. Acho que uma força armada não pode fazer greve não, principalmente de rua. E cabe ao comando ter o comando.
Serviço
“O 'x' no lugar certo – Desafios e memórias da vida pública”
Eduardo Azeredo
Editado pelo Instituto Cultural Amilcar Martins
92 páginas
R$ 55 (Venda na Livraria Leitura/BH Shopping)