Parte destes nomes optaram por viabilizar suas candidaturas em outros contextos. É o caso do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro. Agora filiado ao União Brasil, Moro confirmou, na última quarta-feira (25/5) que é pré-candidato ao Senado por São Paulo. Em entrevista à CNN, comentou a possibilidade.
“Estou no União Brasil construindo o meu espaço. Hoje, estou como pré-candidato ao Senado aqui em São Paulo. Claro que isso vai depender de eu tomar uma decisão definitiva quanto a isso, e o próprio partido. Mas, em princípio, a posição é essa”, disse. Seu atual partido já anunciou que lançará o deputado Luciano Bivar (União-PE) como candidato. A oficialização da candidatura ocorrerá no próximo dia 31, em Brasília.
Último postulante a desistir, João Doria (PSDB) anunciou, no dia 23, que não seria mais pré-candidato à Presidência da República. O ex-governador enfrentava grande resistência do partido para que ele concorresse ao Planalto. "Me retiro da disputa com a alma leve", afirmou, na ocasião.
Doria não disse qual será o seu destino na política e nem no PSDB. Mas afirmou que acredita nas decisões do partido. "O PSDB saberá tomar a melhor decisão", disse. No último dia 26, o ex-governador publicou em seu twitter que estará de férias ao longo da semana, e que, apenas após o descanso, pensará em seus próximos passos. “Viajo hoje com a Bia para uma semana de descanso. Na volta tomarei a decisão sobre meu futuro na vida pública ou na iniciativa privada”, escreveu.
Outro postulante da terceira via que jogou a toalha foi o presidente do Congresso Nacional, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Em discurso no Plenário do Senado Federal em março, Pacheco destacou que o país enfrenta graves crises, e que dedicará toda a energia para “conduzir o Senado neste ano fundamental para a tão ansiada recuperação do nosso país”.
O também senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), que assim como Pacheco se colocava como um postulante da terceira via, também desistiu. Ao trocar de partido, o parlamentar informou que não haveria possibilidade de manter sua candidatura — e agora se apresenta como pré-candidato ao governo do Sergipe, cujo lançamento da pré-candidatura será oficializado na segunda-feira (30/5).
“Não existe nenhuma possibilidade de permanência na disputa pela Presidência da República, isso já é passado nessa trajetória política que eu venho exercendo”, disse, em entrevista à CNN no mês de março.
Restam, ainda, na chamada terceira via, as candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). Ciro sempre rebate com ironia aos questionamentos em torno de sua candidatura, da qual já afirmou que não irá desistir. No início de maio, Zé Dirceu (PT) afirmou que a candidatura petista poderá retirar Ciro da corrida, e ainda completou afirmando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ganhar as eleições no primeiro turno caso o pedetista deixe o pleito.
Em seu Twitter, Ciro respondeu: "Me ajudem aqui! Quem é esse Zé Dirceu que tá falando? É aquele que planejou e executou o mensalão e o petrolão?", questionou Ciro. O pré-candidato disse ainda que Dirceu nunca teve influência sobre o PDT, e "muito menos" na sua candidatura.
Quanto à Simone Tebet, controvérsias não faltaram em torno das pesquisas encomendadas pelas diretorias do PSDB, do MDB e do Cidadania para viabilizar uma candidatura única de terceira via. A senadora chegou a afirmar, antes da desistência do ex-governador paulista, que se for escolhida como a cabeça de chapa da terceira via manteria a candidatura, mesmo que Doria e seu partido rejeitassem a decisão.
Na última semana, a Executiva Nacional do MDB reforçou a indicação de Tebet à Presidência da República. O mesmo foi feito pela Executiva Nacional do Cidadania. Já o PSDB tem reunião agendada para o próximo dia 2. Só depois do debate interno é que será revelado se a sigla apoiará a senadora ou se indicará outro nome.
Ainda há espaço?
Para o professor de Ciência Política na IDP Rafael Cortez as desistências vem na esteira de um mercado fechado para a eleição presidencial. “Esses nomes são menos uma avaliação de seus altos capitais políticos, e mais um projeto alternativo a Lula e a Bolsonaro. Boa parte da opinião pública enxerga a polarização, e essas desistências por conta dela, como um déficit do sistema brasileiro. Particularmente não compartilho dessa leitura, pois a não competitividade de uma terceira via não quer dizer um vício do sistema eleitoral”, opina.
Cortez avalia que nem todas essas figuras possuem chance de disputar eleições majoritárias. O professor acredita que tais nomes têm relevância para eleições legislativas. “Podem ter votação expressiva, contribuindo até para aumento de bancada”, diz.
Mas, para aquelas candidaturas de terceira via que se mantém, o objetivo pode não ser o pleito de 2022. “É muito mais pensando no longo prazo do que propriamente uma chance real de vitória em 2022. Esse raciocínio é especialmente válido para a senadora Tebet, que pode usar essa eleição para aumentar o capital político para uma próxima. Os demais nomes talvez considerem fazer algum efeito de puxar votos nas eleições legislativas. No caso do União Brasil, até mesmo apresentar o partido para o país”, sugere Cortez.
Para a professora na Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas (FGV) Graziella Testa, o partido aposta no capital político gerado pela candidatura de Bivar. “O União sabe que a candidatura de Bivar não tem peso e não tem relevância. O objetivo é usar depois esse capital político. O União Brasil tem um recurso estrondoso, vai ter uma uma campanha muito gorda, e devem usar esse capital político para depois tentar compor o governo. Não estranhe se caso Lula vencer, o União Brasil escolher compor a base”, apostou Graziella.
A professora resume em três grandes objetivos as candidaturas nanicas da terceira via. “Por um lado o candidato pode enfim vir a ser eleito presidente, que é o mais evidente. Em segundo lugar, pode usar a campanha para projetar o seu nome tanto no nível estadual quanto no nível nacional para outro futuro político. O terceiro motivo, é que o nosso presidencialismo de coalizão precisa que vários partidos apoiem o presidente na formulação de políticas públicas, para apoiar sua agenda no congresso. Então, por mais que o candidato não ganhe no primeiro turno, no segundo turno ele pode vir a apoiar alguém e, portanto, formar governo, conseguir um cargo bom no governo, ter participação nos ministérios”, apontou.