Brasília – Às vésperas da data marcada para a definição do futuro do autodenominado centro democrático, na próxima quarta-feira, alguns dos principais caciques do PSDB ensaiam uma mudança significativa de postura. O senador Tasso Jereissati (CE) e o deputado federal Aécio Neves (MG), vozes mais influentes da oposição ao pré-candidato oficial da legenda, o ex-governador de São Paulo João Doria, declararam que o PSDB pode seguir com candidatura própria, sem o MDB da senadora Simone Tebet (MS), na corrida eleitoral.
Na noite de sexta-feira, Jereissati, em entrevista ao jornalista Mario Cesar Conti, da GloboNews, reconheceu que a divisão interna da legenda põe em risco a própria sobrevivência do partido e que a pré-candidatura de Doria tem a legitimidade das prévias às quais ele se submeteu, em uma disputa com o ex-governador gaúcho Eduardo Leite. Para ele, Doria pode não ser o candidato ideal, mas não pode ficar isolado na legenda.
Na mesma linha, Aécio Neves declarou que seria “ruim para o partido” retirar a candidatura de Doria apenas para apoiar Simone Tebet, em entrevista à Folha de S.Paulo. E foi além, ao prestar solidariedade ao pré-candidato tucano, que estaria sendo vítima de “traição”. “Eu quero deixar clara a minha solidariedade ao Doria”, que está, segundo ele, “conhecendo a face triste da política, que é a traição dos seus próprios companheiros”.
As declarações reforçam a expectativa de que a reunião de quarta-feira entre PSDB, MDB e Cidadania não chegue a um resultado prático. Ao contrário, dá a Doria um apoio que ele próprio não esperava para levar a candidatura à Presidência adiante. Os presidentes das legendas que tentam construir uma candidatura de centro como alternativa à polarização Lula x Bolsonaro acordaram avaliar o desempenho de Tebet e Doria em pesquisas quantitativas e qualitativas, cujos dados estão sendo colhidos neste fim de semana pelo Instituto Guimarães de Pesquisa e Planejamento.
A expectativa, agora, no ninho tucano, é com relação à postura do tucano mais influente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A legenda foi abalada pela decisão de outro tucano histórico, o ex-chanceler Aloysio Nunes, que anunciou ontem apoio ao pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda no primeiro turno. Nunes disse que assumiu essa posição porque considera a eleição de outubro uma disputa “entre a civilização e a barbárie” e que Lula é o único candidato em condições de derrotar o presidente Bolsonaro em outubro.
FHC, Aloysio Nunes e Tasso Jereissati fazem parte da ala histórica do partido. O ex-presidente ainda mantém uma relação de cordialidade e respeito com Lula e com o pré-candidato a vice, o ex-tucano Geraldo Alckmin, que também integrava a ala mais raiz do tucanato, antes de se mudar para o PSB. Nos bastidores, já há quem aposte no apoio à chapa Lula com Chuchu no segundo turno, caso se confirme a derrota de Doria nas urnas, prevista pelas pesquisas até agora.
Seria uma reversão de expectativa, depois que o partido fez a virada da centro-esquerda para a centro-direita capitaneada pela ascensão de Doria na política paulista e expressa no apoio informal dele à candidatura de Bolsonaro, em 2018, na onda do BolsoDoria, quando concorria ao Palácio dos Bandeirantes.
Tebet e o MDB
No MDB, a postura da senadora Simone Tebet permanece a mesma, de não aceitar ser candidata a vice em uma chapa com João Doria. O candidato a parceiro preferido dela ainda é Eduardo Leite. Mas a chance de Leite voltar à disputa interna no PSDB fica cada vez menor, com a mudança de discurso dos principais opositores internos da candidatura oficial no sentido de respeitar a decisão das prévias.
Mas ela também enfrenta dificuldades para unir o partido, por causa da ala ligada aos senadores Renan Calheiros (AL) e Eunício de Oliveira (CE), que pregam abertamente apoio a Lula já no primeiro turno. O trunfo de Tebet são os apoios que construiu na maioria dos diretórios estaduais do partido, que defendem uma candidatura própria para evitar a debandada emedebista para os palanques de Lula e Bolsonaro.