Jornal Estado de Minas

ENTREVISTA/RENATA REGINA

Pré-candidata do PCB ao governo de MG quer rever tributação sobre mineração



Depois de se unir ao Psol na eleição belo-horizontina de 2020 e no pleito estadual de 2018, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) trabalha para ter chapa própria ao governo mineiro. A pré-candidata escolhida pelo partido, Renata Regina, é estudante de jornalismo e atua como doula, auxiliando mulheres em processo de parto. A despeito da união do PT a Alexandre Kalil (PSD) contra Romeu Zema (Novo), ela enxerga semelhanças entre os líderes das pesquisas. “Zema é ultraliberal, mas Kalil também é neoliberal. Talvez em um grau menor, mas também avançou em processo de privatizações e retirada de direitos”, disse, em entrevista ao podcast Estado de Minas Entrevista. “Neste momento, somos pelo ‘fora, Kalil’ e pelo ‘fora, Zema’”, garante. Renata defende ampliação do combate à violência contra a mulher e chama Zema de “genocida”. “Não há outro nome para chamar esse senhor”, aponta ela, defensora da estatização da mineração. Ela diz também que a mineração deve voltar ao controle estatal.





O que o PCB espera alcançar com sua pré-candidatura?
Mesmo com dificuldades e poucos recursos — não recebemos financiamento de empresários —, estamos conseguindo crescer a pré-campanha. Fiquei em quarto lugar na primeira pesquisa que participei, com 3,6%, menos de 1% atrás do terceiro colocado, que está em um nicho de pré-candidatos milionários. Mesmo com todo um bloqueio, quando aparece a opção de uma mulher, trabalhadora e comunista, as pessoas demonstram intenção de voto. A pré-campanha e a campanha vão contribuir para o processo de organização e luta dos trabalhadores em Minas. É um dos nossos objetivos. Quero chegar ao segundo turno, estou trabalhando, mas ciente das dificuldades.

Minas Gerais enfrenta grave situação financeira. Como aliviar o problema?
Somos totalmente contra o Regime de Recuperação Fiscal proposto por Zema. Esse regime não dá conta de alcançar o equilíbrio fiscal e avançar em políticas públicas. Há caminhos como rever a política tributária. Existe uma absurda política de isenção. O governo diz estar quebrado, mas abre mão de mais de R$ 6 bilhões em arrecadação. Não se pode ter política de isenção a empresas e a quem tem lucro enquanto é preciso aumentar a arrecadação. Precisamos rever, também, a tributação sobre a mineração, que deve ser retomada ao controle estatal. Não podemos deixar um bem estratégico ser escoado para garantir o interesse do capital internacional. Defendemos, também, a construção de parques tecnológicos para fortalecer o processo científico. Investindo nisso, há perspectiva de geração de empregos e fortalecimento de educação e saúde.

A senhora mira o segundo turno, mas as pesquisas indicam disputa entre Zema e Kalil. Se isso acontecer, o que o PCB fará?
Neste momento, somos pelo ‘fora, Kalil’ e pelo ‘fora, Zema’. Já éramos ‘fora, Kalil’ quando ele era prefeito de BH. Como militante e dirigente do PCB, vou debater isso junto à base e à direção do partido. Ainda não há definição ou discussão. Trabalhamos para chegar ao segundo turno e conseguir bom resultado para Sofia Manzano, nosso nome à presidência.





Lideranças de partidos à esquerda que estão com Kalil, como PT e PCdoB, apontam que Zema é ultraliberal e representa projeto econômico similar ao de Bolsonaro. O PCB não cogita, em um segundo turno, optar por ir contra a reeleição do governador?
Zema é ultraliberal, mas Kalil também é neoliberal. Talvez em grau menor, mas também avançou em processo de privatizações e retirada de direitos. Ele não garantiu o pagamento do piso salarial da educação. Nas últimas campanhas, fez promessas e falou mentiras que não foram cumpridas. Em 2016, Kalil se comprometeu a abrir a Maternidade Leonina Leonor, em Venda Nova, e a tornar BH a capital do parto humanizado. Mas ele avançou no processo de destruição da maternidade. Não houve avanço no combate aos reajustes abusivos de tarifas. Se ele, na prática, não cumpre o que apresenta para avanço nas condições de vida dos trabalhadores, não entendemos porque se tornaria uma alternativa a Zema. 

Na semana passada, uma mulher invadiu um evento com Zema e o chamou de ‘genocida’ apontando fragilização do combate à violência contra a mulher. A senhora concorda?
A pandemia gerou aumento da violência contra as mulheres — e não só a violência de âmbito doméstico. O governo não implementou medidas encaminhadas pela Assembleia para esse enfrentamento. O governador não perde a oportunidade de fazer uma declaração machista. Isso, inclusive, é outra forma de violência contra a mulher. Ajuda a perpetuar o pensamento que diz, de uma forma ou outra, que é legítimo bater em mulher em determinados contextos. Ele falou, no ano passado que, às vezes, mulheres que se separam não se conformam e passam a perseguir seus maridos.

A senhora considera Zema ‘genocida’?
Minas foi o estado que menos investiu na saúde no pior ano da pandemia. É sintomático. Os índices de feminicídio também cresceram. Há políticas pontuais para atender grupos pequenos de mulheres, que não representam nem um terço da demanda reprimida por esses serviços. Não há outro nome para chamar esse senhor que se encontra no governo. Ele chegou facilitando o licenciamento de mineração sendo que, no primeiro ano de gestão, tivemos um crime socioambiental absurdo, que ceifou muitas vidas e impactou o estado e o país. Não é porque, proporcionalmente, nossos números não são tão assustadores em relação ao país, ainda sim tivemos muitas mortes e uma péssima condução no enfrentamento à pandemia. Zema, ao reproduzir a linha política do governo genocida de Bolsonaro, se torna um genocida.