O presidente Jair Bolsonaro (PL) saiu maior do que entrou da janela para troca de partidos, encerrada na última sexta-feira. Isso porque o resultado foi o aumento das bancadas das legendas que o apoiam, tanto no Congresso quanto nos estados. Dessa forma, ganha tração uma das estratégias mais importantes para o projeto da reeleição: a construção de palanques fortes nas regiões Sul e Sudeste. Na primeira, o peso do bolsonarismo é grande, mas, na segunda, nem tanto. É sobretudo nelas que o presidente pretende compensar algumas dificuldades, como, por exemplo, a de tirar votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste — onde o PT desfruta de ampla vantagem.
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Licitação do governo custa R$ 732 mi a mais para a compra de ônibus escolarMesmo sem filiar Kalil, PSB deve apoiar ex-prefeito ao governo de MinasZema quer debater alianças antes de definir vice para campanhaEduardo Bolsonaro debocha de tortura sofrida por Miriam Leitão na ditaduraPresidente do Flamengo desiste de presidir conselho da PetrobrasEsquerda encontra dificuldades para costurar alianças federais e estaduaisTrocas partidárias deixam Centrão fortalecido e esquerda reduzidaSérgio Praça, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que o presidente tem procurado estreitar as pontes lançando candidatos não apenas para abrir caminho para a campanha, mas, também, defendê-lo nos debates. "Nessa eleição, Bolsonaro vai ser uma figura central nos pleitos estaduais por ser polêmico, determinar em grande medida a agenda pública sobre o que as pessoas conversam. Ele tem procurado ter candidatos que o defendam em todos os estados, mas no Sul e no Sudeste é mais bem avaliado. Assim, aproveita os momentos de pico de popularidade para ir para onde é menos querido", aponta.
Segundo Praça, "o bolsonarismo terá um espaço na agenda de governadores, deputados federais e estaduais, o que é incomum. Todo candidato a deputado, Senado e governo vai falar do Bolsonaro de alguma maneira, para o bem ou para o mal".
Já o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, analisa que o plano de Bolsonaro passa por apostar em locais onde já possui relevância. "No Sul e no Sudeste, onde tem grande aceitação, quer se consolidar. Essas pontes mais ao sul são uma tentativa de se reafirmar na construção de palanques com o percentual que o levaria para o segundo turno", ressalta.
Prando destaca, ainda, que Bolsonaro não se aventura por terreno desconhecido. "Ele permanece dentro daquilo que já conhece e que são seus apoiadores. Quer consolidar isso, chegar no segundo turno onde ele imagina que o sentimento antipetista possa, de novo, dar a ele a vitória", observa.
Para o também cientista político André Rosa, ao reforçar os laços no Sul e no Sudeste, Bolsonaro tenta manter a hegemonia. "Mas o principal foco dele nisso é pela estratégia de Lula de trazer Alckmin para vice. Isso significa uma grande perda de votos para o presidente, se comparado com 2018. Não é uma estratégia de captura de votos, mas de sobrevivência, para não perder a base que já tinha", avalia.