Após Romeu Zema (Novo) comparar, a um pai que "deixa o filho se drogar", a postura de deputados estaduais na votação que decretou a derrubada do veto a reajustes salariais, o presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus (PSD), foi ao Twitter rebater. A troca de farpas desta quarta-feira (13/4) ocorre um dia depois de o Palácio Tiradentes ser derrotado por 55 a 3 na reunião que decidiu pela concessão de aumentos adicionais a profissionais da saúde, da educação e da segurança pública.
"Amigos, salário não é droga. Salário é alimento para os filhos", escreveu Agostinho.
Mais cedo, em Varginha, no Sul de Minas Gerais, Zema subiu o tom contra deputados estaduais e afirmou que falta, ao Legislativo estadual, figuras capazes de dizer "não".
"No setor público deveríamos ter gente mais corajosa, que tem vontade de falar 'não'. O que esses deputados fizeram é o que um pai faz quando o filho pede qualquer barbaridade: 'Ah, quero comprar isso'. Compra, mesmo não tendo recurso para pagar. 'Quero me drogar'. Deixa o filho drogar. A vida não é desse jeito. A vida é feita com responsabilidade", disse.
O governador ofereceu recomposição salarial de 10,06% a todos os servidores, mas na Assembleia Legislativa, durante a tramitação do projeto de lei sobre o tema, parlamentares inseriram emendas que incrementam parte dos reajustes. Aos trabalhadores da saúde e da educação, há mecanismo que garante adicional de 14%; na educação, o percentual extra é de 33,24%, conforme os termos do piso nacional do magistério.
Ontem, 55 dos 77 deputados estaduais votaram pela derrubada do veto. Apenas três parlamentares se manifestaram em prol da manutenção do ato do governador - Bartô (PL), Guilherme da Cunha e Laura Serrano (ambos do Novo). Horas após a oficialização do revés no Parlamento, o Palácio Tiradentes anunciou que vai à Justiça a fim de tentar impedir os pagamentos extras.
Minutos após a sessão plenária dessa quarta, Agostinho refutou a possibilidade de "culpa" pela concessão dos aumentos. "Perde em uma semana por 50 votos a 0 e na outra semana por 55 a 3. Ainda quer dizer que a culpa é de alguém que sequer vota? Promessa é feita para ser cumprida e mentira tem perna curta", tuitou.
O acréscimo de 10% a todos os vencimentos mensais, segundo o governo, traria impacto anual de R$ 5 bilhões. Com os índices especiais destinados a agentes de segurança, profissionais da educação e trabalhadores da saúde, o poder Executivo estima ter de desembolsar mais R$ 9 bilhões a cada 12 folhas de pagamento.
"É muito fácil fazer benesses sem ter recursos e viver só de promessas. É o que já aconteceu no passado. Na minha gestão, não. Sou responsável e encaro a realidade", protestou, hoje, o governador.
Passos para a crise
Em 2018, quando era filiado ao PV, Agostinho apoiou a candidatura do ex-deputado Adalclever Lopes (então no MDB) ao governo. No segundo turno, porém, os verdes anunciaram apoio a Zema. A relação entre eles, no entanto, foi se deteriorando.Antes mesmo do envio à Assembleia do projeto que estabelece a recomposição salarial de 10,05%, Agostinho afirmou que o Palácio Tiradentes tinha um "plano sórdido" para emplacar a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), visto pelo Executivo como saída para renegociar dívidas públicas, mas interpretado por parte dos deputados estaduais como prejudicial ao funcionalismo e aos serviços públicos.
"Mais um plano sórdido: governo do estado quer enviar reajuste de cerca de 10% aos servidores públicos e obrigar votação do RRF. Assim, após 10 anos sem ganhos reais, o professor, o médico e o agente da segurança ficarão mais 9 anos sem", pontuou, ainda em fevereiro.
Agostinho Patrus é componente do grupo político que orbita ao redor de Alexandre Kalil (PSD), ex-prefeito de Belo Horizonte e pré-candidato ao governo de Minas. O presidente da Assembleia, inclusive, é o favorito para ser o vice na chapa encabeçada de Kalil - por causa, sobretudo, da confiança mútua que embala o relacionamento de amizade deles.