O prazo para o cadastro eleitoral termina em 4 de maio próximo e os jovens mineiros de 16 a 17 anos têm se engajado para participar das eleições de outubro. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em março, Minas Gerais chegou a 91.853 adolescentes com título de eleitor emitido, um aumento de 26,9% na comparação com fevereiro. O cientista político da Faculdade Arnaldo Vladimir Feijó disse que esse crescimento pode estar relacionado às campanhas feitas em diferentes esferas.
“As pessoas estão se importando com o futuro e não apenas com a situação imediata. Imagino que a força e a penetração dessa publicidade nas mídias sociais tenha contribuído para a elevação do número de inscrições. É surpreendente como as propagandas da Justiça Eleitoral, influencers e celebridades contribuíram para isso”, declarou. O cientista ponderou, no entanto, que mesmo com esse grande crescimento, os níveis de participação dessa faixa etária ainda estão abaixo do esperado. “Quando olhamos o percentual de jovens habilitados para a eleição, ainda está baixo. Estamos com menos de um terço da população de 16 e 17 anos apta a votar”, ponderou.
O estudante Miguel Santos, de 17 anos, falou sobre a expectativa de votar pela primeira vez. “Sempre tive vontade de exercer esse direito e sempre tive interesse em política, porém com a pandemia só tirei o título no final do ano passado”, explicou. Já Rodrigo Paiva, de 16, revelou que foi motivado por diversas questões. “A situação política, econômica e social em que o país se encontra por causa do atual governo. Isso me trouxe a vontade de tentar fazer a diferença com meu voto", afirmou.
O cientista político Malco Camargos, doutor em ciência política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver, avaliou que “o que os jovens mais buscam é visibilidade. Ser percebido entre os amigos e também entre os políticos. E eles só serão percebidos se tirarem o título eleitoral", avaliou Camargos. Ele ressaltou ainda que, dessa maneira, o jovem passa a ser reconhecido pelos grupos políticos, a ter políticas públicas especiais e participação no jogo eleitoral. "Caso contrário, ficarão invisíveis e à margem", afirmou.
Muitos eleitores de 18 anos também vão votar pela primeira vez em 2 de outubro. Em março, 13.229 pessoas dessa faixa etária fizeram o título de eleitor em Minas Gerais. "É a primeira vez em que eu voto e a experiência parece um pouco assustadora, já que há muita tensão no cenário político por conta da grande polarização", explicou a estudante Carolina Lages, de 18.
A reportagem do Estado de Minas também conversou com o cientista político Cristiano Rodrigues, professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que avaliou o contexto histórico do voto dos adolescentes. "Tradicionalmente, desde que o voto facultativo para jovens de 16 e 17 anos foi instituído no Brasil, há uma campanha e um debate no senso comum de que seria uma opção pela cidadania", analisou Rodrigues.
Ele ressaltou, no entanto, que há duas coisas que considera como principais. "A primeira, é criar esse sentido cívico de participação no país, e a outra é fazer com que os jovens sejam mais politizados, antecipadamente", ponderou. Ainda segundo Rodrigues, o incentivo para que os jovens tirem o título e votem é muito importante para restabelecer o elo entre os cidadãos e os representantes políticos. “Quanto mais as pessoas se abstiveram de votar, mais elas vão dizer que não se veem representadas e mais despolitizadas elas estarão", avaliou.
Renata Lima, professora de sociologia da escola Funec Riacho, em Contagem, revelou que criou um projeto para incentivar os alunos a fazerem o título de eleitor. “Em sala de aula, fico muito atenta ao que os jovens comentam entre si e o assunto do título aos 16 anos estava muito presente. Trouxe o tema para as minhas aulas de sociologia e foi um debate muito rico”, explicou. A professora disse ainda que os alunos utilizaram os laboratórios de informática da escola para acessar o site do TSE e ajudaram os colegas que estavam com dificuldade. “O debate do direito ao voto trouxe para sala também o debate de atualidades da política brasileira e a eleição de 2022. Os jovens precisam de oportunidade para serem ouvidos e quando a têm são brilhantes”, afirmou Lima.
Mulheres
Uma pesquisa quantitativa do eleitorado feita por região pelo TSE apontou que, em 2018, Minas Gerais só ficou atrás de São Paulo em quantidade de eleitores por município, com 15.693.273 votantes. As mulheres foram a maioria, representando 51,9% do eleitorado no estado. Já na capital mineira, esse percentual é de 54,3%. Em todas as faixas etárias, Minas Gerais tem participação eleitoral feminina maior que a masculina. Para o cientista político Feijó, mães entre 20-35 anos, com tutela direta sobre os filhos, tendem a incentivá-los a exercer o direito de votar e discutir temas políticos, porque têm sofrido bastante com a falta de políticas públicas eficientes para a categoria.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.