Crítico ferrenho de Paulo Guedes, ministro da Economia, o deputado federal André Janones (Avante-MG) não poupa palavras ao descrever a atuação do auxiliar do presidente Jair Bolsonaro (PL) diante da crise dos combustíveis, agravada pelo mais recente aumento anunciado pela Petrobras.
Ontem, Janones, pré-candidato à presidência da República, concedeu entrevista exclusiva ao Estado de Minas e afirmou que "não existe sensibilidade" por parte do ministro.
Leia Mais
Bolsonaro: 'Espero que a querida Petrobras retorne preços de combustíveis'Janones sobre Bolsonaro: 'Temos um candidato na cadeira de presidente'Kalil diz estar aberto ao diálogo com Lula: 'Tem posição social clara'Se eleitor de Ciro migrasse para Lula, petista venceria no primeiro turnoSe dependesse apenas do voto feminino, Lula venceria no primeiro turnoO enfrentamento de Janones a Guedes e Bolsonaro remonta a 2020, quando Executivo e Legislativo debatiam a possibilidade de criar um auxílio emergencial para amparar pessoas financeiramente impactadas pela pandemia de COVID-19.
O deputado, que acumula mais de seis milhões de seguidores em Facebook e Instagram, impulsionou vertiginosamente o alcance de seu mandato quando passou a encampar a bandeira da transferência de renda.
"Ele realmente acredita que é um problema a empregada ir à Disney, que se pagar um auxílio emergencial as pessoas não vão querer trabalhar – pois R$ 600 é muito dinheiro, como se fosse suficiente para o brasileiro realizar todas as aspirações. A falha não é dele, mas de quem o colocou lá", afirmou, mencionando o valor repassado aos beneficiários durante a primeira fase do auxílio emergencial.
A fala de Guedes sobre a ida de empregadas ao famoso destino turístico dos Estados Unidos ocorreu em fevereiro de 2020. A gafe foi cometida pelo ministro enquanto ele criticava os tempos de baixa cotação do dólar. Ontem, vale ressaltar, US$ 1 representava R$ 5,16.
Presidenciável quer nova política de preços
O último reajuste anunciado pela Petrobras entrou em vigor há cinco dias. O preço da gasolina nas refinarias cresceu 18,8%. As distribuidoras, que antes pagavam R$ 3,25 por litro, agora têm de desembolsar R$ 3,86. O litro do diesel, por sua vez, passou de R$ 3,61 para R$ 4,51 – 24,9% a mais. Houve, ainda, majoração de 16,1% no gás de cozinha.Para André Janones, é preciso alterar a lógica que rege a definição de preços dos combustíveis nas refinarias. Desde 2016, os custos sofrem influência do valor do barril de petróleo e da variação do dólar. O modelo, segundo ele, favorece apenas investidores e acionistas da Petrobras.
"Defendo onde você inclua o custo da produção e estipule uma taxa de lucro fixa, que seja discutida com os investidores", explicou.
"Não precisa ser um gênio da economia ou buscar alguém nos EUA para resolver. Cerca de 80% do combustível consumido aqui é refinado em nosso país; 20% vem de fora. Na hora de estipular o preço, optou-se por uma política em que esses 20% ditam o preço dos 100%", pontuou.
O presidenciável aproveitou a oportunidade para garantir que alterar a política de preços da estatal não gera fuga de capital.
"O que precisa para fazer isso ? Querer. Se é tão simples, por que ninguém faz? Porque você vai mexer no bolso de 'meia dúzia' de pessoas que controlam a economia do Brasil. Alega-se que esses investidores vão deixar de investir na Petrobras, sair do país e que a Petrobras vai quebrar. Mas como a Petrobras existia até 2016 se ela vai quebrar caso deixemos de adotar a política de cotação internacional?", protestou.
"Até 2015, essa política não existia. Ela foi adotada como maneira de aumentar o lucro dos investidores. Se você reduzir o lucro em 300%, ainda assim seria um negócio extremamente vantajoso", emendou ele.