O presidente Jair Bolsonaro (PL) reafirmou ontem a postura de neutralidade do Brasil em relação ao conflito entre a Ucrânia e a Rússia ao participar da cerimônia de início do novo contrato das Rodovias Presidente Dutra e Rio-Santos em São José dos Campos (SP). "Hoje, temos um problema a 10 mil km daqui. E a nossa responsabilidade, em primeiro lugar, é com o bem-estar do nosso povo. A nossa postura tem mostrado ao mundo como estamos agindo neste episódio. Estamos conectados com o mundo todo. E o equilíbrio, a isenção e o respeito a todos se faz valer pelo chefe do Executivo. O Brasil não mergulhará em uma aventura. O Brasil tem o seu caminho, respeita a liberdade de todos, faz tudo pela paz, mas, num primeiro lugar, temos que dar exemplo para isso”, alegou.
Na viagem à Rússia no mês passado, Bolsonaro se mostrou simpático à figura do presidente da Rússia, Vladimir Putin com o qual disse ter valores comuns. Sentados em poltronas próximas e em breve discurso de ambos os lados, sem detalhar ao que se referia, o chefe do Executivo brasileiro afirmou que o país "é solidário à Rússia". Já em coletiva no último dia 27, Bolsonaro adotou uma posição de neutralidade sobre o confronto no Leste Europeu. De acordo com o presidente, romper com a Rússia poderia acarretar em fome e miséria, “e não queremos trazer mais sofrimentos”.
A respeito da invasão russa à Ucrânia, o presidente, em tom irritado, questionou a um dos jornalistas: “Você quer que eu faça o que para acabar com a guerra? Tudo que eu podia fazer eu já fiz e vou continuar fazendo", disparou. O presidente garantiu ainda na data que era um “exagero falar em massacre” na Ucrânia. “Eu entendo que não há interesse por parte do líder russo de praticar um massacre. Ele está se empenhando em duas regiões do Sul da Ucrânia, nas quais, em referendo, mais de 90% da população quis se tornar independente, se aproximando da Rússia. Uma decisão minha pode trazer sérios prejuízos para o Brasil", reiterou.
Um dia depois, em resposta às declarações de Bolsonaro, o Encarregado de Negócios da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, disse que o presidente está “mal-informado” e sugeriu que Bolsonaro dialogasse com o presidente ucraniano. No mesmo dia, à noite, o chefe do Executivo afirmou que não tem o quê conversar com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. “Alguns querem que eu converse com Zelensky, o presidente da Ucrânia, eu, no momento, não tenho o que conversar com ele. Eu lamento, se depender de mim, não teremos guerra no mundo.”
Na quinta-feira, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, ligou para Bolsonaro para conversar sobre o cessar-fogo na guerra da Ucrânia. Segundo a assessoria do britânico, ambos estadistas concordaram sobre a questão, e “o primeiro-ministro disse que as ações do regime russo na Ucrânia são repugnantes”. O premiê ainda teria acrescentado que “civis inocentes estão sendo mortos e cidades, destruídas, e que o mundo não pode permitir que a agressão do presidente Putin tenha sucesso”.
Johnson ainda teria relembrado a aliança "vital" com o Brasil no período da Segunda Guerra Mundial e que a força do país é “novamente crucial nesse momento de crise”.guerra no mundo". Ainda de acordo com a assessoria do governo do Reino Unido, Boris Johnson destacou: “Juntos, o Reino Unido e o Brasil precisavam pedir o fim da violência”.
País manifesta temor na ONU
Em manifestação feita ontem, durante sessão extraordinária da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, o embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, manifestou preocupação com as consequências que um acidente nuclear na Ucrânia traria “para todos os seres humanos e ao meio ambiente”. Para o diplomata, há risco iminente de uma explosão de grandes proporções na usina nuclear de Zaporizhzhia, tomada durante a madrugada de confrontos na Ucrânia. “A questão da segurança das instalações nucleares devem ser emergenciais. Radiação. Não sabe onde começa a Rússia ou onde termina a Ucrânia”, pontuou.
Especialistas internacionais estimam que o impacto de uma explosão poderia ser equivalente a 10 vezes o do acidente de Chernobyl, mesmo reconhecendo que a usina de Zaporizhzhia é mais segura. "Fazemos um apelo para que Rússia e Ucrânia façam conversações rumo à paz", finalizou o embaixodor.