Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2022

Crise tucana em mais um ato da Terceira via

A crise no PSDB faz, hoje, uma breve –  e, provavelmente, tensa – escala em São Paulo, quando estarão frente a frente dois dos principais antagonistas da novela em que se transformou a candidatura tucana à Presidência da República. O presidente do partido, Bruno Araújo (PE), e os líderes na Câmara, Adolfo Viana (BA), e no Senado, Izalci Lucas (DF), serão recebidos pelo pré-candidato da legenda, João Doria, em busca de um cada vez mais improvável acordo que pacifique o ninho tucano.




Os líderes tucanos levam à capital paulista uma decisão já tomada pela Comissão Executiva da legenda: a de apoiar, junto com o Cidadania, a candidata do MDB, senadora Simone Tebet (MS), em uma chapa única que represente o autodenominado centro democrático. Amanhã, as executivas dos partidos reúnem-se separadamente, em Brasília, para formalizar a adesão à tríplice aliança.

Mesmo com a chancela da vitória nas eleições prévias do partido, no ano passado, João Doria vem sendo isolado pelos mais influentes correligionários e por quase todos os pré-candidatos a governos estaduais já lançados pela legenda. O ex-governador paulista, porém, tem demonstrado resiliência para manter a pré-candidatura, e não dá indicações de que vá desistir.

O encontro entre Doria e Araújo terá ainda outro ingrediente, os arranjos políticos no estado de São Paulo. O presidente do PSDB é um dos principais interlocutores do atual governador paulista, Rodrigo Garcia, que apoiou Doria nas prévias e, agora, defende a união da terceira via. Mas o governante evita abrir uma frente de atrito com o pré-candidato, apesar de já ter demonstrado preocupação com o fraco desempenho do antecessor nas pesquisas, a ponto de acreditar que possa comprometer sua própria reeleição.





Fontes tucanas consultadas pelo Estado de Minas no fim de semana evitaram especular o resultado da reunião de hoje, mas não escondem que Bruno Araújo levará mais de uma alternativa para o caso de Doria admitir deixar a disputa em favor de Tebet. A vaga de vice ou um cargo de relevância na estrutura partidária são exemplos citados, apesar da oposição de uma ala do partido, liderada pelo deputado federal Aécio Neves (MG).

Mesmo assim, o deputado mineiro foi uma das vozes que, na última reunião da cúpula tucana, semana passada, defendeu o diálogo com Doria antes de qualquer tomada de decisão. “Nós não podemos superar uma etapa sem ouvir o candidato João Doria, vencedor das prévias”, disse, na ocasião. À imprensa, Aécio denunciou que o ex-governador de São Paulo está sendo vítima de “traição” dentro do partido, em referência às articulações entre Garcia e Araújo para consolidar o poder do atual governador na montagem dos palanques locais.

Mas Aécio também prefere ver Doria longe de qualquer perspectiva de poder. Para o grupo ligado ao deputado, o senador Tasso Jereissati seria o melhor nome, não só para compor chapa com Tebet, mas, também, para eventualmente substituir João Doria caso o PSDB decida seguir com candidatura própria, uma tese que vem ganhando adeptos entre tucanos pró e contra o atual pré-candidato.





O ex-governador, por sua vez, vai rebater com o argumento de que ele tem o direito de, ao menos, se apresentar ao eleitorado. Internamente, queixa-se de que não tem conseguido se dedicar integralmente à pré-campanha. Com a possibilidade de judicializar qualquer ato da Executiva que não respeite o resultado das prévias, Doria espera que a decisão sobre os nomes da terceira via fique para mais perto das convenções nacionais, a partir de meados de julho.

O nome da senadora Simone Tebet (MDB) ganha força como uma candidatura de consenso do PSDB, Cidadania e MDB (foto: Jefferson Rudy/Agência Senado %u2013 8/12/21 )

Apoios raros 

No fim de semana, João Doria recebeu mais um apoio público, do deputado federal Vitor Lippi (SP). Em uma rede social, ele publicou nota dirigida à Executiva Nacional, em que se diz surpreso com a decisão da cúpula de apoiar Tebet, desrespeitando as primárias do PSDB que aprovaram o nome de Doria. “Então, vamos desconsiderar as prévias democráticas? O PSDB, pela primeira vez, não terá candidato?”, questionou o deputado, que concluiu a nota com um pedido de “respeito e diálogo”.

Na sexta-feira passada, o pré-candidato já havia recebido a solidariedade do ex-governador de Goiás Marconi Perillo, que não poupou críticas à direção do PSDB. O respeito às prévias também foi defendido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, há duas semanas.




Pesquisas 

O principal argumento usado para tirar o pré-candidato da disputa é o entendimento de que ele não teria mais condições de reverter as taxas de rejeição que as pesquisas apontam, em níveis semelhantes às dos líderes da corrida eleitoral Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) – que busca a reeleição.

Desde que os três partidos da terceira via anunciaram que seguiriam os indicativos de uma pesquisa interna –  apresentada na semana passada –, Doria vem se insurgindo contra esse critério. E vai expor aos caciques tucanos os argumentos que considera relevantes e que não estariam sendo observados pelo partido. Além da legitimidade das prévias e do currículo vitorioso nas duas eleições que disputou, Doria aparece à frente de Tebet em todas as pesquisas disponíveis, com o dobro das intenções de voto – segundo o último levantamento do Ipespe, Doria tem 4%, contra 2% de Tebet.