A nova secretária de Saúde de Belo Horizonte será Cláudia Navarro, nomeada ontem pelo prefeito Fuad Noman. Ex-presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), ela é doutora em reprodução humana, especialista em ginecologia e obstetrícia, graduou-se pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atualmente integra o Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG). Em entrevista ao Estado de Minas, ela apontou as prioridades de sua gestão, muitas decorrentes ainda da pandemia do novo coronavírus."Tem problemas que acabaram se acumulando, principalmente por conta da pandemia. Uma grande preocupação hoje é com a fila da cirurgia eletiva, porque teve que se dar prioridade dos leitos para a COVID, o que atrasou cirurgias, consultas, exames", declarou.
Cláudia Navarro, entretanto, diz que a COVID precisa ser considerada ainda. "A pandemia não pode ser deixada de lado. Apesar de os números terem estabilizado e estar caindo, ainda é uma questão muito importante e que a gente tem que continuar para que não volte a subir", ponderou. (Confira ao lado entrevista da secretária sobre as prioridades de sua gestão.)
Sobre o fato de ainda integrar o CRM-MG, a nova secretária de Saúde disse que vai oficializar imediatamente sua saída do cargo de conselheira da entidade. "Acho que não é compatível, não só do ponto de vista filosófico, como também do prático. Não consigo ser conselheira e secretária da Saúde, porque quando me proponho a assumir algum desafio, eu realmente dedico o máximo que eu posso", declarou à reportagem.
Ela foi presidente do CRM-MG de 2018 a 2020 e afirma que o pedido para deixar o órgão já havia sido comunicado à presidência e aos demais conselheiros. “Eu gostaria de dizer que eu sou funcionária pública da rede municipal, que trabalhei em centro de saúde, na atenção secundária, no hospital das clínicas, sempre com o Sistema Único de Saúde (SUS). Aposentei-me este ano, mas tenho uma experiência enorme", ponderou a secretária.
REAÇÃO
Na última segunda-feira, 40 entidades, coletivos e vereadores se manifestaram contra a presença de uma integrante do CRM-MG na chefia da Secretaria Municipal de Saúde após o nome da atual segunda vice-presidente, Fabiana Prado dos Santos Nogueira, ser especulado para a vaga. “O SUS-BH não é espaço de privilégio de corporações, muito menos quando a entidade em questão se posiciona de forma equivocada em relação à saúde pública em vários campos, sempre defendendo interesses próprios e privatistas em detrimento da saúde da população”, disseram no comunicado.
De acordo com Navarro, a sua nomeação não aconteceu pelos cargos que ocupou no CRM-MG, e ressaltou que os protestos não são contra ela. "Acho que não existe nenhum questionamento de a profissional Cláudia Navarro assumir o cargo. O questionamento era: 'O CRM está dentro da secretaria? O CRM está assumindo a secretaria?'. Não. Quem está assumindo a Secretaria Municipal de Saúde hoje é uma profissional médica que trabalhou 30 anos numa linha de frente e que tem uma experiência enorme no SUS", ponderou. O CRM-MG declarou, em nota enviada ao Estado de Minas, que neste momento não vai se pronunciar sobre a carta, nem sobre a nomeação da ex-presidente da entidade.
CINCO PERGUNTAS PARA...
Cláudia Navarro
Secretária Municipal de Saúde de Belo Horizonte
O uso de máscaras vai continuar sendo obrigatório em locais fechados?
Ainda não temos nenhum posicionamento. Vamos com calma, vamos olhar os dados. É uma decisão de toda a equipe, que envolve vários profissionais, mas sem dúvida nenhuma vai ser uma das questões a que daremos prioridade. A gente tem que ter todo o embasamento técnico, científico e estatístico para não tomar nenhuma decisão que atrapalhe o bom andamento que tivemos no enfrentamento da pandemia.
Qual o seu posicionamento sobre o fim do Comitê de Enfrentamento à COVID-19?
O Comitê de Enfrentamento à COVID foi criado em 2020, com término previsto para 31 de março de 2022. Ou seja, fui nomeada hoje [ontem] e o comitê vai se encerrar coincidentemente amanhã [hoje] por uma decisão que foi tomada há dois anos.
Os profissionais que integram o Comitê de Enfrentamento à COVID vão continuar?
Os funcionários não estarão totalmente fora por causa do encerramento do comitê. Decisões vão ser tomadas, nós vamos consultá-los. Do ponto de vista prático operacional eu não sei. Só quero dizer que o trabalho deles foi brilhante e não pode ser desconsiderado de uma hora para outra de forma alguma.
Quais medidas vão ser tomadas para o combate à dengue?
Já conversei muito com os responsáveis pela área de vigilância, sem dúvida é uma grande preocupação. A gente sabe o que significa uma epidemia de dengue e são vários os cuidados. Ter armadilhas para saber analisar o crescimento, trabalhar com drones que são capazes de atingir áreas muito pequenas, como residências, usar mosquitos não contaminados para substituir e combater, além de outras medidas.
Como resolver os problemas de infraestrutura nas unidades de saúde?
Temos 152 centros de saúde distribuídos em nove regionais. A gente tem que se preocupar com muita coisa. A questão da estrutura física, por exemplo, pois alguns ainda funcionam em antigas residências que foram adaptadas e isso por si já prejudica uma boa assistência. O ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) investiu na reforma ou construção de 50 unidades e 33 já foram entregues. A expectativa é que até outubro todas as unidades estejam funcionando bem. Uma outra questão que atrapalha ou dificulta a assistência é a população saber a diferença entre um centro de saúde e uma unidade de pronto-atendimento (UPA). Muitas pessoas da UPA poderiam estar nos centros, e esse é um ponto de gargalo.