O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a falar sobre o aborto nesta quinta-feira (7). Durante entrevista à Rádio Jangadeiro Bandews, de Fortaleza (CE), o petista reiterou o posicionamento apresentado durante evento na última quarta-feira (6), quando defendeu formas seguras para a interrupção da gestação.
Lula disse não entender a repercussão de seu posicionamento a respeito do tema e afirmou que a defesa do aborto seguro e com acompanhamento do sistema público de saúde é uma questão de ‘bom senso’.
“Ele (o aborto) existe, por mais que a lei proíba, por mais que a religião não goste, ele existe e muitas mulheres são vítimas disso no Ceará, em Pernambuco, em São Paulo. Olha então, na medida em que a pessoa esteja num processo de aborto, a pessoa tem que receber do Estado, com muita dignidade, um atendimento. Foi isso que eu falei”, explicou.
O ex-presidente voltou a relacionar o aborto à desigualdade social. Em sua fala, Lula disse que mulheres mais ricas têm condições de interromper a gravidez em clínicas estruturadas e até fora do Brasil, enquanto as mais pobres usam técnicas rudimentares e perigosas, como a tentativa de perfurar o útero com agulhas de tricô.
No Brasil, o aborto é considerado crime contra a vida humana e prevê prisão de um a três anos. A prática é legalizada apenas quando a gravidez representa risco à vida da gestante, for resultado de estupro ou quando o feto for anencefálico, ou seja, não possui cérebro.
A clandestinidade dificulta a coleta de dados seguros sobre o tema no Brasil. Uma pesquisa publicada em 2020 nos Cadernos de Saúde Pública, revista da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou que, entre 2006 e 2015, 770 mulheres morreram em decorrência de complicações no aborto.
Segundo a pesquisa, negras, indígenas, moradoras de regiões distantes dos grandes centros e adolescentes menores de 14 anos são os grupos mais afetados por abortos realizados de forma clandestina.
As falas do líder petista repercutiram nos últimos dias e seguem como um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. No Twitter, Eduardo Bolsonaro (PSL), deputado federal por São Paulo e filho do atual presidente, citou a fala de Lula e questionou sua religiosidade.
Quando palestrei na @LagoinhaOrlando com o título "não existe cristão socialista" alguns vieram dizer que religião e política não se misturam - clássico boi indo para o matadouro.https://t.co/RvFzoFFPWU
%u2014 Eduardo Bolsonaro%uD83C%uDDE7%uD83C%uDDF7 (@BolsonaroSP) April 6, 2022
Aguardando esse pessoal me mostrar na Bíblia onde está o apoio ao aborto. pic.twitter.com/Lc0w4M1NL5
Veja o vídeo do momento em que Lula reitera seu posicionamento sobre o aborto: