Brasília – Como estratégia para tentar conquistar novo mandato no pleito de outubro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deve procurar ampliar o diálogo com grupos conservadores, como os evangélicos, na avaliação de especialistas. Outro fator preponderante será a situação econômica do país. É o que diz o professor de Marketing Político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Marcelo Vitorino. “O caminho, provavelmente, será o de trazer a pauta ideológica contra as ideias progressistas dos adversários, com questões sobre composição de família, amor à pátria, discussão sobre ideologia de gênero nas escolas. Ele deve ainda ancorar seus posicionamentos mais duros na liberdade de expressão, para que, em caso de extrapolar limites, possa ter um discurso de que foi censurado e que há uma conspiração para que seus adversários vençam”, avalia.
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Para o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ellery, o fator econômico será um dos assuntos do ano eleitoral. “Em geral, as duas variáveis fundamentais para captar o efeito da economia mas eleições são inflação e desemprego. A soma dessas duas variáveis forma o que os economistas chamam de índice de miséria, há um padrão nos EUA em que dificilmente um partido permanece no poder quando esse índice está alto. Aqui no Brasil não há um padrão tão claro, até porque não temos a mesma regularidade de eleições democráticas, mas existem sinais que o índice de miséria pode influenciar fortemente nas eleições”, relata.
Com o desemprego alto e o risco de nova disparada da inflação, o aumento do índice de miséria é inevitável, aponta. “Não creio que seja possível cravar que esse índice vai definir as eleições, mas deve ter um efeito importante. É muito difícil o governo ganhar eleições com inflação fora de controle”.
Já o professor da Universidade de Brasília Lúcio Teles, especializado em comunicação digital, acredita que os ataques aos opositores será parte fundamental da estratégia de Bolsonaro nas redes. “Eu acho que ele vai tentar fazer os dois: projetar sua visão, mas ao mesmo tempo ele vai atacar Lula e outros candidatos que integrarem a terceira via”, afirma Teles.
O professor destaca a defesa que Bolsonaro fez do Telegram quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes bloqueou o uso da plataforma do Brasil no dia 19 de março, que indica a importância da plataforma para a campanha eleitoral. “Essa defesa que ele fez recentemente, que não se pode suspender a plataforma porque viola a liberdade de expressão, já mostra o encaminhamento de que essa e outras ferramentas são essenciais para a estratégia dele. Algumas empresas como o Facebook já se comprometeram a evitar mensagens de ódio, fake news, mas o Telegram ainda está ambíguo”, avalia Teles.
“Está muito claro que a estratégia deles passa pelo Telegram, pelo menos em nível de rede social. A plataforma tem grupos ilimitados, não tem o problema do reenvio de mensagens que o Whatsapp tem agora. O Telegram é meio terra de ninguém”, diz o diretor Norte Nordeste do Clube de Profissionais de Marketing Político (CAMP), Leurinbergue Lima.