Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2022

Estratégia digital de Bolsonaro mira no eleitorado jovem



“Falem bem, falem mal, mas falem de mim.” Esse mantra da publicidade é uma das estratégias para quem quer se projetar nas redes sociais. O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou e abusou da premissa em sua campanha de 2018, que o levou ao Palácio do Planalto, em vitória no segundo turno. Para a eleição deste ano, o conceito se mantém, com uma diferença: o público-alvo, agora, são os eleitores mais jovens.





No último fim de semana, Bolsonaro comentou um tuíte da cantora Anitta, em que ela defendeu as cores da bandeira brasileira no contexto de um show que fez no festival internacional Coachella, nos Estados Unidos, quando usou uma roupa em verde, amarelo e azul. O post do presidente foi campeão de curtidas e retuítes: até o fechamento desta edição, já tinha 5.854 comentários, 11,5 mil retuítes e quase 3 mil curtidas no Twitter. No Instagram, onde republicou a postagem, ele coleciona 836.786 curtidas e mais de 44 mil comentários.

Ao ver a projeção que as postagens do presidente atingiram, a cantora então deu uma “aula” de estratégia digital, com informações que outros candidatos parecem não ter entendido ainda. Ao bloquear os perfis do Bolsonaro, Anitta disse que os administradores das contas do presidente estão se aproveitando da projeção global da cantora para aumentar a popularidade. “Nesse momento, qualquer manifestação contra ele por meio dos artistas vai ser revertida em forma de deboche pelas mídias sociais dele. Assim, o artista vira o chato mimizento, e ele, o cara bacana que leva tudo numa boa”, escreveu a cantora.

A equipe de marketing de Bolsonaro entendeu que a mobilização de artistas para estimular os jovens a participar das eleições deste ano, a tirar o título de eleitor, vem surtindo efeito, e aproveita para pegar carona nessa mobilização. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que mais de 1 milhão de jovens entre 16 e 17 anos se inscreveram para votar em outubro. Na faixa etária entre 18 e 24 anos, são quase 20 milhões de eleitores.





Para se aproximar desse público jovem, Bolsonaro usa e abusa das redes sociais de alto alcance. Telegram, Instagram, YouTube, Twitter, Facebook e TikTok, todas têm perfis oficiais do presidente. Em janeiro, ele ainda lançou o aplicativo Bolsonaro TV, cuja logomarca traz o rosto do presidente de perfil com a inicial "B". Segundo a plataforma, trata-se de um local “único onde se pode visualizar todas as redes sociais da família Bolsonaro".

O aplicativo, por enquanto, reúne publicações do presidente nas plataformas Telegram, Instagram, YouTube e Twitter. Ao clicar em uma das notícias, o internauta tem a opção de abrir a respectiva rede social e acessar o conteúdo, que pode ser compartilhado. Até o momento, o aplicativo para Android conta com mais de 100 mil downloads. O canal para o sistema iOS, do iPhone, estava desativado até o fechamento desta edição.

Em outro post que viralizou, Bolsonaro ironizou a aliança entre o ex-presidente Lula e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) para disputar as eleições. O presidente retuitou a foto da dupla de políticos e comentou com um “kkkkkkk”. Em seguida, escreveu a palavra “ratio”, usada nas redes sociais para fazer com que comentários viralizem mais do que a postagem original. O “ratio” deu certo, e o comentário de Bolsonaro foi mais curtido do que o post original de Lula.




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A audiência do presidente nas redes sociais é bem maior do que a de todos os outros pré-candidatos juntos, o que ajuda a explicar o sucesso desse tipo de comentário. Se comparada ao alcance do ex-presidente Lula, Bolsonaro tem mais que o dobro dos seguidores.

Números que não preocupam muito a equipe de comunicação de Lula. “Tiramos boa parte da diferença que nos separava de Bolsonaro em relação a engajamentos, que indica que a mensagem não só foi recebida como também teve interações”, disse uma fonte que acompanha o trabalho de comunicação do ex-presidente, comandado pelo ex-ministro e jornalista Franklin Martins.

Entre apoiadores do ex-presidente, cresce a pressão para que Lula amplie a presença nas redes sociais e atualize a linguagem para atingir um público mais amplo, principalmente os mais jovens. Entre eles está o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que integra o grupo Prerrogativas. Em artigo publicado nesta semana, Kakay critica a postura do staff de Lula em relação à arena digital: “vamos enfrentar a força das redes sociais com estilingue e sinais de fumaça”.

A situação de Lula diante do eleitorado jovem, porém, é bem mais tranquila que a do atual presidente, de acordo com as últimas pesquisas de intenção de votos. A pesquisa do Ipespe divulgada no início do mês mostra que Bolsonaro avançou pouco nas faixas etárias de 16 a 34 anos. Mas avançou. Ante a pesquisa de março, cresceu 5 pontos percentuais. Lula lidera com 47% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 24%. Ciro Gomes (PDT) vem em terceiro, com 11% da preferência desse público.