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Estado de Minas GOVERNO

Economista Adriano Pires desiste de assumir presidência da Petrobras

Indicado pelo governo disse que haveria conflito de interesses, porque tem empresa que atua na área


05/04/2022 04:00 - atualizado 04/04/2022 23:40

O economista Adriano Pires
Adriano Pires presta consultoria para empresas do setor de energia, muitas delas concorrentes diretas da Petrobras e algumas até em litígio com a estatal (foto: PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO)


Brasília – O economista e empresário Adriano Pires comunicou, oficialmente, em carta ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que não pretende assumir a presidência da Petrobras. A desistência ocorre após a divulgação da informação de que sua indicação representa conflitos de interesse pela sua atuação na iniciativa privada e não seria aprovada, por exemplo, pelo Tribunal de Contas da União (TCU). No documento, Adriano Pires agradece ao ministro pela indicação e reafirma o “compromisso de continuar nessa luta” pelo desenvolvimento do mercado de óleo e gás. Ele diz, entretanto, que não poderia conciliar o cargo com as atividades de consultoria que já desempenha para empresas do setor.

Na carta, Pires justifica sua decisão: “Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da presidência da Petrobras. Iniciei imediatamente os procedimentos para me desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria que fundei há mais de 20 anos e hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que, infelizmente, não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo. É por isso, senhor presidente, que sou obrigado a declinar de tão honroso convite”.

Ainda ontem, o economista recebeu a resposta do ministro Bento Albuquerque: “Em decorrência de suas considerações consignadas na carta encaminhada a essa pasta, compreendemos as razões que o motivaram a declinar da indicação à presidência da Petroras”.

O nome de Pires foi indicado pelo governo na semana passada, no lugar do general da reserva Joaquim Silva e Luna. A troca foi anunciada por causa da insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com as altas frequentes nos preços dos combustíveis. Pires não chegou a assumir porque o seu nome precisava ser aprovado pela assembleia geral de acionistas, marcada para quarta-feira da semana que vem.

Na carta entregue a Bento Albuquerque, o economista afirma que chegou a começar as tratativas para se desvincular do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), empresa de consultoria que ele comanda com o filho. Pires afirma, no entanto, que não teria como encerrar esse processo em “tão pouco tempo”. O CBIE presta consultoria há mais de 20 anos para empresas do setor de energia, muitas delas concorrentes diretas da Petrobras e algumas até em litígio com a estatal petrolífera.

IMPEDIMENTO

Na última sexta-feira, o Ministério Público pediu ao TCU que Pires fosse impedido de assumir o cargo enquanto não houvesse investigação do governo, pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pela Comissão de Ética, além de apuração pela própria Petrobras sobre o fato de ele ter atuação de interesse da estatal na área na iniciativa privada.

Além de Adriano Pires, o filho dele, Pedro Rodrigues Pires, também é sócio do CBIE. A Lei 13.303/2016, conhecida como Lei das Estatais, veda que executivos dessas empresas tenham parentes em empreendimentos concorrentes. O assunto é tratado no processo 005.990/2022-0 do TCU, de relatoria do ministro Antonio Anastasia, e ainda aguarda decisão, conforme informado pela assessoria do órgão.

O CBIE se apresenta como consultoria especializada em regulação e assuntos estratégicos em energia. Mesmo que Pires se afastasse da empresa, ainda estaria pendente das atividades profissionais do filho, que também teria de se afastar do cargo.

A questão familiar e empresarial de Adriano Pires não é a única a ser definida para a sucessão na presidência da estatal. O presidente do Clube de Regatas do Flamengo, Rodolfo Landim, também comunicou sua decisão de recusar a indicação para o Conselho de Administração da Petrobras. Landim integra a lista com outros 13 nomes indicados em março pelo governo.

Guedes diz estar “sem luz” sobre estatal

Brasília – Ao ser questionado ontem sobre quem deve assumir o comando da Petrobras, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou estar “sem luz” sobre possíveis nomes. A afirmação foi feita durante evento no hotel Fairmont, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Guedes já havia dito na semana passada que a troca no comando da estatal não era problema dele e que não participou da indicação do economista Adriano Pires ao cargo.

“A Petrobras é do Ministério de Minas e Energia. Quem indica o presidente é o presidente da República, junto com o ministro de Minas e Energia”, afirmou o chefe da pasta de Economia, durante evento em Paris.

Já o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos), disse que é difícil mudar a política de preços da Petrobras, porque a estatal “tem ações na bolsa de valores”. “Mudança na marra” não funciona, disse ele em entrevista para a Gazeta do Sul. A questão da política de preço acompanha a metodologia internacional. A empresa tem ações em bolsa. Tem Accountability, normas dentro do conselho de administração, que caso decisões causem prejuízos, essas pessoas serão responsabilizadas. Fica muito difícil uma mudança na marra, como congelamento de preços”, afirmou Mourão.

Durante a conversa, o vice-presidente comparou a situação de alta dos preços no Brasil com o mundo. “Os combustíveis estão caros no mundo inteiro. Nosso preço está dentro da média mundial e o que o governo pode fazer é subsidiar. Redução de impostos como IPI e PIS Cofins e reduzir em cima do diesel, que é o combustível do transporte urbano, mercadorias e impacta na questão inflacionária”, explicou o general.

Ações

As ações da Petrobras caíram 2% no mercado ontem, diante da indefinição no comando da empresa. Já o dólar fechou em queda de 1,27%, cotado a R$ 4,6076. O dia foi novamente de força para moedas de países exportadores de commodities, como o petróleo, enquanto o patamar alto dos juros básicos brasileiros continuou a atrair investidores em busca de alta rentabilidade. O resultado é o menor desde o início da pandemia – desde 4 de março de 2020, quando a moeda fechou cotada a R$ 4,5806. 


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