Jornal Estado de Minas

EM ENTREVISTA

Kalil critica Zema e diz que governador nada fez por Belo Horizonte

O ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, pré-candidato do PSD ao governo de Minas, não esconde de ninguém que a questão social deverá ser o ponto principal da sua campanha. A estratégia será colar sua imagem à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT ao Planalto, e passar a mensagem de que ele, Kalil, é o candidato que vai lutar pelos mais pobres, enquanto o governador Romeu Zema (Novo), seu principal adversário, representa a elite.





Kalil foi o terceiro dos pré-candidatos ao governo de Minas e à Presidência da Repúbica a participar do EM Entrevista. Prefeito de BH entre 2017 e 2022,  ele abordou diversos temas, mas a questão social foi central, e também fez muitas críticas ao governo Zema. Afirmou que o governador tem alta influência de empresários e “milionários”, até “bilionários” – uma “elite estúpida e ignorante”.

Segundo ele, Zema é “um rei que reina, mas não governa, não manda”. Ao mesmo tempo, Kalil diz que o principal rival na disputa não tem cuidado com a população mais carente. “Vamos mostrar ao povo de Minas o que virou o estado de Minas Gerais”, enfatizou.

Outros pontos, como a composição de chapa entre PT e PSD em Minas, foram abordados. Kalil, empresário antes de entrar na vida política e de se tornar personalidade pública a partir da influência no Clube Atlético Mineiro entre os anos 1990 e 2010 (presidiu o Galo de 2008 a 2014), revelou nunca ter votado em Lula porque “não votava no PT”.





Como foi feito o acordo com Lula e o PT e como estão as pendências para definir a chapa?
 

Nós, desde o início, dissemos, sem o menor constrangimento, que o nosso campo pela polarização era caminhar com o presidente Lula. Mas a política tem legitimidade de candidatos, tem leis que impedem dois candidatos, que impedem que uma coligação tenha mais de um, então há entraves. Como ando dizendo, estava muito cedo quando começaram a fazer campanha dois anos atrás. Tínhamos que amadurecer e amadurecemos. Ainda não está concluído, o PT tem o trâmite que temos que respeitar. O PSD, que ocupa hoje cadeira do Senado, a presidência do Congresso e a Prefeitura de Belo Horizonte, com o Fuad, é um partido grande também. Então, está tudo sendo conversado. O importante já está resolvido, e estamos conversando e vai estar tudo resolvido.

O presidente da Assembleia, Agostinho Patrus, que seria o seu vice, foi “rifado”?
 
Agostinho Patrus ficou me convencendo a ceder o lugar dele durante um mês, e falei que não cederia. Ele ficou me pedindo para sair, essa é a verdade dos fatos. E falei que não aceitaria, que ele era o candidato que eu gostaria de ter. E passou um mês dessa encrenca quando, no fim de semana, ele me ligou e falou assim: 'Olha, acabei de me reunir com minha mulher e meus irmãos. Quero me reunir com você na segunda-feira'. Me deu uma onda ruim, falei que ele vai sair. E foi quando ele colocou que iria abrir mão para a coligação ser feita. Bom, você vai abrir mão, o cargo é seu, porque não costumo dar e tirar nada de ninguém. Então, o cargo de vice é seu. Se você quer dar esse lugar ao Lula, então vamos marcar reunião em São Paulo e você entrega, porque o cargo não é meu, não posso entregar o que não é meu. E assim foi feito, ele foi lá e entregou ao presidente Lula uma possibilidade de coligação, foi muito bem recebido pelo presidente, mas é bom esclarecer que quem entregou a vaga de vice ao presidente Lula foi o próprio Agostinho.

Há uma conversa para que o André Quintão (PT) ocupe esta vaga?
 
Conheci o deputado André Quintão em meu escritório agora, quando saí da prefeitura. Devo tê-lo visto uma ou duas vezes. Esse é um assunto que o PT vai tratar. Obviamente, é vice-governador. Então, vice-governador não é um senador, não é um deputado. É um cara que vai trabalhar com o candidato ao governo e no governo de Minas. É lógico que vai passar pelo PT, mas tem que passar pelo governador, porque é um cargo para exercer poder, de extrema confiança do governador.





O senhor tem alguma preferência?
 
Quem está tratando disso é quem era o dono do cargo. É muito importante falar que o Agostinho é o coordenador da campanha, continua como coordenador da campanha, e neste caso específico é ele quem está tratando desse assunto com o PT.

O senhor já foi inimigo político de Lula, mas hoje caminha em aliança com ele. O senhor foi convidado ao casamento dele? Como está essa amizade?
 

Não, nunca fui inimigo dele, não. Claro que não fui convidado. Foram 150 pessoas. Claro que eu gostaria, qualquer casamento com boca-livre é bom. Mas o caso é o seguinte, nunca fui inimigo do presidente Lula, nunca falei uma palavra desrespeitosa, aliás, nem com o presidente Lula, nem com o presidente Bolsonaro. Tenho divergências, e tive com os dois, mas respeito os dois. Quando falei que não queria que colassem estrela do PT no meu peito era porque o presidente Lula estava na televisão em campanha para a Prefeitura de Belo Horizonte contra mim. Nós fomos adversários políticos. Agora, eu sempre o respeitei, antes do acordo disse em quem votaria no primeiro turno. Então, tenho um conforto muito grande com minha forma de pensar. Quem pensa em rico, quem pensa só em coisa de milionário, que abandona a pobreza, que acha que Minas Gerais não tem pobre, que não tem gente precisando, que acha que o Norte de Minas não precisa fazer nada lá, ou que o Triângulo é muito rico e não precisa de nada, que o Sul de Minas também é muito rico e não precisa de nada, enfim. Belo Horizonte só não foi abandonada porque nós não deixamos ela ser abandonada, mas (foi abandonada) financeiramente pelo governo do estado. Fui prefeito por cinco anos e 84 dias, foi um fiasco (de recursos do governo para a PBH), foi zero. Apesar de muita gente por trás de microfone tentar desqualificar o ex-prefeito de Belo Horizonte, a população sabe que fizemos tudo sozinhos. Tudo que foi feito nesta cidade foi feito pela prefeitura, por uma equipe extraordinária que tinha um modo de pensar. Governar é cuidar, governar é cuidar. Estava lendo hoje, entre prefeituras e estados, a que mais ajudou na época da pandemia os alunos de escola fundamental e escola infantil foi a Prefeitura de Belo Horizonte. Demos uma cesta básica para cada aluno fora da escola, e hoje existe um estudo da deficiência alimentar desses alunos que sofreram na pandemia. E mais, que queria acrescentar. 'Ah, porque o Kalil fechou escola, estava errado, tinha que abrir tudo'. Quero comunicar à população de Belo Horizonte, de Minas Gerais inteiro, que Goiás está fechando escola hoje, e que São Paulo está fechando escola hoje, porque abriram antes da hora, e estão voltando a exigir máscara. Agora, vão aparecer que as crianças passaram fome e que as escolas tinham que ter, realmente, muito cuidado para ser reabertas.

Em 2016, o senhor disse que PT e PSDB destruíram a nação. O que mudou de lá pra cá?
 

O que aconteceu com PT e com PSDB foi destruição da nação mesmo. O que temos que ver é o seguinte: a situação que o presidente Lula deixou o Brasil e a situação que a presidente Dilma deixou o Brasil são completamente diferentes. Isso não sou eu quem fala, são números, isso é matemática. Não tenho dúvida de que isso aconteceu. Está todo mundo se recolocando no mundo, e a eleição é muito simples, eleição é o seguinte: você tem que ter um lado. Nós temos dois candidatos viáveis, te dou um aqui, de primeira mão. Eu fui apoiador explícito do Ciro Gomes no primeiro turno da eleição presidencial. Aliás, ganhou em Belo Horizonte, aliás, ganhou em Belo Horizonte do PT. Fui contra a candidatura ao Senado da presidenta Dilma com o Carlos Viana, pedi licença da prefeitura, trabalhei para ele. Ganhamos também do PT. Então, quero dizer, o que faz aliança na política é coerência e respeito. O que eu não vou fazer é abraçar um presidente da República quatro anos e, quando ele cai na pesquisa em Minas, tentar chutar a bunda dele. Isso é muito feio. Meu pai me ensinou isso, amigo não se larga pelo caminho. “Ah, mas ele não trouxe nada para Minas Gerais”, exatamente, porque não pediram nada para Minas Gerais. O que o governador está fazendo é que é muito feio. Estou muito à vontade, porque nunca fui eleito por favor de Bolsonaro, como teve o 'BolsoZema' para se eleger. O Lula nunca me abraçou para me eleger a nada, ele não me deve nada, que eu nunca o apoiei em nada, nem em Belo Horizonte nem em Minas Gerais, e ele nunca me apoiou. Estamos fazendo uma aliança nova, e de mais a mais, eu não sou clone do Lula, não. Eu sou Alexandre Kalil, e tenho uma vida de cuidar das pessoas, que coincide com o presidente Lula, e tenho muita divergência com todos os políticos deste país. Eu penso como eu penso, e quero ser respeitado por isso. Não quero ser achincalhado, não quero ser esculhambado na rede social. Não, não quero não, que eu estou cagando e andando. Não quero que isso seja um defeito ou uma qualidade. É o seguinte: governar é cuidar das pessoas. Se o presidente Lula acha isso, porque me disse pessoalmente, quem não acha que governar é cuidar das pessoas não vai a lugar nenhum. E é por isso que eu me identifico com o presidente Lula, vou caminhar com ele, não tenho o menor constrangimento, porque sempre tive essa tendência de cuidar de gente, de cuidar de quem precisa, de cuidar de pobre. Então, o meu adversário é o da Fiemg, é o dos milionários, é dos bilionários,  tudo bem. Sou contra. Mineração, empresariado e tudo tem que gerar imposto. Mas tem que ter juízo para tocar, pegar esse dinheiro e investir, porque estamos num estado que passou, em quatro anos, de dois milhões e setecentos mil pessoas abaixo da linha da pobreza para quase quatro milhões de pessoas.





Como o senhor viu a questão da Serra do Curral? A Prefeitura de BH também foi criticada. O que dizer a respeito?
 

Isso é canalha, antes de tudo, isso é muito cafajeste. Quando eu saí da Prefeitura de Belo Horizonte, mesmo quando o atual prefeito está lá, esse assunto (mineração da Tamisa na Serra do Curral) não passou na porta da prefeitura. Nunca, nem votado no Copam ainda estava. Nem autorizado ainda estava. E se tivesse tramitado dentro da Prefeitura de Belo Horizonte, porque gente, deixa eu explicar uma coisa para a população de Minas Gerais: minha briga com a Fiemg não é porque eles me acham feio, não. É porque esse tipo de coisa da Serra do Curral eles tentaram fazer com empreendimento no Belvedere, tenho muita coisa para falar, eu não quero falar, tentaram muita coisa desse nível dentro da Prefeitura de Belo Horizonte. E lá não teve guarida, e não terá, porque conheço o Fuad (Noman). Agora, isso nunca esteve no cardápio. O mesmo direito que a prefeitura tinha de adivinhar esse assunto, a Câmara Municipal tinha, o Estado de Minas tinha, o grupo Uai tinha, qualquer cidadão podia. Agora, passou dentro da Prefeitura de Belo Horizonte isso? Não, é mentira gente, é canalhice, é sacanagem. A Duda Salabert diz que levou o questionamento relativo a isso. Vou desmentir ela pela segunda vez, tive oportunidade numa rádio de desmentir ela. Vou desmentir de novo. Ela nunca foi tratar dessa mineração na vida, nunca ouvi falar dessa mineração na vida. Ela foi tratar sim, com a turma da UFMG, de uma área da Vale do Rio Doce que atingiu os mananciais de Belo Horizonte. Então, ela mentiu. Estive reunido, é só reunir na UFMG com quem tratou desse assunto, e perguntar se nós estávamos tratando desse assunto na reunião longa. Isso não é verdade, disse e repito: fiquei muito magoado, muito magoado. Porque era assunto da Vale do Rio Doce, de uma região que ainda não está explorada, e que se explorar vai atingir os mananciais de Minas Gerais. E não é em Belo Horizonte. Falei: esperem que vou ser governador de Minas, e quando eu for eu resolvo.

E no caso da Tamisa, como o senhor se coloca?
 

Sou completamente contra, é um assunto pouco debatido, tratado na calada da noite e agora é um desastre atrás do outro, é cada entrevista mais desastrosa. Outro dia estava assistindo à televisão, “é igual construir uma casa própria”. Ou o governador é louco, ou não tem ideia do que é construir uma casa e quer dar uma licença para a mineração. Isso é de uma birutice absoluta. Temos que pontuar um negócio sem demagogia: a mineração, o nosso estado já fala, é Minas Gerais. A mineração é vital para nosso estado, é só cuidar com juízo. No dia em que o governo mandar na mineração, e não os mineradores. Eu fui surpreendido, não tenho espião não, eu leio jornal, eu não tenho equipe israelense para investigar nada, não, como a Fiemg gosta de falar que tem israelense, que tem a moçada trabalhando para ela, para assustar todo mundo, que é uma mentirada, são um bando de incompetentes. Mas deu no jornal que a nova presidente do Iepha é primo de primeiro grau do diretor-executivo da Tamisa. Eu li hoje (segunda-feira). Estão brincando com coisa séria, só isso. Senhor governador, o senhor não fez nada para Belo Horizonte, nada. Quando foi assinar lá a Teresa Cristina, falou, ‘agora tem prefeito’. Está parado, sendo sabotado por vossa excelência no Palácio Tiradentes há seis meses. Esperou eu sair da prefeitura, um sabotador. E agora nós assinamos. O projeto está pronto, já estava tudo pronto, a prefeitura estava com dinheiro separado para fazer a parte dela, o governador não fez nada. Única coisa que ele fez para Belo Horizonte foi essa 'maravilha' dessa autorização, que a Fiemg e ele mandaram dar, os milionários, para acabar com a cidade, com a vida de Belo Horizonte.

O senhor é a favor de mineração, mas não próxima à cidade?
 
Não, qualquer mineração. Porque Brumadinho aconteceu o que aconteceu, Mariana aconteceu o que aconteceu. Tem que ter governo, nós temos hoje um rei que reina, mas não governa. Não manda. Quem vai ser o vice? O vice vai ser quem a Fiemg escolher, é o deputado federal do PP, que eu não quero falar nome. É o que a Fiemg quer, todo mundo já sabe. Fiemg fala ‘olha, vice é o seguinte, fulano de tal do PP, que nos defendeu, que foi regiamente compensado para atrapalhar prefeitura, para negar o Vilarinho, para fazer tudo para tentar avacalhar o prefeito de Belo Horizonte. Agora, você vai ganhar seu prêmio, você vai ser o vice do Zema’. ‘Não, mas o meu vice, ‘não, seu vice, você não manda nada. Quem manda somos nós aqui, que estamos governando’. É isso que está acontecendo, é o pobre passando o que está passando na mão dos milionários, sem a maior sensibilidade social para nada. E falam assim: ‘Uai, está falando de sensibilidade social, prefeito?’. Ex-prefeito, desculpa. Estou, porque tenho provas, tenho números dentro da minha prefeitura, tenho números do que é cuidar da gente, o que é tratar de gente, o que é ligar para pobre, o que é ter empatia.





Por que aumentou a população de rua de BH?
 

A Prefeitura de Belo Horizonte é proibida de tirar morador de rua por uma decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Talvez se a oposição, essa mesquinha e idiota lá da Fiemg, do empresariado, dos milionários, soubessem, que a prefeitura não pode tirar morador de rua. Não pode recolher aquela bagulhada que está por uma decisão de desembargador do Tribunal de Justiça, que nós íamos conversar, eu acho que o Fuad vai conversar. Até isso a gente sofre. Quando entrei com ação forte para resolver isso, a Justiça impediu. Agora, não é higienizar, não. É gente, não é gato, cachorro, passarinho, não. Até o gato do parque nós tivemos que pegar um por um, chipar, e vacinar contra a raiva. Imagina gente, que está na rua, e não está na rua à toa não. Isso foi uma decisão, que está em vigor, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. É importante, como jornalistas, todo mundo apurar isso, porque se não joga a responsabilidade em cima da gente, em cima do Fuad, em cima do prefeito que estiver lá.

O que dizer ao eleitorado que não conhece o Kalil?
 
Em qualquer pesquisa onde se conhece os dois, eu ganhei a eleição. Pesquisa agora também não adianta muito não, mas em qualquer uma, em todas. Mas isso não importa, o que importa é o seguinte: eu vou mostrar o que nós fizemos na prefeitura. É como fazer, porque não adianta fazer uma declaração, agora tem o seguinte, o marqueteiro falou o seguinte: ‘Não mente mais não, porque o Kalil não vai deixar. O Kalil, agora, largou a prefeitura, está por conta da sua mentira’. Ontem (domingo), ele falou que as estradas do Brasil, de Minas Gerais, estão iguais às estradas da Ucrânia. O governador falou que as estradas de Minas, que é uma malha de quase 30 mil quilômetros, ou 27 mil, estão iguais às estradas da Ucrânia. Não são só as estradas não, os 11 hospitais que o senhor abandonou estão também. Tem mais coisa do que as estradas. E tem mais, tem dois culpados para isso: ou o carro que passa na estrada, ou o governador do estado, que não arrumou. Temos que mudar, para dar conta de resolver o estado, humanizar, cuidar de pobre, de gente.

No seu programa, a questão salarial tem qual prioridade?
 
Isso não é prioridade, isso é planejamento. Salário não é. Não vai entrar no meu programa de governo pagar salário em dia. Programa de governo é infraestrutura e saúde, é isso que nós vamos. ‘Meu programa de governo é o seguinte, vamos pagar salário’. Já viu contar, na história desse estado, programa de governo, de pagar salário? Não, programa de governo é mostrar como vamos arrumar essa infraestrutura, como é que nós vamos voltar o MG, o Pró-MG pleno, o Pró-MG sem ser pleno, não sabem não, não sabem fazer não. O Pró-MG pleno era aquele que cuidava de uma malha rodoviária e te entregava por quatro anos e você tinha que dar atenção, além de recapear. ‘Não vai ter tapa-buraco mais não, vai ter recapeamento’. É claro que vai ter recapeamento. Senhor governador, não vai ter recapeamento não, vai ter que arrancar o pavimento todo. Anota aí, porque seu secretário de Infraestrutura não sabe, vai ter que refazer subleito, sub-base, base, depois botar capa. Porque está tudo destruído, não tem recapeamento com pavimento destruído, não. Cuidado, viu? Não vai fazer mais bobagem que já fez. (O governo Zema) não sabe fazer um hospital. Juntaram a competência do pessoal do empresariado, da elite, com governo eficiente e espetacular, e fizeram um hospital de 700 leitos que nunca entrou um doente. E nós vamos mostrar ao povo de Minas o que virou o estado de Minas Gerais. É mostrando. ‘Mas você vai falar que vai fazer o quê?’. Nada, vou fazer o que fiz em Belo Horizonte, é isso que vou mostrar. Vou mostrar o que fizemos na cidade, porque é uma cidade que é maior que muito estado no Brasil, temos experiência de mostrar o que foi feito.





Este Kalil é o mesmo que tentou a primeira vez a eleição para BH, em 2016?
 

Diferente, conheci a miséria e a pobreza. Pouca gente tem oportunidade de conhecer miséria e pobreza quando entram lá dentro, conheci o valor desse funcionalismo público absolutamente abnegado e brilhante. Falo isso sem o menor constrangimento, não é para ter voto, não sou desse tipo. Vi, primeiro, o que foi o servidor público na pandemia, porque tem que ir para a frente da guerra, não pode ir para debaixo da cama não. Tem que enfrentar a guerra para você ver o que é uma enfermeira, o que é um médico, um atendente, um policial militar fechando boate clandestina, a Guarda Municipal ajudando, toda prefeitura trabalhando em conjunto com fiscalização, tudo isso. Esqueceram, eles esquecem rápido que mataram, que esse Brasil perdeu 630 mil pessoas, 630 mil famílias enlutadas, porque aqui a memória é meio curta. Aprendi, não sou o mesmo não, primeiro aprendi o que é pobreza, e aprendi que posso ajudar a pobreza, posso cuidar desse povo. Segundo, quando entrei no futebol, tinha muita raiva de me chamar de cartola, aí virei cartola e um cartola importante. Porque era um cartola nacionalmente conhecido. E hoje eu não sou um político importante não, mas sou um político, e um político de bem, que sei a função da política na vida pública.

O senhor é melhor administrador ou melhor político?
 
Não sou o melhor em nada, sou humano, tenho coração. Isso me torna um político um pouco melhor. O bom político é o que cuida dessa pobreza que está precisando. ‘Ah, mas a cesta básica é ruim’. Aí, falou essa frase absolutamente brilhante, bom é emprego. Mas isso o cachorrinho lá de casa sabe, não precisa ser governador para saber não, o cachorrinho sabe, mas se não tiver emprego, gente, não pode deixar povo passando fome. Não pode comer sopa de osso, não pode cozinhar no fogão a lenha, não pode se queimar com álcool. Não pode ver uma criança que não tem um pedaço de carne para comer. Tem que falar da cervejinha, sim. É importante ir para a laje, queimar uma carne. Porque, estava dizendo o seguinte: essa elite estúpida e ignorante, que é pouca, que não é ela toda não. É você virar para esse cara e falar: ‘Sua casa vai ficar quatro anos sem televisão, sem ar-condicionado, você vai andar a pé e vão tomar o seu carro’. 'Ah, não tem problema, sou muito altruísta, não tem problema'. É isso o que estão fazendo com o povo, com o povo de Minas e com o povo do Brasil.

O senhor teve muitas secretárias. Num eventual governo, qual será o espaço da mulher?
 

Eu não tive mulheres na secretaria porque eram mulheres. Tive porque elas eram melhores que os homens. Espero arrumar uma equipe de mulheres brilhantes, como na prefeitura, melhor que os homens. Foram mulheres brilhantes, que agradeço muito, mas não tenho muito essa preocupação não. Pus muita mulher na prefeitura porque são muito boas de serviço, elas olham, xingam, e outra coisa: minhas secretárias mais mandonas foram as mulheres. Eu falava que era para mandar mesmo, e os homens colocavam o rabo entre as pernas e saíam miando da sala dela.





Municipalização do Anel Rodoviário e o aeroporto da Pampulha. Como governador, dá para entrar nesses assuntos?
 

O Anel eu pedi a municipalização, e outra coisa que a população precisa saber: a obra de escape que está sendo feita lá, que a prefeitura não podia fazer, eu liguei para o ministro Tarcísio (de Freitas), agora pré-candidato ao governo de São Paulo, e pedi a ele para assumir a obra. Porque os projetos já eram da Prefeitura de Belo Horizonte. Quando saí da prefeitura, já deveria estar terminando, larguei a obra de escape do Anel numa invasão ao governo federal, autorizada pelo ministro da Infraestrutura, praticamente pronta. Aquilo foi obra que pedimos ao governo federal para fazer os projetos e pagar a obra, porque senão ia demorar muito. A municipalização, não foi não cumprir promessa, foi porque o governo federal não quis entregar o anel. E do aeroporto, a mesma coisa. Fizeram, entregaram para o governo de Minas, que privatizou a toque de caixa para matar aquela região. Não há projeto no governo. Não há projeto de nada. Está lá, foi entregue com a promessa de que ia privatizar. Privatizou. Ganhou Confins. Nem sei o nome daquela empresa lá, que tem por objetivo liquidar o Aeroporto da Pampulha para que Confins continue, naquela lonjura toda, com aquela estrutura horrível. A pior estrutura do Brasil é essa estrutura de Confins, na minha opinião. E não venham me rebater. Acho uma porcaria aquele aeroporto, então vão matar um aeroporto. É o único estado que não pode ter dois aeroportos. Rio tem, São Paulo tem, Minas Gerais não pode, porque Minas Gerais se apequenou a esse ponto.

E o Rodoanel Metropolitano, como você se posiciona em relação a ele?
 
O Rodoanel tem que pegar aquilo, picar, botar num triturador, jogar fora e voltar a conversar com aquilo. Você faz um Rodoanel, no século 21, com pista dupla? Aquilo ali é o que disse, infraestrutura. Esse secretário veio para olhar o Rodoanel, vamos lá, é número: o que está estimado em pedágio no Rodoanel é 1.116% maior do que a Fernão Dias. É a indústria do bilionário, não estão preocupados com Rodoanel. Pegaram o dinheiro ensanguentado da Vale, porque não sei como vão fazer, porque temos que viabilizar dinheiro para saúde. Temos que acampar em Brasília e arrancar, como arranquei quando era prefeito. Espero que não tenha que soterrar 300 pessoas por ano, por cada quatro anos, para fazer um governo. Isso é o que espero. Vamos trabalhar esse assunto, conversar esse assunto, porque quando saiu o projeto do Anel e disse que não adiantava correr para fazer política com Anel, que não ia dar certo, quase fui massacrado. Não saiu do papel, está judicializado porque não houve conversa, não houve mesa para resolver esse assunto.

O senhor disse que abriria a caixa-preta do transporte público em BH. O senhor acha que foi feito o que gostaria de fazer?
 
O primeiro projeto de extinção da BHTrans é meu, eu que mandei o projeto para a Câmara. Eu não abri a caixa-preta não, eu passei a chave na BHTrans, eu acabei com ela. Segundo: está aí a prova cabal que é um problema nacional. Prefeito de Belo Horizonte está sofrendo com isso, o de São Paulo está sofrendo, o do Rio está sofrendo, Curitiba está sofrendo. E deixei um projeto, que foi sabotado dentro da Câmara por alguns, por alguns, não vamos generalizar, de abaixar a passagem. Era só a Câmara aprovar que a população de Belo Horizonte já estava pagando R$ 4,20. Tínhamos condições de resolver o problema naquela época. Retomaram, foi, voltou, porque há um palanque grande, cretino, canalha, sem vergonha, que não está preocupado com o povo. Se tivesse preocupado com povo, isso já tinha, estou até falando muito cretino, canalha, desculpa gente, mas fico com raiva desse negócio de não aprovar um projeto que abaixa a passagem, que a prefeitura tem o dinheiro, ia subsidiar, e foi sabotado por parte da câmara de vereadores.





Qual a relação com o Ciro Gomes agora?
 
Eu tenho liberdade, sou independente. Gosto do Ciro, gosto da esposa dele, Gisele, tenho consideração por ele, o recebi na prefeitura mais de uma vez, mas não tenho nenhum compromisso com o Ciro, eu não tenho. A posição do Ciro hoje me incomoda? Me incomoda, como candidato, me incomoda um pouco. A virulência, estamos falando aqui de Rodoanel, de falta de investimento em pobreza, de não dar vale-transporte, de abandonar o estado, mas ninguém está falando da vida de ninguém. Eu sou capaz, ninguém escutou eu falar uma palavra da vida pessoal de A ou B do governo. Estou falando de incompetência administrativa. Acho que estou um pouco amolado, e tenho direito de estar, também não estou ligando ou não, se está preocupado ou não, do jeito virulento que está levando essa campanha pelo lado do meu amigo Ciro Gomes. Se eu tivesse oportunidade de bater um papo mais longo com ele, eu iria dizer que todo mundo tem pai, todo mundo tem mãe, todo mundo tem filho, todo mundo tem neto. Nós temos que preservar um pouco, ter cuidado com a vida pessoal das pessoas.

Vai ser a primeira vez que o senhor votará no Lula?
 

Vai. E eu disse isso a ele.

O senhor se arrepende de nunca ter votado no Lula?
 
Não arrependi não, mas ele fez um ótimo segundo mandato, tanto que elegeu a Dilma (Rousseff). Eu não votava porque eu não votava no PT, mas tive uma vantagem. Quando conheci ele, eu falei: ‘Muito prazer, Alexandre Kalil’. Ele falou: ‘Muito prazer, Lula’. E eu falei: ‘Nunca votei no senhor’. Foi a primeira frase que falei para ele. Aí ele assim: ‘Agora, você vai votar’. Eu falei: ‘Vamos ver’.