Descrença na política, polarização, discussão com os pais, falta de informação, acreditar que o assunto não interfere na sua vida e o voto ainda não ser obrigatório são alguns dos motivos citados pelos jovens ouvidos pela reportagem do Estado de Minas para a falta de interesse em relação à política.
Essa percepção se reflete também nos números, já que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou, em fevereiro, o menor número de adolescentes de 16 e 17 anos com título de eleitor da história. De acordo com o último levantamento, consolidado em 28 de fevereiro, 834.986 jovens tiraram o documento até o momento. Nas últimas eleições gerais, em 2018, foram mais de 1,4 milhão de pessoas dessa faixa etária aptas para votar no mesmo mês.
Considerando que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem mais de 6 milhões de pessoas com idades entre 16 e 17 anos, o número de jovens com título de eleitor em 2022, até agora, representa cerca de 13,6% do total de habilitados para tirar o documento. Em fevereiro de 2018, o percentual era de 23,3%.
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Para tentar reverter esses números, o TRE-MG afirma que, assim como o TSE, “tem feito publicações nas redes sociais e no site incentivando o alistamento dos jovens de 16 e 17 anos e orientando-os sobre como solicitar a primeira via do título de eleitor.
O TRE também tem o projeto Eleitor do Futuro, por meio do qual faz palestras em escolas a respeito do processo eleitoral e do papel do(a) eleitor(a) no processo de consolidação da cidadania política e da democracia. Há um outro projeto, chamado Rede de Conversas, realizado em parceria com a Câmara Municipal de BH, também com esse objetivo. Devido à pandemia, porém, essas ações são apenas virtuais. Não estão sendo realizados eventos presenciais”.
IMPORTÂNCIA DO VOTO
Pedro Guedes, de 17 anos, é estudante de uma escola particular localizada na Região Centro-Sul de BH e já começou o processo para tirar o título. “Enviei os documentos na terça-feira.” Ele conta que decidiu votar, mesmo ainda não sendo obrigatório, porque tem opiniões sobre a política. “Eu acho que é ser condizente com o que você acredita e manifestar isso por meio do voto.”
O estudante destaca que é importante votar porque essa escolha interfere diretamente tanto na vida dele quanto na das outras pessoas. “Eu acho que é um jeito de fazer o que eu acredito, ser levado em consideração.”
Sobre o desinteresse dos jovens na política, ele aponta dois fatores. “Primeiro, existe uma descrença na política, as pessoas veem os problemas que envolvem e acabam ficando descrentes no sistema político como um todo. E outro, é uma noção de que elas não precisam participar, é complicado demais ou não leva a nada. Como se a política fosse algo externo e que não nos afeta, mas isso não é verdade.”
Ele acredita que se interessa por política por influência dos pais, mas também dos amigos. “Acho que até a internet interfere nisso, pelas coisas que a gente lê.” Pedro pesquisa sobre os candidatos, noções ideológicas e notícias em sites de notícias e vídeos no YouTube.
Luísa Barros, de 16, estuda no mesmo colégio de Pedro e tirou o título no fim de janeiro. Ela é categórica ao dizer por que decidiu participar das eleições, mesmo ainda não sendo obrigatório para a faixa etária dela.
“Votar é uma forma direta de exercer a democracia no país. O momento que o Brasil está vivendo hoje exige muito a participação da população, é um momento de muita desigualdade social. A gente precisa votar para ter nossos representantes nos âmbitos de poder.”
Para a estudante, diferentemente dela, os jovens da mesma idade não se interessam pelo assunto por falta de informação. “Muitos não têm consciência da importância do voto e não têm interesse de buscar sobre política, entender os candidatos, o que está acontecendo.”
O estudante Matteo Trevisan, de 17, considera as eleições deste ano as mais importantes. “Por tudo que temos passado nos últimos anos, mostra essa necessidade e o voto é a principal maneira de conseguir mudar a política. Principalmente eu que não tenho nenhum poder para mudar a política diretamente, o voto é a melhor forma.”
Ele conta que começou a se interessar por política quando quis entender o que estava acontecendo com o país. “Políticas sociais me interessam muito. Mas, a maioria dos jovens que eu conheço não se interessam pelo assunto porque são pessoas que não precisam da política. Acham que por não entender a política, ela não vai fazer falta na vida delas. A política vai mudar a vida de todo mundo, mas a deles é mais tranquila, pode entrar e sair presidente que a vida deles não muda. O desinteresse vem muito do cenário que a gente vive. Os políticos querem que, principalmente, a população jovem não entenda de política.”
Matteo começou o processo para tirar o documento há duas semanas. Ele se informa sobre o cenário político por reportagens, nos noticiários na TV e nas redes sociais. “Gosto de acompanhar pessoas que falam sobre política social, pessoas trans, negras, para entender o pensamento delas.”
Perguntado sobre o que mais vai influenciar na escolha de seu voto, Matteo diz que são os debates. “Para mim, é a melhor maneira de entender como vai ser a forma de política do candidato. Na hora de fazer campanha, os políticos falam coisas parecidas, mas no debate a gente consegue entender mais o que eles querem.”
Eleitorado jovem apto a votar nas eleições de 2022
Minas
16 anos: 18.323
17 anos: 54.056
Brasil
16 anos: 225.244
17 anos: 609.742