As declarações do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, relacionando as críticas à mineração na Serra do Curral a motivações políticas e a "fake news" repercutiram mal entre parlamentares. Ontem, o dirigente convocou entrevista para defender o licenciamento concedido pelo governo estadual à Taquaril Mineração S.A (Tamisa).
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"A Fiemg, ao dizer que o empreendimento trará poucos impactos para Belo Horizonte e para a Serra, está sendo leviana. Isso porque sabemos que o empreendimento acontece em uma área contígua a outra mineradora, a Empabra. não foi recuperada e vai ser expandida a partir da Tamisa, colocando em risco de desabamento o Pico de Belo Horizonte", disse Bella.
Na Assembleia Legislativa, deputados estaduais articulam uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as circunstâncias do processo que culminou na licença dada à mineradora. Até o início da noite de ontem, segundo apurou o EM, os defensores da investigação já haviam colhido 19 das 26 assinaturas necessárias para instaurar o comitê.
André Quintão (PT), um dos signatários do pedido de CPI no Parlamento mineiro, crê que o presidente da Fiemg trafega "na contramão" do pensamento majoritário dos habitantes do estado.
"Ao que me consta, o Ministério Público, juristas, conselhos e entidades da sociedade civil não disputam cargos eletivos neste ano. O problema é que, em Minas, alguns setores econômicos, sem generalização, querem impor seus interesses sem um debate maior com a sociedade", protestou, em menção a entes que ajuizaram ações pedindo a suspensão da certidão dada pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam).
Secretária de Meio Ambiente terá de explicar licença a deputados
Também no Legislativo estadual, integrantes da Comissão de Minas e Energia convocaram a secretária de Estado de Meio Ambiente, Marília Melo, para comparecer à sede da Assembleia e explicar a concessão da licença. Ela ocupa, também, a presidência do Copam.
Presidente do colegiado, Rafael Martins (PSD) refutou a hipótese de motivação política na postura dos parlamentares contrários ao empreendimento. "Não foi a Comissão de Minas e Energia que pautou a exploração da mineração na Serra do Curral em 30 de abril. Não foi a Comissão de Minas e Energia que aprovou o projeto às 3h da madrugada. O tema foi trazido pelo Copam. O Copam pautou, votou e aprovou".
A reunião do Copam que marcou a aprovação dos planos da Tamisa terminou na madrugada de sexta para sábado (30), após 18 horas de debates. "Estamos cumprindo nosso papel. Independentemente de eleição, nossos mandatos vão até 31 de janeiro de 2023. Somos parlamentares no exercício de suas atividades e cumprindo obrigações", corroborou André Quintão, que relatou a CPI criada há dois anos e meio para investigar a tragédia de Brumadinho.
As comissões de Minas e Energia e Meio Ambiente agendaram, para amanhã (5), às 9h, uma audiência pública a fim de debater o caso. O encontro foi pedido pelo deputado Noraldino Júnior, do PSC. Flávio Roscoe consta na lista de convidados, bem como Marília Melo e outros secretários estaduais.
'Tumulto ambiental' é questionado
Ao defender o pleito da Tamisa, que deseja explorar uma área equivalente a 1,2 mil campos de futebol e com trechos de Mata Atlântica, Flávio Roscoe falou que há uma espécie de "tumulto ambiental".
"Dizem, agora, nas redes sociais, que o processo de mineração na Serra do Curral da Tamisa foi aprovado na calada da madrugada, mas não foi assim. Mais de 100 pessoas se inscreveram e falaram, muitos para protelar e tentar que se suspendesse a sessão. Não foi um ato escuso", pontuou.
"As informações que chegaram até nós são estarrecedoras. O projeto de mineração na Serra do Curral vai produzir uma cava na qual caberia todo o Bairro Taquaril. O nosso trabalho de fiscalização continuará firme, com a coragem que exige um tema tão importante como esse", rebateu Rafael Martins.
Para Bella Gonçalves, o processo favorável à Tamisa tem ilegalidades. "As mineradoras e a Fiemg precisam compreender que, para produzir o desenvolvimento econômico do estado, devem respeitar a legalidade, o direito e a opinião das pessoas. Eles precisam respeitar o meio ambiente e ter escrúpulos na hora de construir as coisas".
Mais uma ação para barrar a Tamisa
Em meio à profusão de ações judiciais que buscam suspender a autorização dada à Tamisa - houve, inclusive, ida da Prefeitura de Belo Horizonte à Justiça Federal -, outra peça surgiu ontem: Juliana Sales (Cidadania), vereadora de Nova Lima, também provocou os tribunais.
"É urgente anular a licença minerária para que a serra não seja alvo de mais destruição. Os danos irreversíveis à serra são danos irreversíveis à vida", salientou.