O ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, pré-candidato do PSD ao governo de Minas, não esconde de ninguém que a questão social deverá ser o ponto principal da sua campanha. A estratégia será colar sua imagem à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT ao Planalto, e passar a mensagem de que ele, Kalil, é o candidato que vai lutar pelos mais pobres, enquanto o governador Romeu Zema (Novo), seu principal adversário, representa a elite.
Segundo ele, Zema é “um rei que reina, mas não governa, não manda”. Ao mesmo tempo, Kalil diz que o principal rival na disputa não tem cuidado com a população mais carente. “Vamos mostrar ao povo de Minas o que virou o estado de Minas Gerais”, enfatizou.
Outros pontos, como a composição de chapa entre PT e PSD em Minas, foram abordados. Kalil, empresário antes de entrar na vida política e de se tornar personalidade pública a partir da influência no Clube Atlético Mineiro entre os anos 1990 e 2010 (presidiu o Galo de 2008 a 2014), revelou nunca ter votado em Lula porque “não votava no PT”.
Como foi feito o acordo com Lula e o PT e como estão as pendências para definir a chapa?
O presidente da Assembleia, Agostinho Patrus, que seria o seu vice, foi “rifado”?
Agostinho Patrus ficou me convencendo a ceder o lugar dele durante um mês, e falei que não cederia. Ele ficou me pedindo para sair, essa é a verdade dos fatos. E falei que não aceitaria, que ele era o candidato que eu gostaria de ter. E passou um mês dessa encrenca quando, no fim de semana, ele me ligou e falou assim: 'Olha, acabei de me reunir com minha mulher e meus irmãos. Quero me reunir com você na segunda-feira'. Me deu uma onda ruim, falei que ele vai sair. E foi quando ele colocou que iria abrir mão para a coligação ser feita. Bom, você vai abrir mão, o cargo é seu, porque não costumo dar e tirar nada de ninguém. Então, o cargo de vice é seu. Se você quer dar esse lugar ao Lula, então vamos marcar reunião em São Paulo e você entrega, porque o cargo não é meu, não posso entregar o que não é meu. E assim foi feito, ele foi lá e entregou ao presidente Lula uma possibilidade de coligação, foi muito bem recebido pelo presidente, mas é bom esclarecer que quem entregou a vaga de vice ao presidente Lula foi o próprio Agostinho.
Há uma conversa para que o André Quintão (PT) ocupe esta vaga?
Conheci o deputado André Quintão em meu escritório agora, quando saí da prefeitura. Devo tê-lo visto uma ou duas vezes. Esse é um assunto que o PT vai tratar. Obviamente, é vice-governador. Então, vice-governador não é um senador, não é um deputado. É um cara que vai trabalhar com o candidato ao governo e no governo de Minas. É lógico que vai passar pelo PT, mas tem que passar pelo governador, porque é um cargo para exercer poder, de extrema confiança do governador.
O senhor tem alguma preferência?
Quem está tratando disso é quem era o dono do cargo. É muito importante falar que o Agostinho é o coordenador da campanha, continua como coordenador da campanha, e neste caso específico é ele quem está tratando desse assunto com o PT.
O senhor já foi inimigo político de Lula, mas hoje caminha em aliança com ele. O senhor foi convidado ao casamento dele? Como está essa amizade?
Em 2016, o senhor disse que PT e PSDB destruíram a nação. O que mudou de lá pra cá?
E no caso da Tamisa, como o senhor se coloca?
O senhor é a favor de mineração, mas não próxima à cidade?
Não, qualquer mineração. Porque Brumadinho aconteceu o que aconteceu, Mariana aconteceu o que aconteceu. Tem que ter governo, nós temos hoje um rei que reina, mas não governa. Não manda. Quem vai ser o vice? O vice vai ser quem a Fiemg escolher, é o deputado federal do PP, que eu não quero falar nome. É o que a Fiemg quer, todo mundo já sabe. Fiemg fala ‘olha, vice é o seguinte, fulano de tal do PP, que nos defendeu, que foi regiamente compensado para atrapalhar prefeitura, para negar o Vilarinho, para fazer tudo para tentar avacalhar o prefeito de Belo Horizonte. Agora, você vai ganhar seu prêmio, você vai ser o vice do Zema’. ‘Não, mas o meu vice, ‘não, seu vice, você não manda nada. Quem manda somos nós aqui, que estamos governando’. É isso que está acontecendo, é o pobre passando o que está passando na mão dos milionários, sem a maior sensibilidade social para nada. E falam assim: ‘Uai, está falando de sensibilidade social, prefeito?’. Ex-prefeito, desculpa. Estou, porque tenho provas, tenho números dentro da minha prefeitura, tenho números do que é cuidar da gente, o que é tratar de gente, o que é ligar para pobre, o que é ter empatia.
Por que aumentou a população de rua de BH?
O que dizer ao eleitorado que não conhece o Kalil?
Em qualquer pesquisa onde se conhece os dois, eu ganhei a eleição. Pesquisa agora também não adianta muito não, mas em qualquer uma, em todas. Mas isso não importa, o que importa é o seguinte: eu vou mostrar o que nós fizemos na prefeitura. É como fazer, porque não adianta fazer uma declaração, agora tem o seguinte, o marqueteiro falou o seguinte: ‘Não mente mais não, porque o Kalil não vai deixar. O Kalil, agora, largou a prefeitura, está por conta da sua mentira’. Ontem (domingo), ele falou que as estradas do Brasil, de Minas Gerais, estão iguais às estradas da Ucrânia. O governador falou que as estradas de Minas, que é uma malha de quase 30 mil quilômetros, ou 27 mil, estão iguais às estradas da Ucrânia. Não são só as estradas não, os 11 hospitais que o senhor abandonou estão também. Tem mais coisa do que as estradas. E tem mais, tem dois culpados para isso: ou o carro que passa na estrada, ou o governador do estado, que não arrumou. Temos que mudar, para dar conta de resolver o estado, humanizar, cuidar de pobre, de gente.
No seu programa, a questão salarial tem qual prioridade?
Isso não é prioridade, isso é planejamento. Salário não é. Não vai entrar no meu programa de governo pagar salário em dia. Programa de governo é infraestrutura e saúde, é isso que nós vamos. ‘Meu programa de governo é o seguinte, vamos pagar salário’. Já viu contar, na história desse estado, programa de governo, de pagar salário? Não, programa de governo é mostrar como vamos arrumar essa infraestrutura, como é que nós vamos voltar o MG, o Pró-MG pleno, o Pró-MG sem ser pleno, não sabem não, não sabem fazer não. O Pró-MG pleno era aquele que cuidava de uma malha rodoviária e te entregava por quatro anos e você tinha que dar atenção, além de recapear. ‘Não vai ter tapa-buraco mais não, vai ter recapeamento’. É claro que vai ter recapeamento. Senhor governador, não vai ter recapeamento não, vai ter que arrancar o pavimento todo. Anota aí, porque seu secretário de Infraestrutura não sabe, vai ter que refazer subleito, sub-base, base, depois botar capa. Porque está tudo destruído, não tem recapeamento com pavimento destruído, não. Cuidado, viu? Não vai fazer mais bobagem que já fez. (O governo Zema) não sabe fazer um hospital. Juntaram a competência do pessoal do empresariado, da elite, com governo eficiente e espetacular, e fizeram um hospital de 700 leitos que nunca entrou um doente. E nós vamos mostrar ao povo de Minas o que virou o estado de Minas Gerais. É mostrando. ‘Mas você vai falar que vai fazer o quê?’. Nada, vou fazer o que fiz em Belo Horizonte, é isso que vou mostrar. Vou mostrar o que fizemos na cidade, porque é uma cidade que é maior que muito estado no Brasil, temos experiência de mostrar o que foi feito.
Este Kalil é o mesmo que tentou a primeira vez a eleição para BH, em 2016?
O senhor é melhor administrador ou melhor político?
Não sou o melhor em nada, sou humano, tenho coração. Isso me torna um político um pouco melhor. O bom político é o que cuida dessa pobreza que está precisando. ‘Ah, mas a cesta básica é ruim’. Aí, falou essa frase absolutamente brilhante, bom é emprego. Mas isso o cachorrinho lá de casa sabe, não precisa ser governador para saber não, o cachorrinho sabe, mas se não tiver emprego, gente, não pode deixar povo passando fome. Não pode comer sopa de osso, não pode cozinhar no fogão a lenha, não pode se queimar com álcool. Não pode ver uma criança que não tem um pedaço de carne para comer. Tem que falar da cervejinha, sim. É importante ir para a laje, queimar uma carne. Porque, estava dizendo o seguinte: essa elite estúpida e ignorante, que é pouca, que não é ela toda não. É você virar para esse cara e falar: ‘Sua casa vai ficar quatro anos sem televisão, sem ar-condicionado, você vai andar a pé e vão tomar o seu carro’. 'Ah, não tem problema, sou muito altruísta, não tem problema'. É isso o que estão fazendo com o povo, com o povo de Minas e com o povo do Brasil.
O senhor teve muitas secretárias. Num eventual governo, qual será o espaço da mulher?
Municipalização do Anel Rodoviário e o aeroporto da Pampulha. Como governador, dá para entrar nesses assuntos?
E o Rodoanel Metropolitano, como você se posiciona em relação a ele?
O Rodoanel tem que pegar aquilo, picar, botar num triturador, jogar fora e voltar a conversar com aquilo. Você faz um Rodoanel, no século 21, com pista dupla? Aquilo ali é o que disse, infraestrutura. Esse secretário veio para olhar o Rodoanel, vamos lá, é número: o que está estimado em pedágio no Rodoanel é 1.116% maior do que a Fernão Dias. É a indústria do bilionário, não estão preocupados com Rodoanel. Pegaram o dinheiro ensanguentado da Vale, porque não sei como vão fazer, porque temos que viabilizar dinheiro para saúde. Temos que acampar em Brasília e arrancar, como arranquei quando era prefeito. Espero que não tenha que soterrar 300 pessoas por ano, por cada quatro anos, para fazer um governo. Isso é o que espero. Vamos trabalhar esse assunto, conversar esse assunto, porque quando saiu o projeto do Anel e disse que não adiantava correr para fazer política com Anel, que não ia dar certo, quase fui massacrado. Não saiu do papel, está judicializado porque não houve conversa, não houve mesa para resolver esse assunto.
O senhor disse que abriria a caixa-preta do transporte público em BH. O senhor acha que foi feito o que gostaria de fazer?
O primeiro projeto de extinção da BHTrans é meu, eu que mandei o projeto para a Câmara. Eu não abri a caixa-preta não, eu passei a chave na BHTrans, eu acabei com ela. Segundo: está aí a prova cabal que é um problema nacional. Prefeito de Belo Horizonte está sofrendo com isso, o de São Paulo está sofrendo, o do Rio está sofrendo, Curitiba está sofrendo. E deixei um projeto, que foi sabotado dentro da Câmara por alguns, por alguns, não vamos generalizar, de abaixar a passagem. Era só a Câmara aprovar que a população de Belo Horizonte já estava pagando R$ 4,20. Tínhamos condições de resolver o problema naquela época. Retomaram, foi, voltou, porque há um palanque grande, cretino, canalha, sem vergonha, que não está preocupado com o povo. Se tivesse preocupado com povo, isso já tinha, estou até falando muito cretino, canalha, desculpa gente, mas fico com raiva desse negócio de não aprovar um projeto que abaixa a passagem, que a prefeitura tem o dinheiro, ia subsidiar, e foi sabotado por parte da câmara de vereadores.
Qual a relação com o Ciro Gomes agora?
Eu tenho liberdade, sou independente. Gosto do Ciro, gosto da esposa dele, Gisele, tenho consideração por ele, o recebi na prefeitura mais de uma vez, mas não tenho nenhum compromisso com o Ciro, eu não tenho. A posição do Ciro hoje me incomoda? Me incomoda, como candidato, me incomoda um pouco. A virulência, estamos falando aqui de Rodoanel, de falta de investimento em pobreza, de não dar vale-transporte, de abandonar o estado, mas ninguém está falando da vida de ninguém. Eu sou capaz, ninguém escutou eu falar uma palavra da vida pessoal de A ou B do governo. Estou falando de incompetência administrativa. Acho que estou um pouco amolado, e tenho direito de estar, também não estou ligando ou não, se está preocupado ou não, do jeito virulento que está levando essa campanha pelo lado do meu amigo Ciro Gomes. Se eu tivesse oportunidade de bater um papo mais longo com ele, eu iria dizer que todo mundo tem pai, todo mundo tem mãe, todo mundo tem filho, todo mundo tem neto. Nós temos que preservar um pouco, ter cuidado com a vida pessoal das pessoas.
Vai ser a primeira vez que o senhor votará no Lula?
O senhor se arrepende de nunca ter votado no Lula?
Não arrependi não, mas ele fez um ótimo segundo mandato, tanto que elegeu a Dilma (Rousseff). Eu não votava porque eu não votava no PT, mas tive uma vantagem. Quando conheci ele, eu falei: ‘Muito prazer, Alexandre Kalil’. Ele falou: ‘Muito prazer, Lula’. E eu falei: ‘Nunca votei no senhor’. Foi a primeira frase que falei para ele. Aí ele assim: ‘Agora, você vai votar’. Eu falei: ‘Vamos ver’.