A declaração ocorreu durante entrevista coletiva de imprensa realizada um dia após o anúncio do lucro recorde de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre de 2022.
“Não é só preço do barril. É gestão responsável que tem sido feita nos últimos anos. Não podemos nos desviar da prática de preços de mercado. É uma condição necessária para a geração de riqueza não só para a empresa, mas para toda a sociedade brasileira, fundamental para a atração de investimentos ao país e para garantir o suprimento dos derivados que o Brasil precisa importar.”
Mauro Coelho ressaltou que a Petrobras também pagou dividendos e impostos em níveis recordes. “Somente em dividendos, foram R$ 70 milhões, que contribuem para que estados e municípios invistam”, informou. A Petrobras registrou lucro líquido de R$ 44,561 bilhões no primeiro trimestre deste ano. O valor representa alta de 3.718,4% em relação ao mesmo período de 2021, quando a estatal registrou R$ 1,16 bilhão de lucro, devido, principalmente, aos impactos negativos da pandemia.
Ontem, a Petrobras chegou ao 57º dia desde o último reajuste da companhia, ocorrido em 18 de março, ultrapassando o período de contingenciamento anterior. Naquela ocasião, o anúncio do aumento de preços foi realizado também no 57º dia, sob o argumento de que a estatal não podia mais sustentar a defasagem entre os valores praticados pela Petrobras e o mercado.
Dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) apontam uma defasagem média de 21% no óleo diesel e de 17% para a gasolina, no 57º dia desde o último reajuste.
A Abicom indica que o mercado internacional e o câmbio— do dólar — pressionam os preços domésticos. "Arbitragem desfavorável na média de -R$ 1,27/l, variando entre -R$ 1,51/l a -R$ 0,29/l, a depender do porto de operação", avalia.
O preço da gasolina também está defasado, de acordo com a Abicom. "Arbitragem desfavorável na média de R$ 0,78/l, variando entre R$ 0,89/l a R$0,48/l, a depender do porto de operação", apontam.
PETROLEIROS A Federação Única dos Petroleiros (FUP) criticou ontem o lucro bilionário registrado no primeiro trimestre pela Petrobras. O lucro de R$ 44,5 bilhões da empresa foi 38 vezes maior que o mesmo período do ano passado, segundo a FUP, e traz a marca da inflação recorde dos combustíveis e da transferência de riqueza promovida pela política de paridade internacional de preços do governo Jair Bolsonaro.
Em carta divulgada junto ao relatório financeiro da empresa, José Mauro Coelho atribuiu o resultado ao fato de a empresa estar agora saneada, com redução de encargos para pagamento de dívidas, investindo com responsabilidade e eficiência.
"Reajustes abusivos nos derivados de petróleo no mercado interno adotados pela gestão da Petrobras, com base na política de Preço de Paridade de Importação (PPI), garantem altos lucros aos acionistas, que receberão dividendos de R$ 48 bilhões relativos ao exercício de 2022, em menos de seis meses após a megadistribuição de R$ 101 bilhões do exercício anterior”, avalia Deyvid Bacelar, coordenador geral da FUP, ao comentar os lucros da Petrobras.
Ele ainda enfatizou que o foco da estatal, hoje, é gerar e distribuir valor, principalmente para acionistas privados. "Mais de 45% são investidores estrangeiros, com ações da Petrobras nas bolsas de São Paulo e Nova York."
No governo Bolsonaro, de janeiro de 2019 a 1º de maio de 2022, a gasolina nas refinarias teve alta de 165,8%; o diesel, 155,2%; e o GLP, 118,4%, levando o preço do botijão de gás de 13 quilos para acima de R$ 120.
Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/Subseção FUP), com base nas informações dos relatórios de desempenho financeiro da Petrobras de 2019 , 2020 e 2021, mostra que a estatal apresentou, em 2021, um custo médio de extração de petróleo e produção de derivado de R$ 114,89 por barril e vendeu esse produto no mercado interno por R$ 416,40 o barril.
O lucro gerado foi de R$ 301,52 por cada barril comercializado no país no ano passado. A Petrobras comemorou, em 27 de abril, o aumento na produção de petróleo e derivados apontado no relatório de produção e venda do primeiro trimestre de 2022.
"Se a Petrobras comemorou o aumento na produção, com o custo majoritariamente em real, por que a população segue pagando em dólar? É urgente abrasileirar o preço dos combustíveis", ressaltou Bacelar.
Termina prazo para postos adequarem casas decimais
Brasília – Termina hoje o prazo para que postos em todo país se adequem à regra de exibir o preço dos combustíveis com duas casas decimais, e não mais com três, como ocorre atualmente. A mudança foi determinada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) por meio da Resolução 858/2021, publicada em novembro do ano passado. De acordo com a ANP, o objetivo da mudança “é deixar o preço do combustível mais preciso e claro para o consumidor, além de estar alinhado com a expressão numérica da moeda brasileira”.
Assim sendo, acrescenta a agência, os preços deverão ser exibidos com duas casas decimais tanto no painel de preços quanto nos visores das bombas abastecedoras. A ANP informa, no entanto, que nas bombas o terceiro dígito poderá ser mantido, desde que marcando zero e travado no momento do abastecimento. “Dessa forma, os postos não precisarão trocar os módulos das bombas, o que poderia acarretar custos aos agentes econômicos”, justificou a agência.
Na avaliação da agência, a mudança não implicará aumento do valor final dos preços dos combustíveis, uma vez que a norma não trará “custos relevantes aos revendedores e nem restrições aos preços praticados”.