Quatro dias antes de cumprimentar o rival Romeu Zema (Novo) com um protocolar e rápido aperto de mãos em Uberaba, no Triângulo Mineiro, Alexandre Kalil (PSD) recebeu a notícia de que Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, estará em Belo Horizonte neste mês. A agenda do ex-presidente na capital, marcada pelo lançamento da pré-candidatura de Reginaldo Lopes (PT-MG) ao Senado Federal, foi oficializada um dia depois de Kalil conversar com Lula por telefone. As incertezas sobre o apoio dos petistas à candidatura do ex-prefeito ao governo mineiro – bem como os moldes do acordo – ainda permanecem. A agenda de Kalil nesses dias incluiu, também, uma visita a Passos, no Sul de Minas.
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Em meio a possível união ao PT, Kalil e Lula conversam por telefoneNa Justiça, partido de Zema acusa Kalil de propaganda eleitoral antecipadaRedes sociais: Justiça nega liminar do Novo por exclusão de vídeo de Kalil Lula pede ao PT mineiro para manter esforços por união com Kalil Apoiadores de Bolsonaro se reúnem em BH e pedem 'respeito à Constituição'De um lado, acusações de propaganda eleitoral antecipada; do outro, queixas de censura. A ida de Kalil ao Triângulo, na sexta-feira, por exemplo, era entendida como essencial na busca por potenciais eleitores. Neste primeiro momento, a ideia é dar capilaridade à pré-campanha e fazer crescer o conhecimento da população sobre a figura do ex-presidente do Atlético. Ao lado dele estava o presidente estadual do PSD, Alexandre Silveira, que tentará a reeleição ao Senado Federal, onde está desde o início deste ano.
A “ponte” para a conversa entre Kalil e Lula, por sua vez, foi erguida por outro cacique do PSD: Gilberto Kassab, responsável por uni-los em uma chamada de voz; Kassab é o presidente nacional da agremiação. Em Uberaba, Kalil confirmou o contato com Lula. "Conversei, sim. Converso com todos. É meu jeito", disse ao Estado de Minas. Depois, esquivou-se e não revelou os assuntos abordados durante a ligação telefônica. Interlocutores ligados ao entorno do ex-prefeito garantem que ele e o líder petista têm mantido certo nível de diálogo.
Embora defenda a união a Kalil e tenha pedido “maturidade” ao PT para concretizar a composição, Lula sabe que o acordo passa pela corrida ao Senado, que tem suas curvas indefinidas. Isso porque enquanto os petistas não abrem mão de Reginaldo Lopes, o PSD trabalha para reeleger Alexandre Silveira.
A equipe de Kalil tem recebido pesquisas internas que mostram que, com o apoio de Lula, o ex-prefeito de BH cresce no confronto ante Zema. Em busca de nacionalizar a eleição, o pré-candidato do PSD tenta associar o oponente a Jair Bolsonaro (PL). Em uma das inserções na TV, garantidas por causa do horário gratuito destinado aos partidos políticos, Kalil chama o governador de “capacho” do presidente.
A tática vai na mão contrária ao entendimento dos aliados de Zema, que creem que a ida do senador Carlos Viana ao PL deixa Bolsonaro com um representante oficial na disputa pelo governo – dificultando, assim, as tentativas de conectá-lo ao chefe do poder Executivo estadual. Em que pese a estratégia para ligar Bolsonaro a Zema, Kalil enfrenta uma espécie de “fogo amigo”: os quatro deputados federais do PSD mineiro defendem o apoio à reeleição do presidente da República. O grupo chegou a pedir reunião com Alexandre Silveira para tentar emplacar a ideia. Embora o dirigente tente equilibrar as correntes, os parlamentares não escondem a predileção por Bolsonaro.
Viagens no estado
Se houver resposta favorável da Justiça Eleitoral a uma eventual chapa com dois candidatos a senador, um dos empecilhos para a união PSD-PT estará derrubado. Uma das hipóteses aventadas pelos petistas, porém, é dar apoio informal a Kalil para viabilizar Reginaldo Lopes. Na semana passada, em entrevista à Itatiaia Vale do Aço, o ex-prefeito disse ser “muito difícil” uma união com Lula sem que haja, em torno deles, uma coligação formal.
Anteontem, à TV Passos, cidade que visitou depois de passar por Uberaba, Kalil assegurou que, a despeito do desejo do PT, caminhará com Silveira. “Nossa chapa está pronta. É Kalil governador, Agostinho Patrus vice-governador, e Alexandre Silveira candidato ao Senado”, falou. A declaração corrobora com o que projetavam aliados do ex-prefeito. Eles relacionam o apoio dele ao senador a uma questão de lealdade.
Ao EM, Alexandre Silveira afirmou que, embora haja relação com as composições políticas, a escolha do vice-candidato deve ser decisão pessoal de Kalil. “Precisamos que o vice seja alguém que contribua com o futuro governo. Não acredito em resultados que não sejam pelo caminho do diálogo e da convergência”, assinalou ele, que tem se esquivado de comentar publicamente sobre as alianças partidárias do PSD. Segundo o dirigente, o primeiro passo precisa ser apresentar as pré-candidaturas da legenda ao eleitorado.
Em Passos, a comitiva de Kalil teve, também, o deputado estadual Cássio Soares (PSD), de base eleitoral no município. Ele articulou um encontro entre o postulante ao Palácio Tiradentes e lideranças de cidades vizinhas. Antes, em Uberaba, onde se encontrou com Zema, Kalil esteve ao lado de Adalclever Lopes (PSD), antecessor de Agostinho na presidência da Assembleia Legislativa e, agora, seu articulador político. O ex-prefeito conversou, ainda, com o deputado estadual Betinho Pinto Coelho (Solidariedade) e o ex-prefeito de Ipatinga, no Vale do Aço, Sebastião Quintão (MDB).
"Uai, ninguém morde. Temos uma relação cordial e fomos bem-criados. Não estamos em guerra, estamos em pré-campanha. Deus me livre de inimizade e inimigo. vou lutar na campanha para difundir sobre o que penso de Minas Gerais", falou, ao comentar o fato de estar no mesmo ambiente do governador. “Que ele seja bem-vindo ao Triângulo Mineiro”, ironizou Zema, quando perguntado sobre o compromisso de Kalil.
Um dia antes do feriado de Tiradentes, Kalil participou de outra atividade longe de Belo Horizonte. Ele bateu ponto em Pirapora, no Norte de Minas, ladeado por Agostinho Patrus. Eles receberam a cidadania honorária do município e ganharam uma recepção feita por políticos que foram prestigiar o convescote. A lista de presenças marcou os nomes dos deputados estaduais petistas Leninha e Virgílio Guimarães, bem como do parlamentar federal Paulo Guedes, também filiado ao PT. Diferentemente de Zema, Kalil não tem divulgado as viagens — por ora, tidas como informais.
Zema exalta segurança no campo
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), disse ontem que a redução dos crimes no campo será fundamental para o desenvolvimento do agronegócio no estado. Ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do senador Alexandre Silveira (PSD), ele participou da abertura da ExpoZebu, em Uberaba, no Triângulo Mineiro. “Temos feito o possível para que o produtor tenha tranquilidade. A segurança no campo tem sido nossa prioridade. Reduzimos os crimes na zona rural em mais de 42% e vamos continuar reduzindo”, disse Zema na abertura da ExpoZebu.
“É um orgulho ter a maior feira de zebu do mundo em Uberaba, uma cidade vizinha à minha Araxá, onde nasci. Fico satisfeito do agronegócio não só no Brasil, como em Minas e especialmente em Uberaba, onde a atividade avança tanto e dá tantas oportunidades de trabalho”, disse Zema.
O governador disse que as ações do governo para ajudar o pequeno produtor estão surtindo efeito: “Tive a oportunidade de visitar diversos produtores de queijos artesanais. E escutei de cada um que depois que o estado concedeu o selo arte e o selo sanitário, eles não conseguem produzir para atender à demanda. Isso é o que queremos, valorizar o que é produzido no campo com sacrifício e suor”.
Afagos
Bolsonaro e Zema trocaram falas de apoio na abertura da Expozebu ontem. “Quero parabenizar o governador Zema pela administração e pela maneira que ele tem conduzido seu estado. Você é um exemplo para todos nós do Brasil”, disse Bolsonaro durante o seu discurso na abertura oficial da ExpoZebu 2022. Já Zema, antes de iniciar seu discurso, pediu uma salva de palmas para Jair Bolsonaro.