O primeiro ato do novo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), que tomou posse ontem, em solenidade na Câmara Municipal, foi assinar o projeto de lei da redução da tarifa dos ônibus em R$ 0,20 (de R$ 4,50 para R$ 4,30) e entregar à presidente do Legislativo, Nely Aquino. "Espero que a partir deste momento a Câmara possa estudar, melhorar o que for preciso, aperfeiçoar aquilo que não está muito bom e aprovar e votar rapidamente, porque, se demorarmos muito para encontrar uma solução, ou teremos que aumentar a tarifa para um valor muito alto ou o sistema vai parar”, afirmou Fuad, ao assumir a cadeira de Alexandre Kalil, que renunciou para disputar o governo de Minas no pleito de outubro.
O transporte público, inclusive, será a prioridade do novo prefeito, que tem pela frente um mandato de dois anos e nove meses. “É um problema sério, agravado agora pela greve dos metroviários, que temos trabalhado. Estamos conversando com a presidente da Câmara, Nely, para encontrar uma solução para resolver essa questão da redução da passagem, que é uma coisa única no Brasil, mas estamos nos antecipando e pagando a gratuidade”, afirmou ele em discurso.
A proposta de redução de tarifas chegou a ser apresentada por Kalil à Câmara, mas não houve consenso entre Executivo e Legislativo e ela acabou devolvida. Fuad Noman disse que o texto foi reajustado por acordo entre técnicos da prefeitura e da Câmara, o que possibilitou a nova apresentação ontem. Ele comentou quais pontos foram modificados: “Na realidade, as diferenças são muito pequenas. Uma das coisas que modificamos foi que incluímos o transporte suplementar, que estava fora anteriormente. E explicamos claramente para a Câmara todas as questões que estavam em dúvida. Qual o contrato? Explicamos.”
O novo chefe do Executivo ressaltou de vai garantir maior eficiência do serviço. “Assumimos um compromisso muito grande fechado com o Setra [Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte] de que temos que melhorar o serviço público, temos que melhorar o transporte de alguma forma. A prefeitura vai investir? Vai, mas temos que ter uma contrapartida. Sabemos que o sistema está em um momento dificílimo, mas temos que fazer”, destacou.
Fuad também citou outros problemas que deverão ser pautados com urgência na prefeitura. “A prefeitura tem diversos problemas. A cidade de Belo Horizonte tem diversos problemas, muitos deles causados ainda pela pandemia. E temos várias frentes de trabalho que temos que cuidar. Eu diria que as enchentes são um problema sério, assim como o desabamento de encostas, que se nós não fizermos agora na seca, na chuva morre todo mundo. Temos que priorizar isso”, disse.
“Ele falou também sobre outros temas importantes para a cidade. “E a educação? As crianças ficaram dois anos paradas, dentro de casa, muitas delas sem nenhum tipo de equipamento para aprender. Foram dois anos de ensino perdidos e não adianta eu chegar agora e dar um ano normal. Tenho que criar algum mecanismo para repor essas aulas, para ajudar essas crianças a recuperarem o tempo perdido. Na saúde ainda temos sérios problemas, a COVID ainda não foi embora, lamentavelmente, a dengue tá chegando. Temos as cirurgias eletivas que ficaram paradas por muito tempo e temos que atacar, temos várias ações dentro da saúde que estão sendo desenvolvidas e vão continuar.”
Vereadores esperam diálogo
A posse do Fuad Noman no comando do Executivo da capital mineira gerou expectativa positiva entre os vereadores. A presidente da Câmara, Nely Aquino, afirmou, durante a posse de Fuad Noman, que ele terá espaço aberto para o diálogo. "Prefeito Fuad Noman, o senhor encontrará nesta Casa apoio, o diálogo e o respeito necessários para que possa administrar Belo Horizonte. O que esperamos do seu governo é reciprocidade às nossas intenções. Essa Casa tem prerrogativas que seguem e quer seguir votando e aprovando o que é de interesse público", disse Nely, em discurso de tom apaziguador.
Vereadores ouvidos pela reportagem do EM também foram na mesma linha de Nely Aquino. Álvaro Damião (União Brasil), que já foi vice-líder de governo na Câmara de BH, avalia que a prefeitura pode se aproximar do Legislativo e que não haverá problemas quanto ao atendimento com a nova gestão. "A expectativa é muito boa. O estilo Kalil, que é um estilo dele, da pessoa dele, é um estilo diferente do Fuad. Não que o Kalil não deixasse o diálogo, não que o Kalil não quisesse as pessoas participando do mandato dele. Posso falar porque eu nunca tive problema nenhum com o Alexandre, todas as vezes que pedi, tive agenda com ele não só para dialogar como para resolver demandas", começou.
"A gente sabe que o jeito Kalil de ser acaba fazendo com que pessoas da própria Câmara, outros vereadores que não aceitam isso, não dialogassem e usassem essa falta de diálogo como motivo para não ir à prefeitura. O Fuad é outro tipo de pessoa, jeito de governar e acredito que não teremos esse tipo de problema", afirmou também Damião.
Vereadora mais votada da história de Belo Horizonte, com 37.613 votos, Duda Salabert (PDT) disse que também acredita em mais diálogo com Fuad Noman. "Espero que essa nova gestão seja marcada pelo diálogo. Vivemos um contexto de uma crise socioeconômica ímpar na história e não existe outra forma de superar essa crise que não seja pelo diálogo entre os poderes Executivo, Legislativo, tanto na esfera municipal quanto na estadual e federal, essa é a minha expectativa, espero que não me frustre", afirmou.
COVID ainda é preocupação na capital
Em sua posse como novo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman destacou, no discurso na Câmara Municipal, que a capital mineira ainda sofre os efeitos da pandemia de COVID-19. O novo coronavírus continua fazendo vítimas na cidade. A prefeitura contabilizou 1.400 novos casos de segunda-feira para ontem. Agora, são 374.686 diagnósticos positivos, conforme o boletim epidemiológico divulgado ontem, desde o início da pandemia, em março de 2020. Já o número de mortes na cidade em decorrência da doença subiu para 7.654, sendo quatro nas últimas 24 horas.
Os indicadores da pandemia em Belo Horizonte ainda apresentam pequenas oscilações, mas mantêm o nível verde. A taxa de transmissão do coronavírus recuou de 0,93 para 0,91. Já a taxa de ocupação nas UTIs subiu de 26,6% para 28,6%. Nas enfermarias também subiu, de 22,1% para 22,4%. Em acompanhamento médico estão 845 pessoas. O número de recuperados chega a 366.187.
Em Minas Gerais, foi registrada uma morte e 3.043 casos confirmados de COVID-19 nas últimas 24 horas, de acordo com os dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), divulgado ontem. Desde o início da pandemia, o estado registrou 60.770 óbitos e 3.320.560 casos do novo coronavírus. Atualmente, 56.407 pessoas estão sendo acompanhadas (pacientes que ainda estão em tratamento ou que o registro ainda não foi feito pelas secretarias municipais de Saúde ao governo mineiro).