Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES

Bolsonaro aposta em redes sociais, polarização e em sentimento antipetista



Brasília – Na corrida à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem apostado em estratégias ramificadas para tentar virar a mesa a seu favor em outubro. Uma delas consiste em investir na polarização, nas redes sociais e no sentimento antipetista, que ronda parte do eleitorado, e, paulatinamente, relembrar casos de corrupção envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito nas pesquisas. Por outro lado, ainda que permeiem suspeitas semelhantes em sua gestão, Bolsonaro tem tentado pregar por onde passa um governo sem manchas éticas e morais na Esplanada e destacado feitos pelo país. Ontem, ele esteve no estádio da Vila Belmiro, em Santos (SP), para assistir ao jogo entre Santos e Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro.




 
 

Um trunfo que será novamente explorado pelo presidente serão as redes sociais. Para especialistas, as pautas ideológicas inevitavelmente serão abordadas pela campanha de Bolsonaro, mas o fator decisivo será a situação econômica do país. Os analistas acreditam ainda que estratégias convencionais, como campanhas em televisão, devem fortalecer a atuação nas redes.
 
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Em relação à COVID-19, o presidente tem calcado a baixa aprovação de desempenho na conta de governadores, prefeitos por medidas restritivas adotadas para conter a disseminação do vírus e se isentado de responsabilidades, além de dizer que “fez sua parte” e “não errou nenhuma” no combate à doença que vitimou mais de 662 mil brasileiros.

Na economia, uma das cartadas do presidente que o fizeram recuperar parte da popularidade, foi o Auxílio Brasil, além de medidas populistas. Em março, por exemplo, autorizou o pagamento antecipado do 13º salário a 30 milhões de aposentados e pensionistas do INSS e o saque de até R$ 1.000 a trabalhadores com saldo em contas de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).





Com a inflação, na alta dos preços dos combustíveis, embora sem resultados práticos, o chefe do Executivo também pressionou publicamente o até então comandante da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, a baixar os valores praticados pela estatal, mas que são atrelados à inflação internacional e agravado com a guerra no Leste Europeu e o substituiu no cargo na tentativa de mostrar que tem agido para estancar a sangria do bolso do brasileiro.

Além de angariar novos eleitores, o plano de Bolsonaro ainda passa por manter fiel a base que o elegeu em 2018. É o caso dos evangélicos, com os quais tem se reunido frequentemente, além de acenar à agenda de costumes discursando contra o aborto, as drogas e favor do armamento. Os militares também têm sido agraciados dentro do governo com benesses e afagos. Na semana passada, o presidente apontou que as Forças Armadas “são a âncora” do país e que podem fazer com que a nação “rume à normalidade”.

O eleitorado feminino, público no qual mais enfrenta rejeição, é outro alvo que o presidente visa conquistar. Ele tem investido na presença da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, nas viagens que faz pelo país. Recentemente, Michelle participou de agendas no Sul do país. Ele acredita que ela consiga angariar votos no pleito de outubro.





REDES  SOCIAIS

Entre parlamentares, é consenso que as redes sociais serão um fator determinante para o pleito deste ano e que Bolsonaro aposta na estratégia que o elegeu em 2018. “Ele é muito bom de redes sociais, soube usá-las bem e conseguiu o primeiro mandato em grande parte por essa atuação”, disse ao Correio Braziliense/Estado de Minas o deputado Hildo Rocha (MDB-MA).

O deputado Lincoln Portela (PL-MG) ressalta que o presidente Jair Bolsonaro conta não apenas com suas redes, mas também com os perfis de influenciadores que o apoiam integramente. “A atuação sempre foi muito boa, dele e da militância. Ele tem uma base que a gente estima em 40 milhões de seguidores”. Para Portela, o cenário deste ano será parecido com o das últimas eleições. “As redes sociais poderão aumentar de peso por conta dos influenciadores que surgiram, mas em nível de campanha presidencial é mais ou menos a mesma coisa, com Bolsonaro angariando um número maior de seguidores”.

Ataques a opositores, disseminação de notícias falsas e inflamação de seu eleitorado também são fatores esperados no pleito de outubro pelo deputado Glauber Rocha (Psol-RJ). “Dele, sempre esperamos o pior. Bolsonaro não tem limites para manter sua base ativa, sempre gerando fatos que ou são mentirosos ou são aglutinadores”, afirma. O parlamentar acredita que a atuação do governo durante a pandemia serve como espelho para as eleições, e que o discurso do atual presidente pode radicalizar.





“Se para aglutinar sua base ele teve que negar as vacinas, defender cloroquina, tomar posições que são até contraditórias, ele fez. O presidente Bolsonaro não tem limites, ele vai fazer tudo o que for possível. Quando o desespero for batendo, e ele for verificando que não tem chance de ter uma maioria popular para os seus projetos, isso tende a se intensificar”, aponta.

Visita a estádio sob protesto

São Paulo – Mesmo com protestos da Torcida Jovem, maior torcida organizada do Santos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) assistiu ao jogo entre Santos e Coritiba, entre a manhã e a tarde de ontem, na Vila Belmiro, na cidade do litoral de São Paulo. Ele acompanhou a partida, pela segunda rodada da Série A do Campeonato Brasileiro, em uma área reservada do estádio, próximo às câmeras de transmissão.

Na Vila, Bolsonaro acenou para torcedores e foi discreto, não deu entrevistas. A presença do presidente na partida foi reprovada por parte da torcida, como externou a Jovem, em comunicado divulgado na última sexta-feira. “Senhor presidente, você não é bem-vindo!”, inicia a nota. “Sabemos que a Vila Belmiro é um templo sagrado para todos que amam o futebol e deve ser visitada ao menos uma vez na vida por quem gosta do esporte. Mas a sua visita já foi feita”, complementa.





"É sabido que o mesmo é declaradamente torcedor do time da Barra Funda, além de ser um populista descarado, sempre buscando se promover pela cega paixão do povo, vendo um 'mito' com a camiseta do seu time de coração", também diz a nota, que questiona se o presidente pagaria pelo ingresso. Bolsonaro chegou ao litoral paulista na última sexta-feira, onde passou o feriado. Na Sexta-Feira da Paixão e no sábado, ele ficou no Guarujá, cidade próxima a Santos, onde também passou parte da manhã do domingo de Páscoa.

Na quinta-feira, ele participou de um passeio de moto entre a capital paulista e a cidde de Americana. Em discurso, ele criticou o acordo feito entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o aplicativo WhatsApp para evitar disseminação de fake news. Ele chamou o acordo de censura e afirmou também que escalou o ministro das Comunicações, Fábio Faria, para fazer contato com a plataforma digital para cobrar explicações e também com interesse de fazer acordo com o governo.

A principal crítica do presidente é a restrição do aplicativo à permissão para grupos com mais de 256 pessoas, que será liberada apenas depois das eleições presidenciais de outubro. A partir de então, serão autorizadas 2.560 nos grupos, como já ocorre em outros países.