Jornal Estado de Minas

GOVERNO

Trocas na Petrobras: pressão se volta para a indicação de Adriano Pires

Engendrada para dar um respiro ao governo no quesito preço dos combustíveis, a troca de comando na Petrobras tem tudo para se transformar em mais um ponto de desgaste, especialmente depois da desistência do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, de liderar o conselho de administração da empresa. A expectativa no meio político e empresarial é que esse recuo de Landim respingue em Adriano Pires, indicado para a presidência da Petrobras no lugar do general Joaquim Silva e Luna.





No meio político, a guerra que começou por causa da subida dos preços, agora se agravou com a substituição de Silva e Luna. E vai ficar pior, a contar pela pressão dos parlamentares. “Com o general, tínhamos a segurança de que, pelo menos, não haveria falcatruas. Agora, não sabemos”, diz o presidente da Frente Parlamentar de Energia Limpa, deputado Danilo Forte (UB-CE).

“O Brasil não pode retroagir. O mundo hoje promove acordos, respira em busca da energia limpa. A vinda de pessoas comprometidas com o setor de gás é o compromisso com o atraso”, completa.



A confusão está posta. O PT já foi ao Ministério de Minas e Energia pedindo a relação de todos os clientes de Adriano Pires, que até aqui, atuava como consultor na área de gás. O procurador Lucas Furtado, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, já pediu a três instituições que investiguem se há conflitos de interesses nessa indicação de Adriano Pires.

Passado revirado

O pedido foi feito à Controladoria Geral da União (CGU), à Comissão de Ética Pública e à própria Petrobras. Até aqui, a estatal não se pronunciou oficialmente, nem sobre esse pedido de investigação relativo a Adriano Pires e nem sobre a desistência de Landim. O Ministério de Minas e Energia soltou uma nota ontem.





No Parlamento, já existe um pedido de convocação de Pires, para que ele vá ao Senado. Houve um chamamento de Silva e Luna aprovado em 8 de março, mas até agora ele não compareceu. E, com sua saída da Petrobras, o governo avalia que uma audiência com o general no Congresso pode ser mais desgastante para o governo.

Leia também: Quem é Adriano Pires, indicado para ser presidente da Petrobras

Se até os primeiros dias de março os congressistas queriam apenas informações sobre os preços e o que a Petrobras poderia fazer a respeito, agora o foco mudou. Os parlamentares querem saber as ligações de Pires com os produtores de gás. Landim, por exemplo, que desistiu de presidir o conselho de administração da companhia, é amigo do empresário Carlos Suarez, sócio de distribuidoras de gás. E, no mercado, há quem suspeite que a desistência esteja diretamente relacionada a essas ligações com o setor, que podem prejudicar mais do que ajudar o governo politicamente.

Lava-Jato

Enquanto os congressistas não obtiverem a lista de todos os clientes de Pires, a Petrobras não terá sossego para tocar a sua vida, já tão conturbada desde o governo do PT, quando viu vários de seus diretores presos por causa de desvio de recursos. Durante a operação Lava-Jato, por exemplo, o então ex-gerente de tecnologia da empresa Pedro Barusco devolveu US$ 97 milhões.

Há sete anos, ele recorreu à delação premiada e, além de devolver dinheiro, acusou PP, MDB e PT de envolvimento no esquema, citando nominalmente o tesoureiro petista, João Vaccari Neto. 

Se o governo insistir no nome de Adriano Pires, ele, além de garantir que seus clientes não terão influência sobre a companhia, ainda terá de encontrar uma solução para o caso dos impostos. “Hoje, pagamos 31% em alguns estados de ICMS sobre os combustíveis, enquanto o do uísque chega a 25%. Isso precisa ser revisto”, diz Danilo Forte.