Em ascensão nas pesquisas, mas fustigado pela inflação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem feito muito barulho para mostrar ao eleitorado que está empenhado contra a carestia.
Na semana passada, o chefe de governo demitiu o ministro Bento Albuquerque na tentativa de se descolar da impopularidade que o cenário econômico pode lhe render. E ainda tentou provocar debate paralelo — a privatização da Petrobras — para contornar o desgaste provocado pelos reajustes sucessivos na bomba de combustível. Apesar desses movimentos, especialistas ouvidos pelo Correio avaliam que o presidente não terá como fugir da pressão frente ao tema.
Na semana passada, o chefe de governo demitiu o ministro Bento Albuquerque na tentativa de se descolar da impopularidade que o cenário econômico pode lhe render. E ainda tentou provocar debate paralelo — a privatização da Petrobras — para contornar o desgaste provocado pelos reajustes sucessivos na bomba de combustível. Apesar desses movimentos, especialistas ouvidos pelo Correio avaliam que o presidente não terá como fugir da pressão frente ao tema.
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A culpa é dos outros
O senador Humberto Costa (PT-PE) considera que o presidente prossegue a tática adotada desde o começo do governo: transferir responsabilidades. "O presidente está sempre atribuindo a culpa pelos problemas do país a outra pessoa. Como Bolsonaro não tem coragem nem disposição de modificar a política de preços de combustíveis e derivados no Brasil, tenta justificar e acusar a Petrobras ou o mau desempenho de um ministério qualquer porque é assim que ele tenta tirar fugir das consequências", critica o senador.
Já o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), vice-líder do partido na Câmara, avalia que as ações de Bolsonaro visam a melhoria de vida da população. "O presidente está fazendo de tudo para tentar reduzir o preço dos combustíveis. O novo ministro (Adolfo Sachsida) veio com essa proposta de privatização da Petrobras, à qual sou plenamente favorável. Não adianta ter uma estatal que não colabora com o Brasil", defende.
Assim como Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) responsabiliza as medidas de restrição adotadas durante a pandemia de covid-19 como um dos fatores do aumento da inflação. "Todos esqueceram que o governo alertou que o 'fique em casa' causaria o cenário de pressão inflacionária que vivemos. Seria pior e teríamos um número de desempregados semelhante ao deixado pelo PT, em 2015 — depois da pandemia de corrupção —, se não fosse o trabalho do governo Bolsonaro de socorrer a população, os estados e municípios", alega.
"Esse trabalho exigiu várias ações e diversos ajustes que vieram sendo realizados ao longo da pandemia e agora no 'pós-pandemia'. A mudança no Ministério de Minas e Energia é mais um desses ajustes", complementa Zambelli.
O analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis, analisa que as mudanças feitas por Bolsonaro são uma cortina de fumaça para esconder o principal problema, a economia.
"O presidente segue criando factoides desprovidos de qualquer resultado. As mudanças servem como uma cortina de fumaça para explicar os preços e os ataques à Petrobras. Assim, ele imagina que seus eleitores vão se consolidar. Não dará certo. A eleição será decidida pela economia e pela reação à pandemia", observa.
A advogada constitucionalista Vera Chemin, mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta que as sucessivas trocas feitas pelo chefe do Executivo, especialmente, no MMA e na Petrobras evidenciam a preocupação de tentar, a qualquer custo, represar o aumento dos combustíveis.
"Represar preços de combustíveis é uma política recorrente no Brasil. É uma prática perigosa, pois, apesar de favorecer o consumidor no presente, transporta os custos a médio ou até longo prazo, em que outra geração poderá sofrer as consequências econômicas e sociais", alerta.
Ainda assim, segundo Chemin, existem outras variáveis que serão relevantes para a garantia de sua reeleição, como o crescimento do PIB, a criação de empregos e a continuidade das políticas sociais, além das estratégias de campanha eleitoral que terão que ser convincentes junto às diversas camadas da população.
Para Arthur Wittenberg, professor de Políticas Públicas do Ibmec, o movimento de Bolsonaro é coerente. "Alguns analistas consideram que a troca foi essencialmente eleitoreira. Mas toda mudança ministerial tem algum componente eleitoral, especialmente em ano de eleições", afirma. "Além disso, se fosse esse o caso, Bolsonaro poderia ter indicado um político para a posição, para facilitar aprovação de medidas, por exemplo, de controle de preços", argumenta.
Wittenberg reconhece a complexidade do problema energético e dos combustíveis, mas lembra que o impacto é essencialmente econômico. A principal preocupação dos eleitores é com a inflação. "Desse modo, parece plausível colocar Sachsida como ministro de Minas e Energia. Se ele vai ser capaz de melhorar o preço da gasolina, ainda não é possível saber", conclui.